Nas últimas semanas, um aumento nos casos confirmados de coronavírus e de ocupação de leitos nas alas Covid e de UTI dos hospitais fez o estado retornar à bandeira vermelha e serem retomadas várias medidas para evitar aglomerações. Até a quarta-feira, dia 20, o município contabilizava 876 casos confirmados de covid-19, sendo 790 recuperados, 71 em isolamento domiciliar, sete em internação no Hospital São José e três na UTI em Estrela. Arroio do Meio tem cinco óbitos contabilizados.
Havia ainda, na quarta-feira, quatro pacientes com suspeita e 110 exames coletados, aguardando resultado. Na mesma data, o município divulgou 20 novos casos confirmados, sendo três recuperados, dois em internação e os demais, em isolamento domiciliar.
Os profissionais da saúde são enfáticos quanto à necessidade de manter todos os cuidados, principalmente o uso das máscaras e o distanciamento. Em entrevista ao AT, a médica Andréa Dal Bó, infectologista e membro da Sociedade Rio-grandense de Infectologia (SRGI), esclarece dúvidas e reforça à comunidade que não é momento para relaxar com as medidas anti-covid. Confira:
AT- Pode-se notar um certo “relaxamento” na população em geral, referente aos cuidados de prevenção ao coronavírus. Este comportamento é correto? Por quê?
Andréa Dal Bó– Bem, primeiro não se deve ter relaxamento das medidas não farmacológicas, que são distanciamento, uso de máscaras, higienização das mãos e evitar aglomerações. Como a gente vê, existe um crescimento exponencial do número de casos, e principalmente isso se deve ao fato de que as pessoas acreditaram que não havia mais disseminação do vírus, enquanto a gente ainda tinha uma taxa considerável de transmissão. Isso aumentou, então, de forma exponencial como a gente está vendo. Por isso, se deve evitar, com certeza, abraços, beijos, compartilhar utensílios, como infelizmente a gente viu muito nesses últimos meses.
AT- Como podemos esperar o comportamento da transmissão do vírus com a chegada do calor e do verão?
Andréa Dal Bó– Com relação ao verão, o calor, a gente tem que ter, agora, cuidado redobrado. Nós estamos com um número de casos ativos muito alto ainda. O verão e o calor não vão reduzir a disseminação de covid. Ao contrário, a gente tem tendência, geralmente, a se aglomerar mais, como praia e piscina. Então, deve-se evitar as aglomerações, lembrando que o vírus não respeita lugar ou idade. Pessoas jovens, especialmente as que fazem esses tipos de aglomerações, podem levar a covid para o idoso que está lá em casa.
AT – E no caso das superfícies? Deve-se fazer a higiene dos produtos trazidos para casa e do mercado, das roupas e calçados que vêm da rua?
Andréa Dal Bó – Alguns estudos mostram que a questão das superfícies na transmissão da covid é menos importante do que a questão respiratória e das mãos. Então, muito importante é usar máscara e também fazer a higienização das mãos. Na questão de higienização de produtos que vêm do mercado, enfim, não existe nenhuma evidência ainda. Teve um estudo italiano que fez a avaliação nas superfícies e não foi encontrado vírus viável em cultura nelas. Mas não existe uma convicção a respeito disso, o mais importante é higienizar as mãos e usar máscara.
AT – Nota-se também as pessoas usando menos a máscara para proteção, ou usando apenas para entrar em estabelecimentos, onde o uso é exigido. Qual a sua importância na prevenção?
Andréa Dal Bó – A máscara ainda é nossa principal ferramenta no combate à covid-19 e ela deve ser usada de forma correta, que assim garante a proteção: cobrindo nariz e boca. Abaixo do nariz não funciona.
E deve sempre ser evitada a manipulação da máscara, pois quando se toca, você pode passar a mão no olho e assim também ocorre a transmissão da covid-19. É importante que se use a máscara ao sair de casa, em todo momento e de forma correta. Também não adianta ela no pescoço, nem ela pendurada na mão.
AT – Uma preocupação com a máscara é referente ao calor, o suor do rosto. Como saber qual o momento de trocar?
Andréa Dal Bó – Em situações onde há muita umidade, no caso suor excessivo, ou se molhou, a máscara deve ser trocada. A orientação da Anvisa é de que a troca das máscaras seja feita a cada duas horas. Mas, em situações onde ela está molhada, deve ser trocada com frequência maior. É sempre bom a pessoa levar uma máscara extra nessa situação, agora com o verão, para que possa fazer trocas mais frequentes.
Isso inclui também a prática de esportes, lembrando que a máscara é obrigatória ao sair de casa, então em qualquer situação, mesmo na vigência de prática de esportes, a pessoa deve estar usando. Quando fizer exercícios mais extenuantes, por exemplo, uma corrida, existe chance maior de gerar aerossol, assim a transmissão do vírus é ainda maior. É muito importante que as pessoas estejam usando máscara em qualquer situação.
AT – Qual o melhor tipo de máscara a ser usado e a posição correta que ela deve ficar?
Andréa Dal Bó – Os melhores tipos de máscaras são os que garantam uma proteção mecânica em que a trama do tecido seja bem fechada. Então, para isso, o tecido de algodão é muito bom. Outra dica é usar algodão e seda para ter duas camadas. O algodão garante uma proteção mecânica e a seda garante uma proteção estática, porque o vírus tem uma carga negativa e ela uma carga positiva, como se fosse repelir o vírus. É uma máscara boa também para o verão, porque a seda dá essa sensação de frescor. Mas o algodão é importante que esteja sempre presente, porque ele tem uma trama mais fechada e garante uma proteção mecânica melhor. A máscara deve cobrir o nariz e a boca. Aquelas máscaras que são usadas como um lenço, que algumas pessoas têm usado para a barba, não garantem uma proteção adequada.