Você conhece a palavra onicofagia? Qual seu significado? Pois saiba que onicofagia é o termo técnico utilizado para definir o hábito de roer unhas. Podem ser as unhas das mãos, dos pés, a pele ao redor dos dedos ou as cutículas, explica a psicóloga Maria Angélica Hartmann Gräff. Conforme ela, este hábito normalmente está relacionado a pessoas ansiosas, irritadiças, tímidas, que não conseguem ou não se permitem expressar seus sentimentos através da fala – então claramente mostra que o corpo fala, expõe a sua ansiedade através da ação. Surge em situações de estresse, nervosismo, fome, tédio ou ansiedade, bem como pode estar sinalizando para algum transtorno mental.
Mas o que leva uma pessoa a transformar ou reprimir-se a tal ponto de necessitar se machucar? De acordo com Maria Angélica, “Roer unhas não caracteriza um transtorno psicológico, penso que seja a expressão de alguma desordem ansiosa. O indivíduo não consegue expressar o que sente, tem vergonha, medo, não sabe como falar ou o que fazer, a ansiedade toma conta e as unhas estão aí para de certa maneira aliviar essa ansiedade. Pode ser um ato de controle, por exemplo, de impulso, a pessoa está com raiva de alguma situação e não pode falar, roendo as unhas consegue controlar o impulso e acaba não expressando o sentimento na via adequada que seria a da fala. Pelo contrário, acaba se prejudicando ou não dependendo da situação (em algumas discussões é melhor se calar mesmo).”
A psicóloga cita também o exemplo de crianças que, à frente da televisão, assistindo a desenhos e filmes, ficam tensas com a situação do personagem e acabam roendo as unhas (hábito que se inicia por volta dos quatro ou cinco anos de idade) como uma maneira de lidar com a sua ansiedade ou estresse diante do fato. Diante disso, os pais devem chamar a atenção de maneira afetiva, explicando que as unhas carregam muitas bactérias e que a criança pode chamar para falar sobre o programa ou fazer um desenho sobre o que está assistindo ou ainda segurar algum objeto como uma almofada (sem poder levá-la à boca). Já os adolescentes, segundo Maria Angélica, “costumam ser mais compulsivos, pela fase de transição que enfrentam e, além das unhas, levam à boca lápis, canetas, e podem adquirir outros hábitos como o tabagismo ( já que o roer unhas para a teoria freudiana está associado a algum distúrbio da fase oral do desenvolvimento, a primeira fase que vai desde o nascimento até mais ou menos os dois anos de idade).”
Como parar
Para diminuir ou parar de roer unhas existem algumas medicações (devidamente prescritas por médicos habilitados) ou terapias como, por exemplo, a terapia comportamental cognitiva que trabalha com a mudança de hábitos, através do reconhecimento pela pessoa de sentimentos, crenças sobre o ato e sobre si mesma. A psicóloga destaca ainda a técnica do Treinamento da Reversão de Hábito ou TRH, ou seja, aos poucos são inseridos outros hábitos, como, por exemplo, pintar as unhas (com as mulheres isso funciona bem) e, toda vez que levar a mão à boca, verá suas unhas pintadas e poderá contornar o impulso, colocando, por exemplo, uma bala na boca, ou tomando um pouco de água Enfim, a pessoa encontra meios, com auxílio de seu terapeuta, para a mudança de hábito e, dentro desta teoria, existem outras técnicas como a de aversão (colocar uma substância de gosto ruim nas unhas), fazer anotações sobre quando, em que horários ou situações as unhas são roídas, que fazem com que a pessoa tome consciência de seus atos e consiga através desse controle mudar o hábito. Por fim, Maria Angélica afirma que “Não estamos falando de permanecer ou ficar sem ansiedade e sim de aprender a controlá-la, sem que precise se machucar, até porque a ansiedade em um nível bom é necessária para o equilíbrio emocional.”
Danos à saúde
Além da estética e dos danos à saúde clínica, já que as mãos não devem ser levadas à boca sem que estejam adequadamente limpas, as unhas, que certamente são “depósitos” de muitas bactérias e vírus, poderão contribuir para que muitas patologias clínicas aflorem, desde as cáries até problemas gastrointestinais e outros. O hábito também interfere no trabalho, já que muitas vezes as unhas estão tão machucadas que a pessoa não consegue executar tarefas simples como, por exemplo, digitar um texto ou lavar roupas, louças, etc.