Marques de Souza – Desde dezembro de 2014, um grupo de 23 pessoas, entre 34 e 76 anos, se encontra nas segundas-feiras à noite para as aulas do Projeto Brasil Alfabetizado, que ocorrem em Picada Flor. “São jovens e adultos que recebem uma motivação para voltar a estudar, ou aprimorar seus conhecimentos, muitas vezes adormecidos, pois os conhecimentos são construídos ao longo de toda vida”, justifica a professora Sandra Silmara Melo, que conduz a turma.
De acordo com ela, o projeto oferece como subsídio de apoio um livro que traz o mundo dos números e da escrita, além de permitir saber mais sobre assuntos que dizem respeito à vida de todos, como trabalho, a literatura, os conhecimentos científicos, a riqueza cultural brasileira, os meios de comunicação e outros.
Com o suporte da Secretaria Municipal de Educação e Cultura e da 3ª CRE, os estudantes, que cursaram no máximo o sexto ano do antigo curso primário, também participam de outras iniciativas como confraternização com jantar partilhado e palestras com a presença de profissionais que abordam diversos temas como primeiros socorros, informações sobre drogadição pela Brigada Militar, entre outros.
E é pela dedicação dos alunos que Sandra mantém o projeto em execução. Desde a implantação, a professora atua sem receber salários. As aulas ocorrem num quiosque em sua residência. “Do governo federal até agora não chegou nenhum centavo de recursos, tanto para salário como para outras despesas, mas percebendo a elevação da autoestima dos alunos e o quanto as aulas lhes fazem bem, persisto, acreditando que até agosto, quando encerram as aulas, deverei receber pelo que fiz”, declara.
É a sua primeira experiência com educação de adultos: “Mas confesso que está superando minhas expectativas, por estar não só ensinando, mas aprendendo e muito com minha turma, percebo o interesse, a atenção, a timidez a ser superada a cada encontro, a participação, seja nos trabalhos em grupo, nas tarefas de casa com o livro, no interagir da turma”, destaca. E os resultados já começam a aparecer. Como a conclusão do curso não garante o certificado de conclusão de Ensino Médio ou Fundamental, e incentivados pelo aprendizado, seis alunos já estão inscritos para as aulas do Ensino de Jovens e Adultos (EJA).
Reencontro
Aneri Weirich, Liria Junkenn e os irmãos Sérgio e Nestor Mann, não imaginariam que após cursarem o ensino primário na já desativada Escola Carlos Gomes de Picada Flor em 1958, voltariam a sentar nos bancos escolares e na mesma turma, 57 anos após. “Estudamos juntos numa época muito difícil, em que mal conseguíamos concluir o ensino primário e agora voltar a estudar juntos é muito gratificante, pois além de revisarmos alguns assuntos que aprendemos, estamos também nos atualizando, seja pelos livros como também pelas palestras que são muito interessantes”, afirma Sérgio Wommer, 67 anos.