Nas décadas de 1980, 1990 e início de 2000, a professora e diretora Lúcia Schmidt Horn, teve envolvimento direto em atender as demandas da comunidade. Entre as principais realizações, a transformação do educandário, até então voltado para séries iniciais, numa instituição com educação infantil e primeiro grau completo, perto das famílias da localidade.
Naquela época Lúcia lecionava na escola 11 de Junho, de Arroio Grande Superior, e na Bela Vista, onde era concursada pelo município. Casou-se em 1979, com Sérgio Horn, morador de São Caetano. Em 1980, quando tinha 22 anos de idade, foi convidada pela comunidade para ser professora e diretora do educandário, que até então tinha de 1ª a 4ª série, com aulas para duas turmas pela manhã e duas pela tarde. “Havia um único prédio no local, com três salas e uma capela. Ao redor só havia capoeira.
Em 1981, Lúcia foi cedida pelo município à Escola São Caetano, o que possibilitou implantação do Jardim de Infância e a 5ª Série. Além da parte pedagógica, Lúcia assumiu a catequese e liturgia da igreja, e participava do clube de mães, que promoveu a restauração da capela. Um dos momentos marcantes foi a festa dos 130 anos de colonização, promovida pela escola, em 1983, que reuniu milhares de pessoas em um grande evento. A partir de 1985 foram implantadas 6ª, 7ª e 8ª séries no educandário, que passou a ter mais de 400 alunos.
A escola era particular, mantida com o salário educação, uma contribuição que as empresas davam para cada filho de funcionário matriculado em escola, e mensalidade das demais famílias, além de um CPM muito ativo. Estes recursos além de garantir o salário dos professores em dia, proporcionava a execução de obras estruturais para ampliação do educandário, realizadas em 1987 e 1992.
“A comunidade foi parceira e participativa, com muito trabalho e doações. Todos estavam motivados. Havia dias que tinha mais de 20 pessoas ajudando nas obras. Os pais queriam que a escola tivesse o primeiro grau completo (o ensino fundamental era chamado de 1º grau), pois tinham o medo do envolvimento dos filhos com drogas. O movimento foi liderado por Lizeu Horst e teve adesão massiva das famílias. Buscamos credenciamento da Delegacia Regional de Educação, hoje 3ª CRE, que nos deu uma lista de exigências. O mais pesado em termos financeiros, era a construção de um laboratório. De imediato organizamos uma rifa que teve grande adesão comunitária […] além de manter nossos estudantes perto das famílias, a qualidade de ensino não perdeu em nada para outras escolas e colégios. Na escola estudaram profissionais que se destacam em diferentes áreas, inclusive, o prefeito Klaus Werner Schnack, que foi meu aluno. Também tivemos destaque nos esportes, tendo equipe de vôlei, bicampeã dos Jogos Escolares do Rio Grande do Sul, um coral que se destacava regionalmente e uma horta em que sobravam alimentos para os alunos levarem para casa. O envolvimento com realizações pautava tanto a rotina, que não havia espaço para o bullying”.
O Programa de Assistência Primária de Saúde Escolar garantia o repasse de recursos federais e estaduais para escolas comunitárias. Em 1998, com a diminuição de repasses, as escolas comunitárias foram municipalizadas.
O mesmo espírito de doação e participação em torno da comunidade escolar, possibilitou investimentos na parte social e religiosa da localidade, com a construção do PA-Rural e da igreja.
Mesmo sendo professora dos seus dois filhos, Vagner e Diego Augusto, hoje com 37 e 36 anos, Lúcia, nunca deu privilégios a eles. Ficou afastada do cargo de diretora da escola entre 1986 e 1988, quando assumiu a Secretaria da Educação, entre 1993 e 1996, por motivos políticos, e entre 2001 e 2004, quando foi eleita vereadora e acabou seguindo no educandário como coordenadora pedagógica. Em 2004 foi eleita vice-prefeita.
Ela avalia que a comunidade reconheceu seu envolvimento nas realizações coletivas, e acabou entendendo que precisava da sua representatividade no Legislativo e Executivo do município. Entre outras conquistas, no início da década de 2000, a localidade foi agraciada com asfaltamento da rua Presidente Vargas.
Reconhece que nos dias atuais, com a participação maior do poder público na gestão escolar, urbanização e rotinas do mercado de trabalho, um engajamento semelhante seria muito difícil. Observa ainda que, na época que lecionava, pandemia era algo distante que não preocupava. “Só estava presente em noticiários”, diz. Mas avalia que o poder público acertou em suspender as aulas. “As crianças não se controlam como nós adultos e não entendem a importância do distanciamento. Acabariam sendo transmissores em potencial”, explica.
Atualmente Lúcia é tesoureira da União Comunitária São Caetano (Unisca) e integra o clube de mães. Fora da vida comunitária, atua no segmento de advocacia, sendo especializada no encaminhamento de aposentadorias.