A estiagem e a pandemia provocada pelo novo coronavírus têm impactado a cadeia produtiva do agronegócio, do campo até a indústria. Mas, apesar dos desafios impostos, o setor tem a vantagem de produzir alimentos, um item de primeira necessidade e que mantém a economia de muitos municípios, tanto na produção como na indústria, gerando empregos e renda.
Em entrevista ao AT, o presidente da Cooperativa Languiru, Dirceu Bayer fala sobre o momento desafiador e sobre as medidas que a cooperativa vem adotando para dar continuidade à produção. Mesmo com um cenário que exige adequações de todos os tipos, a Languiru projeta um ano positivo, com a possibilidade de superar o faturamento de R$ 1,7 bilhão.
AT– Vivemos um 2020 atípico, com a estiagem, covid-19 e enchente que atingiram profundamente a saúde e a economia. Como a Languiru vem enfrentando a situação?
Presidente Dirceu Bayer – De fato, o ano de 2020 apresenta uma série de desafios. Iniciamos com a estiagem, que afetou a produção no campo, com a quebra da safra do milho e da soja; seguimos com a pandemia da covid-19, exigindo a adaptação de todos a uma nova realidade; e agora, mais recentemente, a enchente, deixando muitas famílias desabrigadas.
Numa situação totalmente atípica na nossa história de 65 anos, a pandemia está causando uma série de impactos em todos os segmentos. São números, orientações e notícias que mudam frequentemente, ao mesmo tempo em que as mudanças de hábitos de consumo abrem espaço para novas oportunidades. Algumas experiências vieram para ficar, outras serão momentâneas.
O mercado, de forma geral, experimenta uma queda de demanda em quase todas as linhas de produtos, com maior incidência em produtos Premium. Na retomada do consumo, será essencial ter no mix, produtos com preços ajustados ao poder de compra dos consumidores. Cabe salientar que toda a cadeia de produção terá que ajustar custos e margens ao novo cenário, começando pela produção primária, passando pelos fornecedores de insumos, a indústria, a logística e o varejo.
O resultado econômico da Languiru também é afetado, muito em virtude da redução do poder de compra do consumidor, além do aumento do custo de produção. Apesar disso, a expectativa de crescimento segue, mas um pouco menor se comparado ao que desenhávamos antes de tudo isso.
A maior dificuldade ocorre nas indústrias a partir das restrições impostas pela pandemia, especialmente nos frigoríficos. Diversas foram as medidas adotadas, com a implantação de protocolos de segurança e higienização, seguindo as legislações e orientações, municipais, estaduais e nacionais. A Languiru estruturou uma grande força tarefa interna, contratamos mais médicos, técnicos de segurança e técnicos de enfermagem para esse momento de pandemia. Muitos funcionários foram remanejados para outras funções de equipe de apoio. Também tivemos que readequar a força de trabalho dentro dos frigoríficos e até adequar o mix produtivo para esse momento, um esforço muito grande das equipes.
Estamos fazendo nossa parte no trabalho de prevenção e atenção especial à comunidade em geral, às famílias de associados e funcionários. A Languiru movimenta toda uma região e esse procedimento preventivo impacta diretamente na saúde pública e na economia, demonstrando nosso respeito às pessoas e a região como um todo. É uma responsabilidade muito grande que assumimos.
Valorizamos o ser humano, estando ao lado das pessoas nos momentos bons e ruins. O cooperativismo é diferente e busca estender a mão ao próximo, atitudes simples e capazes de levar mais qualidade de vida à sociedade.
AT – Quais são as perspectivas da empresa para o segundo semestre e início de 2021?
Presidente Dirceu Bayer – A economia, de um modo geral, vive um momento conturbado. Ainda assim, o desempenho do agronegócio é positivo, especialmente a suinocultura, comprovando a decisão acertada da Languiru em investir nesse segmento. Também ampliamos as instalações do nosso Frigorífico de Aves, que poderá duplicar a sua capacidade de abate, atendendo demandas do mercado interno e externo.
A diversidade de negócios dá sustentabilidade à cooperativa. O primeiro semestre, em situações normais, costuma trazer dificuldades, inclusive em termos de resultados, mas a Languiru tem apresentado resultado positivo, o que nos dá indicativos de um ano muito bom, apesar de todas as adversidades. Estamos no caminho certo, sempre investindo e possibilitando que os associados cresçam junto com a cooperativa da qual são donos.
A expectativa é de que, aos poucos, o consumo volte a subir, e o sentimento é de otimismo para o segundo semestre. Neste momento, o negócio da suinocultura está em alta, com perspectiva de bons resultados. A atividade leite se mantém estável, mas também com resultados importantes. A maior dificuldade, atualmente, está na avicultura, mas estamos buscando habilitação para exportação a outros mercados internacionais, especialmente da China, que remunera melhor o produto brasileiro e atualmente passa por sério problema de abastecimento, com a falta de alimentos.
Existem oportunidades de mercado que nos fazem acreditar que o segundo semestre será melhor. Em plena crise, a nossa expectativa é de que a Languiru ainda cresça em torno de 20%, com a possibilidade de superarmos o faturamento de R$ 1,7 bilhão.
AT – O que as autoridades e sociedade podem fazer para amenizar os efeitos da crise?
Presidente Dirceu Bayer – O governo brasileiro deve promover ações que reativem a economia brasileira, muito fragilizada com essa soma de adversidades. A Languiru segue com a missão de alimentar gerações com segurança e cuidado em toda a cadeia até a mesa do consumidor. Juntos, seguimos em frente, com todas as adequações necessárias. Por natureza, somos muito motivados e, se a crise existe, ela existe para todos. Vencem os que estão melhor estruturados e com gestão profissional de todas as suas atividades. Tenho a certeza de que, na retomada, sairemos muito mais fortes desse episódio, com mão firme e serenidade para o avanço do nosso projeto.