O calçadista José Antônio Farias, conhecido como Mato Grosso, era só desolação na sexta-feira à tarde. Morador da rua Coronel Zimmermann, teve uma surpresa muito desagradável ao retornar para casa pela manhã, após a água baixar. Além de perder todos os pertences, a estrutura do telhado foi danificada pela força da água.
Olhando o cenário, com móveis, eletrodomésticos, roupas e utensílios destruídos pela enchente e a lama alta sobre o piso, entre lágrimas, questionava: “Por onde eu começo?”. A geladeira foi parar em cima de um móvel. No quarto, cama e roupeiro, foram tomados pela lama. Na sacada um conjunto de estofados. “Eu nem tinha sentado nesse sofá ainda. Era novo”.
Desolado, Mato Grosso, disse que a água veio muito rápido, e que jamais imaginava que chegaria ao segundo pavimento. Justamente por isso, o local recebeu muitos objetos de vizinhos que, assim como ele, perderam praticamente tudo. O que não foi embora, a correnteza destruiu ou, no caso de eletrônicos e eletrodomésticos, a recuperação é praticamente impossível depois de molhar. “É muito triste. Saímos com a roupa do corpo. Uma vida trabalhando certinho para conseguir as coisas e aí acontece isso”, desabafou. Nos 30 anos que mora em Arroio do Meio, disse que nunca viu uma enchente deste porte.
Depois de vários dias trabalhando na chuva, e a própria água fria da enchente fizeram com que José Antônio precisasse atendimento médico na noite de sexta-feira. Buscou o Hospital São José onde foi medicado e liberado.
Na manhã de terça-feira, enquanto aguardava na fila do Cras para se habilitar ao recebimento de móveis e eletrodomésticos, contou que precisaria de mais dois dias de trabalho para deixar a casa em ordem. Mesmo sem a estrutura ideal, já retornou para sua casa. Até então estava alojado na Igreja Evangélica Assembleia de Deus, cujos membros e a comunidade, forneceram refeições e café para os vizinhos.
Enxoval perdido
Uma das vizinhas que tinha a esperança de salvar algumas coisas na casa de José Antônio era Tânia Regina. Ela, que mora praticamente na frente, guardou parte do enxoval da casa nova na casa do amigo. Mas não adiantou. Na sexta à tarde, praticamente entre a lama, conseguiu recuperar algumas taças. Outros pertences foram levados para a casa de uma cunhada, na rua acima. Lá, surpreendentemente, a água também chegou ao segundo pavimento. “Perdi bastante coisa, mas sou jovem, tenho trabalho e posso reconquistar os bens materiais. Também tenho amigos que já se prontificaram a me ajudar. Vou me virar com o que sobrou”, afirmou, salientando que até o fim do ano deve mudar-se para sua casa, em outro bairro, distante da possibilidade de enchente.