No feriado de 7 de Setembro, familiares, amigos e comunidade escolar de Bela Vista, Arroio do Meio se despediram de Matheus Ditrich, 16 anos, vítima de acidente durante a prática de um esporte radical. Seu corpo foi sepultado no Cemitério Católico de Bela Vista.
O menor sofreu o acidente no final da tarde de quarta-feira, dia 06, durante a prática de Parkour – método de treinamento que permite a pessoa ultrapassar de forma rápida e eficiente qualquer obstáculo utilizando somente as habilidades do corpo humano – nas instalações situadas atrás do antigo posto de lavagem da falida Elffen Tanques Rodoviários, empresa que esteve instalada na massa falida da Calçados Incomex.
Ditrich teria subido uma escada e tentado transpor um muro, sendo que, ao agarrá-lo com as mãos, a estrutura de blocos de concreto e tijolos caiu sobre seu corpo. Os dois amigos que o acompanhavam, de 12 e 14 anos, imediatamente pediram socorro ao proprietário de um restaurante nas imediações e trabalhadores que já haviam encerrado o expediente. Eram 17h45min. “Eles tentaram tirar ele dos escombros, mas os blocos continuavam caindo. Estavam apavorados e ensanguentados. Comunicamos imediatamente a Brigada, que veio em dois minutos e o Samu que chegou em seis minutos, mas Matheus perdeu muito sangue devido a ferimentos na cabeça e no tronco. Estava inconsciente e não resistiu até a chegada da emergência”, detalham.
Matheus era filho de Jair Luís Ditrich e Joana Darc da Silva, separados há mais de 10 anos. O jovem era estudante do 9º ano na Escola Bela Vista, querido pelos colegas e educado. Nas atividades extracurriculares um esportista, skatista, jogador de futebol, praticante de parkour, e rapper integrante do Centro de Poesia de Rua, e tido com um dos melhores rimadores. Os colegas pretendem homenageá-lo na formatura do 9º ano. “Vamos sentir muita falta do nosso melhor e mais dedicado rimador”, comenta o amigo Jean Nicolei, 16 anos.
Local proibido é acessado frequentemente
Uma equipe do Instituto Geral de Perícias (IGP) de Caxias do Sul compareceu para fazer os levantamentos necessários. Conforme a Polícia Civil, o local do acidente está inutilizado e a entrada é proibida. Segundo as autoridades policiais, independente de haver ou não placas, grades e muros, não é permitido entrar em propriedades privadas sem a autorização dos proprietários.
O gerente do Banco do Brasil – detentor do imóvel -, Fábio Rocha Nerbas, releva que o caso já foi levado ao conhecimento da área específica da instituição que cuida dos bens da massa falida da Incomex. Não está descartado o reforço da segurança, que já é fechado para o acesso público. Paralelamente, está sendo conduzido todo um trâmite burocrático para “limpar” a matrícula do imóvel multiuso, que ao longo da história sofreu alterações, o que tem dificultado a venda. “Pode ir a leilão ainda até o fim deste ano”, revela.
Apesar do acesso ser supostamente proibido, o local tem sido frequentado por muitos jovens que praticam esportes como paintball, softball, skate e parkour. No muro de blocos de concreto e tijolos, que caiu sobre Matheus, outros jovens já subiram para, inclusive, registrarem selfies para redes sociais.
Uma das queixas entre os usuários do espaço é do acúmulo de lixo, especialmente de metal enferrujado, cacos de vidro e plástico. “Alguns até fizeram uma forma de mutirão para limpeza. A parte superior dos escritórios parece bem intacta. Apenas a parte inferior, onde ficam as caixas de água, parecia mais vulnerável ao tempo e continha excesso de lixo”, comenta um frequentador do local.
O custo da retirada dos resíduos industriais e o descarte correto foi estimado em centenas de milhares de reais pelo próprio banco no último leilão e, na época, era um dos ônus dos compradores.
A reportagem do AT foi ao local do acidente e constatou que a estrutura do antigo prédio está abandonada e bastante precária. Chove dentro dos pavilhões e a maior parte da alvenaria não possui ferros de reforço no concreto, o que acelera a deterioração. Além dos resíduos de lixo há pneus com água parada.
Moradores das imediações comentam que o cenário das ruínas e escadarias, tem levado jovens de todas as idades e gêneros ao local, inclusive crianças. Um dos acessos é por um buraco na grade aos fundos, por dentro da abandonada sede social do Esporte Clube Bela Vista. Durante um período o local foi abrigo de um usuário de drogas que praticava furtos. Mas alguns praticantes de paintball acessavam o prédio pela entrada principal, deixando os carros no estacionamento. “Até pessoas de Santa Cruz do Sul vinham jogar paintball. O que mais estranha é que entravam com a chave. Pode ser que violaram o cadeado antigo e substituíram por um novo”, detalha um morador.
Esta foi a terceira morte no local. Em 1987 o operador de máquinas da Incomex, Darlei Henrique Link, sofreu um choque na esteira da calceira na linha 04. Em 2008 o segurança da Elffen, Osmar Nascimento de Andrade, também sofreu uma descarga elétrica no telhado, enquanto tentava puxar um cabo de energia.