Reunidas numa sala da Secretaria Municipal de Educação e Cultura de Arroio do Meio, na tarde de terça-feira, mais de 30 mulheres lembraram com orgulho e alegria as ações e conquistas adquiridas por meio do Movimento de Mulheres, que celebra 35 anos em 2020. O momento serviu de preparação ao tradicional Encontro das Mulheres que, neste ano, será realizado em Capitão, no dia 6 de março.
Ao abrir os trabalhos, Marlene Grassi lembrou dos desafios que as mulheres enfrentaram nos anos 80 em busca dos seus direitos e, de certa forma, de sua própria identidade. Um movimento importante para a história brasileira, de construção de mudanças que fizeram a mulher ser vista e com espaço reconhecido na sociedade.
No encontro que reuniu mulheres de Arroio do Meio, Capitão, Travesseiro e Cruzeiro do Sul, ouviu-se relatos de como as mulheres trabalhadoras rurais eram desconsideradas e de como a organização mudou suas vidas. “O Brasil é melhor por causa do Movimento das Mulheres. Cada uma que participa ajuda a transformar o Brasil”, disse a professora aposentada Iolanda Giasson, que assessorou o movimento em âmbito regional e estadual.
A liderança de Iolanda foi reconhecida e elogiada em vários depoimentos. Asta Telöken observou que foi a professora quem “abriu os olhos” das mulheres rurais. “Nós agricultoras nem sabíamos que tínhamos direitos”. As participantes lembraram que as agricultoras tinham uma vida difícil, com uma pesada jornada na atividade rural, praticamente braçal, além de cuidar da casa e dos filhos.
Uma das senhoras lembrou que as mulheres plantavam, colhiam, pagavam impostos, mas não tinham direitos. E os direitos pelos quais elas lutavam não eram apenas os previdenciários, como a aposentadoria e os auxílios acidente ou maternidade, ou ainda a assistência médica, hospitalar, ambulatorial e odontológica. Lutavam por direitos iguais dentro das famílias, para que os homens não fossem os únicos protagonistas, e também para serem respeitadas na sociedade como um todo.
Depois das muitas mobilizações, em Porto Alegre e em Brasília, as mulheres tiveram uma série de direitos assegurados. Em âmbito nacional, destaque para o reconhecimento da profissão como trabalhadora rural e a aposentadoria. Em Arroio do Meio, que englobava Capitão e Travesseiro, o Movimento das Mulheres também foi decisivo para o atendimento de médicas especialistas, ginecologista e pediatra, exame de pré-câncer, o transporte escolar para os filhos de agricultores, a confecção do talão modelo 15, a associação no STR e a emissão de documentação.
Ao comentarem as mudanças após as mobilizações e os direitos conquistados, as participantes do encontro foram unânimes ao dizerem que o Movimento das Mulheres mudou suas vidas. “Me sinto muito orgulhosa de ter participado. Foi uma grande faculdade. Fomos ensinadas em casa a não perguntar nada, não questionar. A gente não sabia nem se expressar direito. Mas aprendemos, não desistimos”, afirmou Eronita Hammes.
Mais do que garantir direitos, o Movimento das Mulheres despertou a consciência de classe, o espírito de luta e a participação, fazendo a mulher acreditar em si e nas companheiras.