“O tempo passa, o tempo voa, mas nem sempre a pessoa fica boa”. Desculpem a paródia deste marcante comercial da poupança Bamerindus, mas a vida mostra que muita gente que passa por inúmeras dificuldades, não aprende. Não aprende a dividir, a compartilhar, a ajudar. A ser gente.
É cada vez mais difícil tratar de outro assunto. Uma frase que fiz continua atual. “A nossa rotina é. não ter rotina”. Usei este mote em uma entrevista concedida a um colega do jornal A Plateia, de Santana do Livramento, na época em que era assessor de comunicação do governador do Estado, Germano Rigotto.
Contei ao repórter que, pela manhã, havia um planejamento prévio que raramente se confirmava ao longo do dia, resultado da dinâmica da vida. Hoje, confinados dentro de casa sem a mais tênue esperança de mudança, despertamos com incertezas e só notícias alarmantes.
A exceção fica por conta de exemplos de solidariedade. Muitos protagonizados por pessoas anônimas, de poucos recursos que se cotizam para ajudar. A cada tragédia – deslizamentos, enchentes e outros fenômenos naturais – se diz que os mais pobres exercem a solidariedade com mais vigor.
Apesar das perdas e do sofrimento, creio que
muitos não aprenderão a lição de solidariedade
Voltando ao início desta crônica, lamento ao constatar que tão logo o período excepcional passe, tudo voltará à lamentável normalidade. Prova disso é que vira notícia aquele que devolve uma carteira com dinheiro e documentos. Personagens despontam na mídia por ajudar um idoso ou deficiente físico a atravessar a rua. Educação, respeito e solidariedade são “pontos fora da curva”, motivo de manchete, mas deveriam ser comportamentos rotineiros.
O individualismo campeia solto na vida moderna. Exemplo típico é a doação de sangue, prática rara. Mas basta um familiar necessitar de transfusão para ocorrer “o despertar”, seguido de uma busca frenética de voluntários para ajudar. Sentir na própria pele – e no coração – o sofrimento é a melhor escola, mas nem sempre constitui instrumento de crescimento como ser humano.
Este confinamento, que impede o debate técnico e maduro sobre outras estratégias, causa apreensão. Há casos de suicídio entre empresários e aumento de episódios de depressão. Especialistas também alertam para o risco de aumento exponencial de casos de alcoolismo.
Apesar do enorme sofrimento não creio que a dor e as perdas servirão para melhorar as pessoas. Eles continuarão vendo apenas o próprio umbigo.