Este atropelo que acompanha o dia das mães me faz pensar em maneiras de festejar datas. Os costumes se transformam e, quando a gente vê, tudo está bem diferente do que era. No meu tempo de criança, por exemplo, as datas vinham pintadas com outras tintas.
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Naquele tempo, datas eram lembradas, sim. Dia do padroeiro da comunidade, dia da pátria, dia das mães, dia do professor, etc, mas, de forma peculiar. No caso do dia das mães, o ônus dos festejos recaía mais sobre as escolas do que sobre o bolso dos personagens envolvidos – como progressivamente foi acontecendo.
As escolas se viam numa boa sinuca para festejar com dignidade. Obviamente as datas se repetiam todos os anos e, por isso mesmo, haja imaginação para inventar alguma coisa nova! Escreviam-se redações, declamavam-se poesias, ensaiavam-se canções, bailados, recitavam-se jograis.
Havia preocupação com o traje mais apropriado para subir ao palco. Para tanto, os recursos empregados não iam muito além de enfeites em papel crepom ou do empréstimo de peças. Em geral, em matéria de empréstimo, os amigos eram convocados. Também, não havia lá grandes exigências: “todos de camisa branca”, por exemplo. Outro ponto importante era confeccionar cartões – desenhar, pintar, colar, recortar – depois achar uma frase legal e escrever com a letra caprichada. Os resultados podiam ser magros. Era consenso que a intenção valia mais do que o produto.
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A ideia de dar e receber presentes não ganhara ainda o relevo que ganhou depois. Comprar dois copos decorados e juntar um cartão de próprio punho era uma opção considerada boa.
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Hoje em dia, o pessoal pode não saber qual presente dar, mas sabe que duas opções estão à frente. Ou vai a campo com o tempo necessário para vasculhar lojas e achar algo inusitado ou compra algo assim na marra, só para se desincumbir.
Seja como for, é importante não falhar neste quesito.
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Não estou fazendo julgamentos. O elogio ao que se foi mostra mais o saudosismo de quem fala do que outra coisa. As antigas apresentações de escola podiam ser fatigosas para as partes envolvidas. Nem sempre a performance era espetacular e os cartões, desenhados com a pressão do prazo, tampouco mereciam um lugar em galeria de arte. No fundo, tudo meio parecido com o compra-compra de hoje em dia, que tem igualmente os seus limites.
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Ao que parece, o traço compulsório das comemorações é o que melhor resiste. E resiste à custa da espontaneidade e da inocência que, aliás, nunca se ajeitam muito bem com as festas ensaiadas.