O período de quarentena exige muita paciência, pois deixa-se de conviver e ver colegas e amigos e alguns familiares, além de se restringir as atividades aos limites de casa. Se para os adultos o desafio da quarentena já é grande, para as crianças ele se torna imenso e é preciso dar uma atenção especial aos pequenos, para que entendam o que é o período e para ajudá-los a passar por isso da maneira mais leve possível.
Em Arroio do Meio, a família de Carla Schroeder, Sandro Nunes e a pequena Maria Clara, 9 anos, criou uma rotina bastante organizada, mostrando que amor e união superam qualquer obstáculo. “Desde a chamada gripe espanhola, nos anos 1917 e 1918, não ocorria nada parecido no mundo e, portanto, não temos um repositório de práticas prontas para esta situação. Assim, paramos para conversar e lembrar de momentos em que tivemos de ficar reclusos. As lembranças de momentos de convalescença com caxumba e coqueluche, por exemplo. Também as férias de inverno, nas casas dos tios e avós, em que não podíamos sair. Por isso, tentamos organizar uma rotina em casa para prevenção, bem como para as necessárias saídas para o trabalho ou mercado”, explicam.
Carla e Sandro assistiram e pesquisaram muitas recomendações, principalmente porque Maria Clara, além de ser criança, tem diabetes tipo 1 e, portanto, está no grupo de risco. A primeira medida foi evitar qualquer tipo de visita, mesmo da família, tanto para a proteção dos três, quanto dos outros familiares, especialmente dos idosos. Um recurso adotado para a chegada em casa foi a colocação de um pano úmido com água sanitária na entrada da porta e quando precisam sair, deixam os sapatos do lado de fora. Na volta, usam álcool nas mãos e colocam a roupa direto para a lavagem, além de tomar banho em seguida, sem contar os cuidados com as compras do mercado.
Como Maria Clara não sai de casa desde o dia 19 de março, Carla e Sandro criam atividades diferentes para ocupar a família e distrair. “Buscamos e nem sempre é fácil (risos) manter uma rotina com horários para acordar e dormir, realizar as atividades disponibilizadas pela escola, que chegam todas as manhãs de segunda à sexta, e algumas que a gente cria para ela se exercitar”, relatam. Nos demais momentos, a família opta por jogos de cartas e tabuleiro, como paciência e quebra-cabeças, além do jogo cilada, de encaixar peças num tabuleiro, alguns que há anos estavam guardados. Também incentivam as brincadeiras com as bonecas e a leitura de gibis e livros, cujas versões, em PDF, são trocadas com amigos.
As receitas culinárias em família não podem faltar, e há os momentos de assistir televisão. O combinado com Maria Clara é que ela use aparelhos eletrônicos para jogos por até 1h30min por dia, desde que as tarefas da escola estejam concluídas.
“Nesse processo todo, a Maria Clara, está voltando a caminhar, se recuperando de uma cirurgia nas pernas, então procuramos realizar alguns exercícios com ela, pois a ida à fisioterapia está proibida”, ressaltam.
Carla e Sandro lembram que as primeiras reações da Maria foram de negação e raiva, quando a professora afirmou, na escola, que eles não deveriam mais trocar abraços. Mas com o passar dos dias ela aceitou e entendeu a importância, principalmente depois de muita conversa e de assistir alguns noticiários da situação em outros países. Os pais afirmam que a informação é necessária. Tanto que, hoje, Maria até queixa-se da saudade dos colegas, tios, primos e avós, mas entende o que está acontecendo.
“Neste momento estamos nos reinventando tanto como indivíduos, quanto como família. Estamos de plantão no trabalho, algumas atividades fazemos em home office e outras precisamos nos deslocar para atender. Isso também nos deixa apreensivos, bem como a situação econômica de todas as famílias, e da nossa empresa que, com certeza, sofrerá abalos. No entanto, entendemos que esse momento é de recolhimento e cuidado. De exercitar a sensibilidade e a resiliência. As dificuldades econômicas nós superaremos juntos, com persistência e trabalho duro. A vida da nossa família é única e não tem preço”, finalizam.