No terceiro mandato como deputada estadual, a progressista Silvana Covatti, vivencia um momento histórico para as mulheres e para a política gaúcha. Ela é a primeira mulher a ocupar a presidência da Assembleia Legislativa. Apesar dos desafios, se diz preparada para as responsabilidades que o cargo exige e defende maior participação feminina na política.
AT – Em 180 anos da história do Parlamento Gaúcho, a senhora é a primeira mulher a assumir o cargo de presidente. Como se sente?
Silvana Covatti – O fato de ser a primeira mulher a presidir o Parlamento gaúcho em 180 anos representa, na verdade, que terei um ano de grandes desafios e enormes responsabilidades. Entretanto, neste terceiro mandato considero-me mais preparada do que nunca para esses enfrentamentos. Aproveito para compartilhar com as outras oito companheiras deputadas a expectativa positiva de uma nova fase na nossa Assembleia, sem disputas de gênero, mas de afirmação do papel que devemos desempenhar para fazer a diferença na vida dos homens e mulheres do Rio Grande do Sul.
AT – Como presidente da Assembleia, a senhora pretende incentivar e ampliar a participação feminina na política? Como?
Silvana – Há mais mulheres do que homens no Rio Grande do Sul, mais eleitoras do que eleitores, mas em se tratando de representatividade política somos minoria. A porta de entrada para a política é a filiação partidária, então, é preciso fomentar essa prática, como o PP, meu partido, já vem procedendo. Os movimentos de mulheres dos partidos também devem ser incentivados e valorizados porque representam um espaço importante para o surgimento de novas lideranças. No âmbito do Legislativo foi criado no ano passado, a Procuradoria Especial da Mulher para integrar o parlamento gaúcho aos movimentos nacionais e internacionais de defesa dos direitos e incentivo à efetiva participação das mulheres como protagonistas nos espaços de decisão. Na minha gestão vou apoiar e fortalecer as ações da Procuradoria, ao mesmo tempo em que em todos os encontros com mulheres – e participo de muitos pelo Rio Grande afora – vou distribuir material de convocação das companheiras para que se integrem aos movimentos políticos e comecem a virar o jogo.
AT – O que motivou a senhora a entrar na vida pública como candidata a um cargo político?
Silvana – Foi por intermédio da família que iniciei minha participação política quando meu marido, o Vilson Covatti, foi eleito vereador em Frederico Westphalen, nossa terra natal. Passei, então, a ser a colaboradora número 1 da atividade política dele, enquanto realizava trabalhos sociais voltados para as comunidades, especialmente as mais carentes. A questão da solidariedade é muito forte no interior e desde cedo aprendi que o problema dos outros eram tão importantes quanto os problemas da gente. Isso foi há mais de 30 anos, mas a motivação e a determinação continuam as mesmas e sequer imaginávamos que, trabalhando juntos, um dia eu chegaria à Assembleia e ele à Câmara Federal, espaço hoje ocupado pelo nosso filho Luis Antonio.
AT – Como a senhora concilia, há tanto tempo, a vida política com a vida da mulher Silvana Covatti?
Silvana – Não tem sido fácil porque a atividade parlamentar exige muito comprometimento e dedicação. Além disso, tem a representação que o cargo impõe e, ainda, a presença no interior todas as semanas, porque não podemos prescindir do contato direto com a população e ouvir seus reclamos e sugestões. Partimos do princípio para que se conheça bem um problema e se busque a solução, é preciso ir até onde ele está. Assim, sobra pouco tempo para a vida pessoal, o que deve ser bem aproveitado nos momentos que restam, inclusive nos encontros familiares que fazemos questão de preservar.
AT – Quais são os maiores desafios de uma mulher ao adentrar na vida política? Há discriminação por parte dos homens? O que pode ser feito para mudar este quadro?
Silvana – A conquista de mais espaços para as mulheres na política é processo, que avança passo a passo, mas de forma consistente, sem retrocessos. O primeiro passo talvez seja as mulheres tomarem consciência de que a política pode ser um espaço importante para realizar mudanças e fazer a diferença na vida das pessoas. Graças a iniciativas como a Procuradoria Especial da Mulher no âmbito dos parlamentos e a campanhas como a da ONU Mulher – “Mais Mulheres na Política” – e especialmente pela mobilização dos movimentos femininos dentro dos partidos, acredito que já avançaremos muito em termos de participação feminina na campanha municipal deste ano.
AT – O que a senhora diria para as mulheres que pensam que política é coisa de homem?
Silvana – Que a ascensão da mulher na política representa uma conquista que dá acesso a novas conquistas. Mesmo com tudo o que já conquistamos estamos ainda muito distantes da igualdade. Para que novos espaços sejam dados, precisamos ocupar cada vez mais os espaços estratégicos na sociedade. Assim, é fundamental nossa participação política para termos vez e voz, e honrar a luta de todas as guerreiras que nos precederam. Se somos a maioria, como eleitoras, para decidir, devemos deixar de ser a minoria na representatividade.