As incertezas já previstas para a maioria dos setores tiveram um efeito um pouco mais negativo do que o esperado pelos empresários locais no primeiro semestre de 2018, com raras exceções. A diminuição do poder de compra dos consumidores, a alta do dólar, a inflação movida pela alta dos combustíveis, gás e energia elétrica, paralisação dos caminhoneiros, a instabilidade política e econômica, frearam o consumo de alguns segmentos indutores da prestação de serviços, como a construção civil.
Já a indústria, como um todo, está tendo que equalizar custos e resultados, para garantir superávit nas operações ao longo do ano. As expectativas ficam por conta das eleições, especialmente a presidencial, que deve sinalizar um novo modelo de gestão para o país.
O empresário Délcio Bruxel, com 27 anos de atuação no comércio de materiais de construção, revela que o movimento nos meses de janeiro e fevereiro sinalizava boa expectativa para a recuperação do setor. No entanto, em março as vendas voltaram a diminuir e em maio, quando o mercado esboçava uma reação, ocorreu a paralisação dos caminhoneiros que impactou na escala de fornecimento de alguns produtos e no realinhamento dos preços entre 5% a 15% nos principais itens como tintas, ferro, pisos, material elétrico, entre outros.
A necessidade do manifesto de frete pelo valor mínimo da tabela, por exemplo, dobrou o custo do transporte de cimento. O reajuste chega a R$ 4 por saco. Antes o principal insumo da construção civil geralmente vinha numa carga de retorno de outro material mais nobre transportado. Além da inflação, a diminuição de edificações realizadas por investidores, devido à queda na procura por imóveis e a retração de obras particulares, evidenciam um cenário quase estático em comparação a outros momentos em que a economia estava mais aquecida. Apesar da incessante busca por melhores promoções e negócios junto a fornecedores, Délcio não vislumbra uma recuperação tão significativa no segundo semestre. “A Copa do Mundo não tem o poder de aquecer o mercado. O inverno por si já retrai o setor e não vejo nenhum candidato preparado às vésperas das eleições. É preciso estar com os pés no chão e trabalhar”, dimensiona.
Apesar do crescimento a margem diminuiu
O diretor da Indústria de Produtos de Limpeza Girando Sol, Gilmar Borscheid, revela que a empresa cumpriu o desafio de manter o crescimento de 9,83%, apesar da greve dos caminhoneiros que trouxe impactos na logística. Apesar do incremento, a inflação, os aumentos do dólar, combustíveis e alguns dos principais insumos, diminuíram a margem de lucro. No segundo semestre o foco estará na equalização dos custos e resultados. Borscheid também lamenta a fraca exposição e expressão dos candidatos, e a falta de um debate político de qualidade, especialmente no que tange a temas relevantes como reformas estruturais e o custo Brasil, para tirar o país do caos.
Investimentos dependem de segurança no mercado
O empresário do setor imobiliário João Hilgert, também avalia que os negócios ficaram aquém do prospectado devido a uma desaceleração geral da economia, apesar da indústria ter crescido de forma tímida. Como o segmento não é o primeiro a ter retornos, o momento permite uma melhor organização e criatividade para projetos específicos, que não dependem tanto da macroeconomia. Um dos exemplos é feira de imóveis e serviços organizada por um novo departamento da Acisam, que permitirá trazer a região para Arroio do Meio.
Hilgert também não espera um segundo semestre tão promissor, porém, analisa que alguns ajustes em linhas de financiamento, diminuição das taxas de juros e reservas bancárias podem encorajar os consumidores que dependem de segurança no mercado de trabalho. Mas isso só deve ocorrer à medida que forem conhecidos os grupos que governarão o país a partir de 2019, possibilitando um realinhamento estrutural. Em Arroio do Meio e microrregião, o aumento do limite do programa Minha Casa, Minha Vida é visto como essencial para movimentar o setor.
Estratégia foi buscar novos mercados e diversificar produtos
O proprietário da Marquez Alimentos, de Travesseiro, Marcelo Souza Pereira, é mais um empresário que esperava resultados melhores para o primeiro semestre. Como tinha bastante estoque de insumos, a greve dos caminhoneiros trouxe impactos positivos na diminuição do custo de distribuição. A estratégia da empresa para garantir um bom desempenho foi buscar clientes fora do RS – onde os negócios recuaram – principalmente no Sudeste e Centro-Oeste, além de não fabricar somente linhas de biscoitos e bolachas tradicionais, e inovar com produtos sem glúten, lactose, granolas e barras de cereal. Marcelo, que vem da Região Metropolitana e já morou na Oceania, observa que a cultura de consumo está mais globalizada, aproximando os negócios de clientes em diferentes mercados de uma forma muito mais rápida. O ex-funcionário da fábrica de Biscoitos Mertz revela que a Marquez Alimentos, que hoje conta com 36 colaboradores, projeta dobrar a estrutura em 2019, tendo em vista o fechamento de novos contratos, inclusive de exportações.