Depois de seis meses de aplicações regulares do biolarvicida BTi (Bacillus thuringiensis var. israelenses), o programa de controle de simulídeos, o popular e incômodo borrachudo, terá um período de vazio em Arroio do Meio. Segundo o responsável técnico do programa no município, o engenheiro agrônomo do escritório local da Emater/RS-Ascar, André Michel Müller, a parada ocorre todos os anos e evita que o borrachudo adquira resistência ao produto. Visa também evitar o desperdício já que entre maio e setembro as condições climáticas são desfavoráveis à proliferação de simulídeos. No verão 2020/2021 a primeira aplicação ocorreu em 14 de outubro. Foram oito ao todo, sendo a última em 1º de abril. No início da primavera, o BTi volta a ser aplicado, conforme diagnóstico das vistorias epidemiológicas.
O programa de controle do borrachudo existe no município há mais de 20 anos e nunca foi interrompido. Até pouco tempo era desenvolvido pela Emater local em parceria com a secretaria municipal de Agricultura. Com a adesão do município ao Programa Estadual, a questão passou a ser de responsabilidade da Secretaria Municipal de Saúde, que segue o trabalho em conjunto com a Emater. A secretaria coordena a política do Programa, que inclui aquisição do BTi e apoio na entrega aos aplicadores, a elaboração de fichas epidemiológicas e divulgação. A Emater faz a parte técnica, que inclui o monitoramento de larvas, cálculo das quantidades e distâncias de aplicação, apoio na entrega do Bti e instrução aos aplicadores.
A aplicação do biolarvicida é feita de forma voluntária por 70 aplicadores treinados, espalhados nas localidades banhadas por arroios ou córregos que integram o programa. Alguns participam de todas as aplicações, enquanto outros se revezam. São 60 pontos de aplicação.
O borrachudo se desenvolve em maior escala no meio rural, mas também pode ocorrer na área urbana. Ao contrário de outras espécies, suas larvas são depositadas em água corrente e se alimentam de sólidos que se decompõem na água, como folhas secas e matéria orgânica dissolvida.
André ressalta que o biolarvicida é considerado o último recurso no combate ao borrachudo. O primeiro seria a sensibilização, conscientização e recuperação dos arroios e o segundo são medidas mecânicas, como passar uma vassoura, esponja ou esfregão nas pedras onde as larvas se prendem e se desenvolvem. São atitudes que toda a comunidade pode auxiliar, sem depender apenas do trabalho voluntário do aplicador do BTi.
Além disso, lembra Müller, o BTi é um produto caro, custando por volta de R$ 140 o litro e são utilizados entre 10 e 20 litros por etapa. Por isto, é utilizado somente nos meses em que a proliferação do borrachudo é maior para não desperdiçar recursos públicos. Considera também que o uso excessivo pode provocar algum tipo de resistência, o que seria uma lástima, especialmente para a população rural que sofre os maiores impactos do borrachudo.
Ambiente equilibrado
Para André, o simulídeo é um indicador de desequilíbrio ambiental. O inseto ocorre na natureza sem maiores prejuízos quando o ambiente está em equilíbrio. À media em que o ambiente vai se desequilibrando, se prolifera de forma acentuada, causando incômodo ao ser humano e animais domésticos.
A poluição de arroios e córregos, especialmente a partir de dejetos de animais e esgoto não tratados, é um fator que favorece a propagação do borrachudo. Além de fornecer matéria orgânica para a alimentação das larvas, a poluição reduz consideravelmente a incidência de seus predadores naturais, como o peixe cascudinho e as larvas de libélulas. A redução da mata ciliar é mais um agravante. Isto porque sem ela há poucos predadores que fazem o controle do borrachudo, permitindo com que este voe para mais longe.
Para o engenheiro agrônomo, o período é oportuno para refletir sobre a preservação e recuperação dos arroios. Observa que quanto mais desenvolvida a sociedade, menos lixo produz, tendo um ambiente mais equilibrado.
André avalia que no período de existência do programa de controle de simulídeos houve muitos avanços em termos ambientais no município. Desde a conscientização das comunidades, mutirão de limpeza de arroios, o recolhimento do lixo seco no interior, até avanços na legislação ambiental e mecanismos de preservação, como a coleta de embalagens de agrotóxicos. Na questão dos dejetos de animais, frisa que houve uma revalorização e hoje os produtores usam como fertilizantes nas lavouras. Ajustes em pocilgas permitiram que o dejeto seja menos líquido e sua aplicação como adubo se torne mais vantajosa. “A questão da legislação ambiental passou a não ser mais vista apenas como um custo, mas também como algo que pode trazer algum retorno financeiro”, destaca.