Se a água veio de todos os lados, o auxílio às famílias atingidas pela enchente também. O espírito solidário e comunitário esteve presente desde os primeiros momentos da cheia, com o auxílio na remoção de famílias, até os resgates difíceis, noite adentro, sendo necessários vários barcos e voluntários. Ao mesmo tempo que a água baixava e as pessoas podiam ter noção dos estragos, uma grande corrente de solidariedade se formava.
Servidores do município e dezenas de voluntários se revezaram em atender as primeiras necessidades de quem, de repente, não tinha mais seus pertences, nem roupas secas e, sequer condições de preparar um café para se esquentar. Alimentação, roupas, água, cestas básicas e kits de limpeza foram algumas das primeiras providências.
Devido aos danos, a distribuição de sanduíches e marmitas foi necessária por vários dias. Dezenas de voluntários se envolveram no preparo e distribuição. Até a segunda-feira, tinham sido distribuídas 10 mil refeições, incluindo café da manhã – 3.500 – e almoço e janta – 6.500. Gradualmente o serviço foi se encerrando, a medida que as famílias retornaram para suas casas e tiveram autonomia para o preparo de suas refeições.
Inúmeras doações
Conclamada a cooperar, a sociedade, inclusive de outros municípios, atendeu ao chamado e, ainda no decorrer de quinta-feira, quando a água começou a baixar, as doações ganharam força. Além dos pontos de coleta disponibilizados pela prefeitura, vários estabelecimentos comerciais e grupos culturais ou de lazer se disponibilizaram para receber os donativos. Várias ações também culminaram com a doação de agasalhos, cobertores, calçados, alimentos não perecíveis, material de limpeza, colchões, móveis e vários outros itens. Em muitos casos, a doação foi feita diretamente para as famílias, sem a intermediação do município.
A colaboração foi tamanha, que algumas demandas já foram atendidas, a exemplo de roupas, calçados, cobertores e colchões. No momento, a maior necessidade são fogões à gás, botijões e mangueira com registro, refrigeradores, mesas com cadeiras e camas, para o restabelecimento das famílias. Os donativos podem ser entregues no Salão Paroquial, das 8h às 19h. Demais doações – como alimentos e produtos de limpeza e higiene – podem ser feitas junto ao Cras, Centro Social/Comunidade Luterana São Paulo e Secretaria de Educação e Cultura, ambos no Centro.
Interessados em colaborar com doações, transporte e material de construção, podem entrar em contato através do (51) 99649-6722 – secretário Carlos Henrique Meneghini, que orientará como proceder. As doações de material de construção devem ser feitas no estacionamento da Secretaria de Educação, acesso pela rua São José.
Para receber as doações, as famílias precisam se cadastrar no Cras. Até o final de quarta-feira, 800 famílias já haviam se cadastrado. Boa parte dos donativos recebidos já foi encaminhada, dando estrutura para que retornem para suas casas.
Quem quiser doar algum recurso financeiro, pode fazê-lo por meio da vakinha online. Basta acessar o link www.vakinha.com.br/vaquinha/novo-recomeco-familias-atingidas-pelas-cheias-arroio-do-meio.
Em busca de ajuda
Para a família de Márcia Rejane Pereira, que mora na rua José Adão Horn, divisa dos bairros Centro e Navegantes, a memória da enchente da última semana não poderá ser apagada. Ela mora em uma casa de madeira, ao lado da casa da mãe e do padrasto, de alvenaria. “Quase morremos. Tirei as coisas de casa e levei para a casa da mãe, mas lá também entrou água. Só sobrou os televisores e as geladeiras”, relata.
A casa de Márcia, como é mais baixa, ficou com água até o telhado. Na casa de sua mãe, com o nível subindo rápido, precisaram empilhar três camas box para fazer um refúgio e, mesmo assim, a água os alcançou. Estavam lá, ela, o marido, um irmão, sua mãe de 61 anos e o padrasto, de 76, que é cadeirante. “Não saímos da casa, ficamos até a água ir baixando. Tentaram nos socorrer com o bote, mas não conseguiram chegar até nós”, conta.
Como ela trabalha cuidando do padrasto e o marido é servente de pedreiro, Márcia está preocupada com como será daqui para a frente. Na terça-feira, na fila do Cras, ela esperava conseguir ajuda com colchões, mesa, sofá e fogão.
Ana Maria Carvalho, moradora da rua Edgar Schneiders, bairro São José, diz que apesar de nunca ter vivenciado, sentiu como se tivesse passado um tsunami em sua vizinhança. Ela mora com o filho, portador de necessidades especiais, nora, um bebê de sete meses e um sobrinho. Todos perderam tudo. “Escapamos para o segundo piso da casa da vizinha e de lá pedimos socorro. Era mais de meia-noite quando fomos retirados de caíque. Graças a Deus a gente saiu”, diz. Vinda de Porto Alegre, mora com a família em Arroio do Meio desde 2015. Ana Maria elogiou muito o engajamento da comunidade e toda a solidariedade do povo arroio-meense.