Há quem diga que se esteja vivendo o fim dos tempos: ruas vazias, pessoas cantando na sacada, isolamento social com proibição de ir e vir, lojas fechadas. É um tempo incerto, que deixa a todos com muitas dúvidas, muito temor e medo. No meio deste cenário catastrófico, alguns, insistem em sair de casa e saem para a rua beber e confraternizar, desafiando as recomendações dos profissionais de saúde. O que ocorre é a negação da realidade vivida neste momento, como explica a psicóloga Ivone Brito, de Arroio do Meio. “Nos sentimos ameaçados diante das notícias, queremos viver a qualquer custo e não medimos as consequências. Ao mesmo tempo, nossa maior emoção é o desamparo. Precisamos relativizar as emoções neste momento. O que recomendo para as pessoas nesta quarentena é ter duas coisas sempre em mente: isto tem um começo e um fim. Acredite: tudo passa, isto também vai passar”, explica a psicóloga, parafraseando Chico Xavier. Segundo ela, outra coisa muito importante é confiar nas autoridades e nas informações oficiais e não dar atenção a boatos ou opiniões infundadas.
Para uma relação amorosa e leve dentro de casa, neste momento, é importante tentar não se projetar no outro, ou seja, buscar em si e não no outro o bem-estar e a tranquilidade. “Dedicarmos um tempo para refletir, olhar para dentro, nos perguntar como estamos vivendo tudo isso e o que está despertando em nós. Se possível, fazer esse exercício individual, assim será mais fácil poder compartilhar com nosso parceiro a realidade do que está acontecendo conosco e, assim, nos sentiremos mais acompanhados”, recomenda.
É preciso focar no positivo. Conforme Ivone, é um momento oportuno para questionar sobre o que é importante em nossas vidas. “O que você prioriza como essencial? Do que você mais sente falta neste momento? Quais são as suas responsabilidades e os seus valores humanos? Uma boa maneira de evitarmos os atritos, é sermos educados com o outro. Temos de tentar mentalizar que não estamos com o parceiro ou com alguém que confiamos, mas com alguém com quem devemos ser muito respeitosos e educados, controlando nossas manias e sendo bons com as da outra pessoa”.
Para que os relacionamentos não sejam perturbados pela quarentena, a psicóloga aconselha disciplina e organização. Manter-se ocupado e estruturar o tempo sempre ajudará a ter uma maior sensação de segurança interna. Como dicas para isto, há o resgate de leituras, séries pendentes, dedicar tempo ao cuidado de si ou adiantar trabalhos que normalmente são deixados de lado por falta de tempo. “É um momento oportuno de realizarmos as tarefas domésticas em conjunto com a família, de nos colocarmos do mesmo lado, de compartilhar com nosso companheiro (a) como estamos nos sentindo com tudo isso, de descobrir que temos alguém ao lado que nos escuta e que também tem necessidade de falar sua experiência e suas angústias”, ressalta.
Também é um momento para se estar mais presente na vida dos filhos menores, observá-los, conversar sem tanta pressa, brincar soltando a criatividade. Aproveitar a oportunidade para fazer juntos planos para o futuro: planejar uma viagem, uma reforma da casa, rever fotos com a família.
A psicóloga considera importante, também, passar um tempo sozinho. É preciso uma pausa para si mesmo, limpar a mente praticando relaxamento ou exercitando a respiração diafragmática durante cinco minutos, especialmente quando se estiver prestes a perder a paciência. “Recomendo, também, manter conversação por videochamadas com pessoas de quem gostamos e compartilhar a experiência com elas. Faço um apelo a todos: fiquem em casa! Com responsabilidade e seriedade, vamos juntos passar por isso, e quando tiverem dúvida ou estiverem desanimados, pensem nos profissionais de saúde, que deixam suas casas e vão trabalhar com a convicção de que estão fazendo a coisa certa e necessária. Mesmo tendo muita ansiedade e receios, eles jamais desistem, por nós, pelo nosso bem. Portanto, confie neles”, finaliza, compartilhando ainda um mantra: Entrego, Confio, Aceito e Agradeço.