Das mais de 24 mil barragens existentes no Brasil, 3.387 são consideradas com risco ou dano potencial alto que terão fiscalização prioritária, conforme a Agência Nacional das Águas e Conselho Nacional de Recurso Hídricos. Só no Rio Grande do Sul estão 886 delas. Entretanto, o governo gaúcho salienta que o Estado não tem barragens de rejeitos.
Nesta semana o Ministério do Desenvolvimento Regional informou ainda que órgãos federais realizarão intervenções em 139 barramentos de água em estruturas que demandam atenção prioritária. Dez delas estão no RS. Inicialmente, há R$ 50 milhões disponíveis para as intervenções.
As mais preocupantes estão distantes do Vale do Taquari, são as represas do Capané, em Cachoeira do Sul e Santa Bárbara, em Pelotas. Para o secretário de Meio Ambiente e Infraestrutura do Estado, Artur Lemos Júnior, o risco de acidentes é pequeno, porém, ressalva que toda obra de engenharia tem possibilidade de falhar.
Na Região, as barragens de maior expressão são das usinas hidrelétricas da Certel no arroio Forqueta, situadas em Putinga e São José do Herval, e a da Cerfox, situada no arroio Fão em Fontoura Xavier, consideradas de risco baixo. Ambas estruturas estão acima dos municípios de Pouso Novo, Coqueiro Baixo, Marques de Souza e Travesseiro.
Os coordenadores das Defesas Civis de Marques de Souza, Roberto Kremer, Pouso Novo, Derli Ferla e Travesseiro, Lasiê Amauri Delazeri, desconhecem o grau de risco ambiental, mecanismos de alerta e orientações específicas de salvaguarda, caso ocorra um desastre. Kremer e Delazeri logo recordam da enxurrada de janeiro de 2010, que atingiu moradias e estabelecimentos agrícolas nos municípios.
Caso o volume d’água seja semelhante, Marques de Souza poderá voltar a enfrentar alagamentos na parte urbana, no Centro e bairro Cidade da Água e distritos de Bela Vista do Fão e Tamanduá, além da costa de Picada May, Linha Bastos, Picada Flor e Linha Perau, atingindo famílias inevitavelmente. Em Travesseiro, as localidades mais vulneráveis são de Barra do Fão, Três Saltos Baixo, São João e Picada Essig, mas todas as residências estão fora da área de risco se o nível do rio não superar as proporções de 2010. Na Sede pode sofrer pequenas inundações, provocados pelo represamento do arroio Travesseiro.
O único mecanismo de parâmetro é uma régua eletrônica instalada na várzea da propriedade da família Brandão, em Barra do Fão. Outra régua teria sido instalada na ponte que divide os dois municípios, mas a Defesa Civil Estadual ainda não passou detalhes aos coordenadores se o equipamento está em funcionamento. Também existem réguas de medição normais, em outras pontes, como na BR-386, pinguelas e campings.
Em Pouso Novo, as localidades de Linha Tigre, Forqueta Alta, Barra do Fão e Dudulha são as únicas ribeirinhas. Ferla pretende fazer um levantamento in loco da distância entre as casas e a margem, e a altura em relação ao nível d’água.
CHANCES DE DESASTRES NULAS – A Certel assegura que, por se tratar de barragens com grau de risco baixo (C), a probabilidade de ocorrer um desastre é praticamente nula. Também de acordo com os dados relacionados às inspeções de segurança, laudos de estabilidade e características construtivas, as barragens da cooperativa, caso ocorresse algum imprevisto, não causariam danos expressivos, já que pelo volume de água armazenado, a onda de cheia não extravasaria a calha de enchente do rio e se dissiparia em poucos quilômetros, sem danos ambientais e perdas de vidas.
Mesmo assim, as duas barragens têm sistema de monitoramento 24 horas por dia, com operadores locais e equipe de engenharia de sobreaviso. Além de estações de monitoramento hidrológico à montante e à jusante de cada barragem, através delas é medida a vazão horária, minuto a minuto, em dias normais e de enchentes e qualquer alteração pode ser notada instantaneamente.
O Plano de Ação de Emergência (PAE) é acionado caso houver alguma alteração no nível de segurança ou algum evento excepcional. Neste documento estão os fluxogramas de avisos às lideranças, aos municípios e Defesa Civil, com contatos e informações, indicando o tipo de situação e como se deve proceder em cada uma das situações. A Certel afirma que o documento está protocolado na Defesa Civil dos municípios em que os barramentos geram alguma influência.
A barragem Salto Forqueta tem altura do barramento de 25 metros, tem represado o volume de 3 milhões de metros cúbicos e a Rastro de Auto, com altura do barramento de 19 metros, tem represado o volume de 1,72 milhões de m³. Ambas foram construídas com concreto ciclópico dotada de vertedor soleira livre e comporta de descarga de fundo, dimensionadas para enchentes decamilenares e milenares, respectivamente. As duas estruturas com bom estado de conservação, vistoriadas semanalmente pelo operador local, e mensalmente pelo responsável técnico pela segurança de barragens que analisa os dispositivos de monitoramento instalados.
Dentre estes dispositivos nos dois barramentos, há comparadores de deslocamentos em blocos chaves com medidores tri ortogonais. São verificados também os drenos de fundação que têm como função mostrar se há percolação entre o maciço rochoso e o barramento e também os drenos de superfície que têm a função de mostrar se há percolação entre os blocos do barramento. Estas inspeções são realizadas pelo responsável técnico todo o mês.
As inspeções formais são realizadas anualmente com emissão de relatórios anuais de todas as estruturas e instrumentação. Os resultados são comparados com as inspeções realizadas no ano anterior. Caso constatada alguma variação, são feitas intervenções pontuais realizando as manutenções preventivas e corretivas conforme necessário, que também ocorrem caso for constatada alguma variação durante a inspeção mensal, ou imediata, caso for visto por engenheiro e houver necessidade.
Todo ano é realizada a classificação da barragem e envio para a ANEEL.
Até o fechamento desta edição a assessoria de imprensa da Cerfox ainda não havia tido o retorno do departamento de engenharia.