Após a incidência de focos de simulídeos – o mosquito borrachudo – em diversas localidades do interior, a aplicação de defensivos volta a ser intensificada. Conforme os responsáveis pelo controle nos municípios de Arroio do Meio, Capitão e Marques de Souza, a situação deve ser amenizada em 45 dias. Pouso Novo e Travesseiro discutem os modelos para implantação de um programa nos setores competentes.
A explicação para infestação e aumento do ataque dos mosquitos nas últimas três semanas seria devido ao longo período de chuvas, que impossibilitou a aplicação dos larvicidas, além de tornar a mesma ineficiente. O acúmulo da água em alguns pontos também tornou estes ambientes propícios para a proliferação das larvas.
Entretanto, ambientalistas apontam que o lixo e dejetos de animais também estimulam o criatório do inseto e recuperar a mata das margens dos riachos previne a infestação.
Os borrachudos gostam de voar durante o dia, com sol quente, são nativos da Mata Atlântica e bem pequenos. Eles atacam as partes do corpo expostas, causando desconforto e irritação. Também atacam animais. A picada é dolorida e pode causar alergias, podendo levar a ferimentos graves decorrentes de coceira e provocar infecções.
De acordo com a Fundação Osvaldo Cruz, existem 170 espécies de borrachudos. Alguns podem transmitir uma doença chamada oncocercose que provoca caroços na pele, mais comum na região norte do país. No Estado não existe transmissão de doenças pelo borrachudo ao homem, somente o incômodo da picada.
A picada tem uma justificativa. A fêmea se alimenta do sangue de mamíferos. Coça porque quando o inseto pica, injeta uma substância que provoca uma reação alérgica na pele.
A fêmea adulta deposita os ovos em folhas e galhos submersos em água corrente dos riachos. Os ovos viram larvas e pupas, e depois de 25 dias o adulto sai de dentro da água. Quando a fêmea é fertilizada, procura um mamífero para picar, porque o desenvolvimento dos ovos que ela carrega depende da proteína do sangue, que pode ser o de um ser humano. Cada fêmea pode colocar até 2.500 ovos no seu ciclo de vida, que dura em torno de 30 dias.
O CONTROLE – O defensivo aplicado para o controle dos simulídios é biológico. O nome do produto é Bacillus Thuringiensis Subspecies Israelensis, conhecido como BTI. Segundo a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), o BTI não causa danos em animais aquáticos como peixes, e em outros animais que bebem água. É um produto específico para combate de larvas do inseto.
Geralmente sua aplicação se restringe a córregos de pequena profundidade e pouco volume de água. Ela é feita por colaboradores capacitados.
Em Capitão a secretaria da Saúde adquiriu na última semana 120 litros de BTI, sendo devidamente entregue aos aplicadores do município. A primeira aplicação ocorreu no último dia 9 e as próximas estão agendadas para os dias 23 de abril e 8 de maio,em caso de bom tempo. O custo será de R$ 8mil.
Em Marques de Souza, segundo o técnico agrícola Michel Batisti, o monitoramento é semanal. Todos os pontos de aplicação já estão mapeados, e os colaboradores, a maioria moradores de regiões ribeirinhas, recebem o treinamento devido.
Já a Emater de Arroio do Meio, responsável pelo suporte técnico do serviço no município, revela que o mesmo modelo que já vinha sendo utilizado foi adotado nesta temporada, que iniciou em outubro. Cerca de 50 colaboradores realizaram a aplicação de aproximadamente 100 litros de BTI. O produto foi adquirido pela prefeitura e custou R$ 57,5 o litro. Conforme o técnico da Emater, Roque Telöken, as oscilações no controle em decorrência do clima são comuns.
O primeiro colaborador do município, Vianei Lansing, morador de Picada Café, já atua há 12 anos no combate de simulídeos. Ele revela que as aplicações ocorrem de setembro a maio, conforme laudos periódicos da Emater. Nas primeiras semanas o BTI é aplicado quinzenalmente – como a larva precisa de um ciclo de 21 dias para se desenvolver ela é eliminada em tempo hábil. Por precaução, o controle é suspenso nos meses de frio, para que a espécie não crie resistência ao larvicida.
Lansing, explica que quando o volume de água é alto, o produto é aplicado em maior quantidade e em menos locais. E quando o volume de água é baixo, são feitas aplicações com menos quantidade, porém, em diversos lugares. “A técnica tem sido eficiente”, apura.
Entretanto, o agricultor enfatiza que o BTI só age na eliminação das larvas do borrachudo – ele não extingue o inseto já evoluído, que dura conforme seu ciclo de vida. “As vezes os laudos não apontam a necessidade de reaplicação, e o controle só volta a ser feito após a incidência de picadas”, observa.
Conforme o colaborador a situação era praticamente insuportável antes do programa de combate ao borrachudo. “Infelizmente nosso trabalho que beneficia toda a comunidade não é valorizado pela mesma. Geralmente os voluntários são os mais ocupados, e os que mais reclamam sequer oferecem ajuda. Por isso eu não critico quem desiste do voluntariado”, desabafa. Vianei, ressalva que em outras comunidades, durante o pagamento da anuidade é recolhida uma taxa destinada à pagar o serviço prestado pelos colaboradores.