As restrições da bandeira preta, definida pelo Governo do Estado na sexta-feira, e com validade pelo menos até o domingo, dia 7, estão longe de serem aceitas por unanimidade. Apesar do caos que vive a saúde, com um número crescente de casos de covid-19 e superlotação em hospitais e falta de leitos de UTI, alguns segmentos se consideram profundamente prejudicados com as medidas adotadas pelo Estado, em detrimento a outros, que podem trabalhar praticamente de forma normal.
O comércio considerado não essencial, como bazares, lojas de vestuário, calçados, móveis, eletrodomésticos, cosméticos e perfumes, entre outros, não podem trabalhar com portas abertas. Podem fazer apenas tele atendimento sem a possibilidade de o cliente retirar o produto na porta da loja. Já o comércio considerado essencial, o que inclui supermercados, padarias, açougues, lojas de material de construção, óticas, farmácias, entre outros, podem atender de forma presencial, seguindo as regras de distanciamento.
Para o presidente da CDL de Arroio do Meio, Tiago d’Avila Neumann, o tele trabalho e o tele atendimento praticamente inviabilizam as vendas. Considera que, na semana passada, o comércio não essencial pelo menos tinha a possiblidade de trabalhar, mesmo com restrições. Possibilidade que foi tirada nesta semana com a bandeira preta, sem cogestão das regiões.
O empresário lembra que o momento já era difícil, pelos reflexos do ano passado, quando muitos comerciantes tiveram de fazer financiamentos bancários na tentativa de se equilibrar mas, agora, para um segundo momento, o cenário é ainda mais desafiador. “As contas vêm e o pessoal está se assustando. Nós esperamos que isso passe logo também, porque não sei se o comércio, o não essencial, vai aguentar. Muitas coisas estão abertas, os bancos, os Correios, as repartições públicas, os mercados. Tudo funcionando. Então não sei até que ponto isso vai evitar a circulação de pessoas. E só o comércio não essencial fechado?”.
A crítica ao modelo adotado pelo Estado é endossada por entidades como a FCDL-RS e a Fecomércio, que pressionam o governo de Eduardo Leite por flexibilizações. Tiago pontua que os pequenos comerciantes são os mais prejudicamos, visto que as lojas de grandes redes, na sua maioria, estão abertas porque vendem material de construção. “Só os pequenos sofrem e acabam pagando a conta. Esperamos que, para a semana que vem, se consiga uma flexibilização, uma coisa para conseguirmos trabalhar. Porque senão não sei se os pequenos vão aguentar mais uma jornada dessa de semanas fechados e restrições. Aguardamos para que, ao menos, tenha alguma compreensão do governo. Todo mundo sabe desde o começo que o comércio não é o causador da pandemia, mas ao mesmo tempo é o mais é penalizado”.
Outro ponto que o presidente da CDL observa é que não houve restrições a festas, aglomerações e ao veraneio nas praias. “Nada disso foi restrito. Sem falar da política. Foi uma brincadeira aquilo que fizeram nas eleições, em meio à uma pandemia. Foi o que impulsionou essa segunda e terceira onda, que agora os feriados e verão, a praia, só potencializaram ainda mais. O pessoal está fazendo festa à vontade praticamente, e depois quem paga a conta é o comércio. Isso é uma coisa muito triste. Toda a classe lojista do Estado está bastante revoltada, a Federação (FCDL-RS) também muito indignada com isso. Só que nós não temos o poder. Temos que seguir as regras e estamos seguindo, respeitando, porque a saúde é o mais importante, sempre em primeiro lugar. Só que fica chato. A gente está sempre seguindo as regras, é uma classe que desde o começo implantou o uso de máscara, álcool gel, distanciamento, tudo nas regras e as outras que não as seguem continuam. E também não há fiscalização”.
Para a próxima semana, Tiago e toda a classe lojista, aguardam por mudanças no protocolo estadual, para que possam retomar suas atividades. “Nem que seja com restrições, mas que possamos de alguma maneira trabalhar para podermos manter os negócios, porque senão vai ter muita gente fechando de novo. Tem gente que não vai aguentar essa segunda onda de restrições específicas que penalizam o comércio enquanto muitas outras áreas estão abertas”.