A história de um município está ligada ao seu povo, à sua gente. Para simbolizar o que a população deste pujante município fez e continua fazendo, o AT entrevistou um casal de idosos que continua ativo e atuante e um jovem do município, que nasceu no ano em que Capitão foi emancipado.
Alfredo Francisco, 88 anos, nasceu em Capitão em 9 de agosto de 1931, quando Arroio do Meio ainda pertencia a Lajeado. Presenciou duas emancipações, a de Arroio do Meio, em 1934, e a de Capitão, em 1992.
Passa um filme na memória quando lembra tudo o que viveu até hoje. Trabalhou na agricultura desde criança, motivo pelo qual parou de estudar quando tinha 11 ou 12 anos. “A escolinha São José foi desativada, mas ainda está de pé, defronte à CBA Calçados”, recorda.
A diversão da época era o futebol e dois ou três bailes durante o ano: Natal, Páscoa e Kerb. Foi num destes bailes que conheceu Maria da Conceição, nascida em 4 de dezembro de 1930, em Linha Marinheira. Depois de um curto namoro, veio o casamento.
Falar sobre Capitão para este simpático casal não é difícil, até porque, desde a emancipação, tudo mudou para melhor. Um dos benefícios foi a facilidade e acesso à saúde. “Antes era preciso guardar dinheiro e batia o desespero quando se precisava ir ao médico, tudo caro, médico, hospital, remédios… Hoje tem posto de saúde, bons médicos, se consegue a maior parte dos remédios gratuitamente”, avaliam.
Maria da Conceição, 89 anos, comenta que os dois, em menos 10 anos, foram submetidos a quatro ou cinco cirurgias com as quais não gastaram nada. A ambulância ou o carro da Saúde os levavam e buscavam em casa ou no hospital, conforme a necessidade. “Nunca pensei que isso um dia fosse possível”, diz Maria.
Alfredo faz referência à educação, que considera muito boa. A economia diversificada, agricultura, aviários e chiqueirões, pedreira, sem contar o ramo calçadista que, há décadas, vem empregando tanta gente. “Antes, quase não se tinha emprego por aqui. O comércio então, cresceu muito, lazer para gente de todas as idades, loteamentos e casas bonitas”.
Alfredo lembra que o solo capitanense era fraco, as plantações quase não vingavam. A Coopave funcionou por um bom tempo e foi fundamental pois, de certa forma, endireitou Capitão. “Pena que faliu, porém enquanto esteve aqui, o adubo das aves gerou fertilidade à terra. O solo antes fraco e que produzia muito pouco, tornou-se fértil, tudo que se planta desde então, vinga”.
Segundo ele, os jovens hoje se queixam por pouca coisa. Entende mesmo de dificuldade quem nasceu tantas décadas atrás. “Eram muitos irmãos/filhos, mal se tinha para comer e era tudo produzido por nós, o transporte era quase nenhum, e praticamente todo o trabalho era braçal. A casa comercial mais próxima ficava em Arroio Grande, para onde se ia à cavalo ou à pé”, recorda.
Muito unidos e sempre dispostos, Alfredo e Maria fazem um comparativo: antigamente, na sua juventude, não havia baile para ir e, hoje, beirando os 90 anos, eles não perdem um baile de idosos. Ajudaram a fundar o Grupo Vitória da Linha Marinheira e acompanham-no onde quer que ele vá, quase todos os fins de semana. Há 59 anos residem na Marinheira, junto à Área de Lazer da Costa, que é propriedade familiar e onde residem também outros três filhos. Ao longo do tempo, a união matrimonial é renovada e, com a bênção de Deus, brindaram Bodas de Prata, Ouro e Diamante. Já programam uma festança para as Bodas de Linho, em 2022, quando então celebram 70 anos de casamento. A família que formaram é composta por seis filhos, 15 netos, 11 bisnetos e a primeira tataraneta, que irá se chamar Sofia, nasce em abril. “Tivemos sorte pois Capitão sempre foi administrada por gente boa e nós, em particular, estaríamos cometendo pecado ao reclamar de qualquer coisa”, finalizam.