Tenho observado o sumiço do hábito de escrever um diário. Talvez alguns até nem saibam que esse já foi um costume generalizado.
Eu escrevia um diário na minha adolescência. Pena que o caderno tenha desaparecido. Gostaria muito de saber o que aquela garota pensava da vida nos seus verdes anos…
Quando meus filhos nasceram, comecei uma espécie de diário da vidinha deles. Anotei a primeira febre, o primeiro dente, a primeira palavra, coisas assim, no ritmo de uma ou duas anotações a cada semana. Graças a isso, eles podem saber hoje quando foi que aprenderam a dispensar as fraldas, quais foram as perguntas mais engraçadas que fizeram, etc. Mas, bom, sei lá se isso traz alguma vantagem (neste mundo tristemente simplista em que vivemos…) Em todo o caso, diários colaboram com a memória sentimental. Eles podem guardar o sentido mais abrangente que os fatos desta vida têm para a história de cada um – o que talvez não seja tão pouco assim.
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O tema dos diários me vem à mente agora ao concluir a leitura de um livro fa-bu-lo-so. Sabe, aquele tipo de livro com centenas de páginas, que o leitor tem até dificuldade de segurar quando lê na cama? O tipo de livro incômodo de manusear de tão pesado? Pois é deste mesmo que eu falo. Falo do livro que faz você sofrer por antecipação. Você sofre porque o livro é muito volumoso e sofre porque sabe que a leitura não vai durar pra sempre. Você sofre porque sabe que quanto mais ler, menos ele vai durar e mesmo assim não consegue parar de ler.
Você já leu um livro desse naipe?
Se a resposta é negativa, não perca a esperança de viver essa experiência incomparável!
Uma sugestão de um livro assim até posso dar.
Aqui vai: “O esplêndido e o vil: uma saga sobre Churchill, família e resistência”, de autoria de Erik Larson. Baseado em documentos e principalmente nos diários escritos pelas pessoas envolvidas, o livro oferece uma nova imagem do ano que foi para os ingleses o mais sombrio de toda a segunda guerra mundial. Mostra como era o cotidiano da família do Primeiro-Ministro inglês, Winston Churchill, e também dos principais líderes alemães, na fase em que a Inglaterra foi alvo de ataques maciços da aviação inimiga.
O livro dá a chance de olhar para fatos históricos e para personagens que viraram heróis e ver quanto eles eram gente também. Churchill, por exemplo, vivia atormentado pela falta de dinheiro, tinha dificuldade de equilibrar a receita e a despesa da família. Mostra as rusgas familiares. Mostra o que a filha Mary pensava, nos seus 17 ou 18 anos, ao sair para bailes, em noites de pesado bombardeio. Ou seja, a partir dos diários escritos, a gente pode acompanhar a grande guerra de um ângulo totalmente diferente.
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Você não tem interesse sobre guerras?
Não faz mal. Mas não perca a esperança de embarcar em um livro que o faça esquecer tudo e deixe aflorar o melhor que existe em você. Todo mundo merece um encontro assim.