A paixão pela origem alemã trouxe uma recompensa especial para a arroio-meense Greicy Weschenfelder. O trabalho de pesquisa desenvolvido durante o mestrado em Comunicação Social pela PUC/RS – mais de três mil páginas – resultou no livro Romance – Folhetim Alemão. A obra será lançada na 57ª Feira do Livro de Porto Alegre em 10 de novembro, às 15h30min, com sessão de autógrafos da autora.
O livro de 400 páginas, publicado pela editora da Unisc, reproduz quatro romances folhetins publicados no jornal Kolonie, de Santa Cruz do Sul e que circulou também pelo Vale do Taquari entre 1890 e 1940. O periódico era todo escrito em alemão e os romances eram publicados em alemão gótico. O Kolonie foi por muitos anos um veículo de comunicação de grande expressão no Estado. Com o foco nos imigrantes alemães, que não sabiam falar e ler em português, trazia notícias da Alemanha, além de informes de interesse público, como notas de falecimento.
Só parou de circular em 1940 em função da guerra. A partir da tradução destes romances, Greicy faz uma análise da colonização alemã em diversos aspectos. “Os alemães sofreram muito, tiveram muitas promessas não cumpridas. Tiveram que fazer o Rio Grande do Sul. Recriaram a Alemanha deles aqui e depois se juntaram ao povo gaúcho para formar esse estado lindo”, diz a autora.
A arroio-meense afirma que a riqueza no vocabulário e nos detalhes e os valores da época, alguns que continuam até hoje, lhe chamaram muita atenção. Da mesma forma observa que os romances folhetins sempre tinham a função de ensinar algo, passar uma lição, aspecto que os alemães apreciam bastante.
O mestrado
Para escrever as três mil páginas de sua dissertação, Greicy sacrificou finais de semana e horas livres, viajou à Alemanha e Portugal e estudou muito. Foram dois anos de dedicação. Não foi à toa que sua dissertação foi aprovada com louvor e está concorrendo a uma bolsa pela Biblioteca Nacional e, segundo professores, tem grandes chances em virtude da profunda e inédita pesquisa. Seu orientador foi o ex-vice governador do Estado, o jornalista e professor Antônio Holfeldt. Foi ele que ajudou na seleção dos quatro romances que foram para o livro.
Em seu trabalho, Greicy selecionou oito dos 211 romances folhetins publicados no Kolonie, cuja maioria do acervo está na Unisc, em Santa Cruz do Sul. Foram escolhidos o primeiro e o último e seis aleatórios. Após a seleção, foi necessária a ajuda de outras pessoas – entre estas o arroio-meense Acassio Weizemann – para a tradução do alemão gótico, quando foi possível fazer a análise e apontamentos. “O romance folhetim tinha os temperos que apimentam as novelas de hoje. Tinha triângulo amoroso, traição, o herói, a mocinha”, comenta.
Os romances folhetins eram publicados em todas as edições do jornal, três vezes por semana, sempre na segunda página, em quatro colunas, em alemão gótico e em letra miúda. Tudo tem uma explicação. “O gótico era considerada uma língua à parte, culta, que poucos sabiam. Eram escritos em letra pequena porque isso significava que só as pessoas mais velhas podiam ler. Liam para os outros, o que proporcionava uma discussão, um debate sobre a história”, explica.
No decorrer da pesquisa, Greicy teve a oportunidade de conversar com a viúva do editor e proprietário do jornal, Edgar Riedl, e com dois leitores. Sem condições de dar muitos detalhes, em função da idade avançada – 96 anos, a viúva apenas dizia que o jornal vendia em função dos romances. Já os leitores entrevistados ainda lembram do título, período da publicação e a história de determinados romances. Isso porque a história retratada marcou de tal forma que nem o tempo conseguiu apagar. Isso, aliado a outros fatores, como o ineditismo do tema, instigou a continuidade do estudo, agora num doutorado. “Tenho certeza de que os alemães contribuíram muito para o que hoje conhecemos como novela. Os romances folhetins eram a nossa novela de hoje. É uma evolução. Passamos do romance folhetim para a fotonovela, depois para a radionovela até chegarmos à novela dos dias atuais”, observa Greicy.
A autoria dos romances não pôde ser identificada. Ao que tudo indica eram enviados da Alemanha ou foram trazidos por imigrantes. “Mesmo sem saber o autor, pode-se dizer que essa leitura, naquela época, trouxe a Alemanha para o Rio Grande do Sul”.
A recompensa
“A ficha não caiu ainda”. É assim que Greicy define o sentimento em relação à publicação do seu livro. Sabendo do conteúdo, diz que é uma leitura gostosa, que vale a pena. Principalmente para quem tem interesse pela história e cultura dos alemães. “Cada pessoa deve estudar sua cultura e não desmerecer a dos outros. Encho a boca para dizer que sou de Arroio do Meio, de origem alemã e que tive oportunidade de buscar mais conhecimentos na Alemanha e em Portugal para o meu mestrado. O estudo proporciona novos horizontes”.
Interessados em adquirir o livro, ao custo de R$ 50, podem fazer contato diretamente com Greicy pelo fone (51) 8217-9499.