A estatística é um ramo da matemática fundamental na sociedade. É ela que fornece diretrizes importantes, seja na economia, em termos sociais ou na saúde, por meio de coleta, análise e interpretação de dados numéricos. Quem explica a função das estatísticas é a doutora em Ambiente e Desenvolvimento, Fernanda Cristina Wiebusch Sindelar, também formada em Ciências Econômicas e que atua na Univates, especialmente no Centro de Gestão Organizacional.
AT– Neste momento de pandemia, qual a importância da estatística como ferramenta de combate ao vírus e à doença e também como balizadora da economia?
Fernanda Cristina Wiebusch Sindelar – Independente do momento, a estatística tem um papel primordial no planejamento e na tomada de decisão, pois fornece informações que contribuem para que as decisões sejam mais acertadas.
No caso da pandemia, como é uma mutação nova de um vírus, quando iniciaram os primeiros casos, não tínhamos informação alguma sobre a nova doença, e o monitoramento e o levantamento de informações tornaram-se primordiais para que as ações de combate pudessem começar a ser adotadas, envolvendo tanto indicadores acerca de tratamentos (medicamentos), como velocidade de propagação de contágio, impactos causados pela doença no organismo das pessoas, como nas regiões em que a doença se proliferou, entre outros.
Desde então, todas as políticas de combate à doença que têm sido utilizadas pelos governos de maneira em geral, também foram embasadas em estudos epidemiológicos. A partir de modelos matemáticos foi possível estimar os casos da doença em diferentes cenários, auxiliando os tomadores de decisão sobre as necessidades requeridas para o tratamento, como por exemplo, o número de vagas em Unidades de Terapia Intensiva (UTI), assim como, as medidas de isolamento social contribuíram para que as cidades, estados e países pudessem se organizar e preparar a infraestrutura necessária para receber os novos casos. Além disso, hoje sabemos em tempo real, estatísticas atualizadas da doença, com número de pessoas contaminadas, óbitos, regiões de proliferação de mais ou menos casos, entre outros, e podemos cruzar essas informações com as políticas adotadas pelos governantes para avaliar o que foi mais eficaz e menos eficaz no combate a doença.
AT– Desde o início da pandemia no Brasil, a comparação de dados com outros países tem sido frequente e com análises diversas. Como a senhora vê esta comparação? O que deve se levar em consideração ao compararmos dados de diferentes nações, estados ou municípios?
Fernanda Cristina Wiebusch Sindelar – Entendo que a comparação é válida, mesmo sabendo que cada país/região tem suas peculiaridades em termos de clima, sistema produtivo, grau de urbanização, … podemos utilizar informações provenientes de outras regiões para estimar as necessidades locais. A doença começou a se proliferar em dezembro/janeiro no hemisfério Norte, e sabíamos que quando o inverno chegasse ao Brasil, os casos poderiam se intensificar aqui também. Outro exemplo, por ser associado ao tipo de produção, no mundo inteiro, cidades/regiões em que existem frigoríficos de abate de animais instalados, tiveram uma maior incidência de casos, em comparação a outras regiões, onde as pessoas se aglomeram menos em ambientes industriais; o mesmo foi observado em regiões onde as pessoas usam mais transporte público.
Quanto às informações que devem ser consideradas, quanto mais utilizarmos, melhor, já que o nível de confiança das informações será maior e a chance de erro ou uso de políticas ineficazes será menor. Para tanto, conforme já mencionado na questão anterior, quanto mais informações dispormos tanto sobre a doença (sintomas, tempo e tratamento, necessidades de infraestrutura médica-hospitalar, formas para identificar a presença da doença, …), como sobre as medidas que vêm sendo adotadas pelos governos / empresas …. Por exemplo, estudos comprovaram que regiões que adotaram antecipadamente o isolamento social tiveram menos incidência, em comparação a outras onde estas medidas foram adotadas tardiamente ou nem foram adotadas.
AT – Qual a importância para a sociedade da interpretação adequada das estatísticas?
Fernanda Cristina Wiebusch Sindelar – Fundamental, não adianta termos estatísticas e continuarmos as atividades da mesma forma ou não utilizarmos essa informação para uma tomada de decisão mais adequada. Se sabemos como a doença se prolifera, suas causas e diagnósticos, devemos levar isso em consideração no momento da tomada de decisão. Por exemplo, no Brasil, o governo federal tem defendido menos as medidas de isolamento social, mas as estatísticas demonstram que nos estados que isso tem sido adotado de forma geral pela população, a incidência é menor da doença, em comparação a estados que continuaram suas atividades produtivas normalmente. Além disso, a sociedade também é responsável e deve estar ciente das estatísticas, ou seja, se sabemos como a doença se prolifera, devemos tomar o máximo de ações para evitar que isso aconteça. Cada um de nós é responsável pelo maior ou menor controle da doença também.