O volume pouco expressivo de precipitações pluviométricas desde o fim de outubro, afetou a piscicultura em toda a região. São poucos os açudes que não tiveram prejuízos na produção de peixes.
De acordo com a secretaria de Agricultura e Emater/RS-Ascar de Arroio do Meio, em grande parte dos 240 açudes existentes, foi feita a despesca de forma precoce antes da secagem que poderia causar a mortalidade de peixes. Mas, infelizmente, em diversas situações os peixes não puderam ser salvos. Além da falta de água, o calor excessivo colaborou para as perdas.
Em algumas propriedades com mais de um açude, foi feito o remanejamento de peixes e água para um único açude. A recomendação de manejo nos açudes que permanecem com água, é a diminuição da alimentação, para ajudar no controle da matéria orgânica e nível de oxigênio.
A tendência é de que nesta temporada, pela primeira vez em 26 anos, não ocorra a tradicional feira do peixe da Semana Santa no município. O técnico em agronomia da Emater, Elias de Marco, comenta que a decisão é complexa e releva uma série de fatores, que motivam a cancelar o evento.
Segundo ele, os piscicultores Egídio Rohr, de Linha 32, e DélcioBruxel, de Arroio Grande, teriam peixes. Mas é preciso considerar que com a despesca feita em diversos açudes, muitos consumidores já adquiriram seus peixes de forma antecipada. “Seria arriscado esvaziar açudes, sem ter como garantir a venda de todos os peixes, e providenciar o abate e armazenamento de centenas, caso fosse necessário. Também é preciso considerar que muitas comunidades já estão com o racionamento de água e que a água dos açudes já é essencial para os demais animais. Além disso, a recomendação dos decretos é evitar a aglomeração de pessoas. Já percebemos uma considerável diminuição do movimento de pessoas na feira de produtos orgânicos”, complementou.
Uma forte tendência nesta temporada é a pesca pontual de alguns exemplares para atender consumidores individuais. O secretário da Agricultura, EloirLohmann, acrescenta que todo o calendário de feiras programadas para 2020, ficou comprometido.
“SECA É PIOR QUE A COVID-19”
Para o suinocultor Valdir Majolo, 68 anos, de Picada Arroio do Meio, a seca e os seus impactos no setor primário são piores que a pandemia da Covid-19. “Chega a ser deprimente olhar o milho da vizinhança”, conta. Além da terminação de suínos, Valdir possui três açudes em sua propriedade. Apesar das vertentes e fontes consideradas excelentes, – em 1982 durante a última estiagem mais grave foi sua propriedade que supriu a água da localidade que ainda não possuía poço artesiano – Valdir preferiu, esvaziar os açudes, promover a despesca e realizar intervenções que são complicadas de ser realizadas durante períodos de chuva regular. Foram retiradas mais de 250 carpas da espécie prateada com peso entre 3 a 4 kg e descartadas outras centenas de carpas húngaras fora do padrão. Parte dos peixes já foi comercializada e doada. A família manteve um freezer e meio estocado para consumo próprio. Apenas o menor dos açudes ficou com pouca água, para abastecimento dos animais.
CANCELAMENTO DE FEIRAS É UMA TENDÊNCIA
A maioria dos municípios da área de cobertura do AT não realizarão feiras em decorrência da estiagem prolongada e para evitar aglomerações tendo em vista os riscos de transmissão da Covid-19.
Pouso Novo está com a maioria dos 100 açudes secos ou secando. Em muitos deles, já foi realizada a despesca. Em Travesseiro devem ocorrer pescas pontuais, mas sem feiras. A prioridade dos piscicultores será preservar a água para abastecimentos dos animais. Em Marques de Souza, até o momento nenhum produtor manifestou-se favorável à realização de feiras. O município também sofre com a estiagem.
CAPITÃO TERÁ TRÊS DIAS DE FEIRA
Apesar da altitude de 465 metros, Capitão, é um dos poucos municípios com características geológicas e de fontes favoráveis para piscicultura. De acordo com o agrônomo na Emater, Luciano Braga Cavaletti, e o secretário da Agricultura, Benjamin Fachinni, poucos dos mais de 500 açudes sofreram impactos com a estiagem. A exceção ocorreu em açudes menores com superlotação, baixa lâmina de água e afetados pela serração, excesso de calor e falta de arreador.
A entidade em parceria com a secretaria da Agricultura, irá apoiar a feira de peixes na propriedade de Giovane Bianchini, em São Domingos, ao lado do salão comunitário, que ocorre entre a terça dia 7 e quinta-feira, dia 9. Serão disponibilizados sete mil quilos de carpas, traíras, tilápias, jundiás e dourados. O horário estendido entre o início da manhã e o início da noite, permitirá com que os consumidores possam escolher períodos onde não ocorra a aglomeração de pessoas. Para maior agilidade também é disponibilizado o contato 99552-8100, para pedidos antecipados.
Bianchini é o piscicultor que mais se destaca em Capitão e fornece peixes para diversos municípios do RS, mas neste ano optou em realizar feira na própria propriedade. Entretanto, haverá outros piscicultores que vão fazer a despesca para atender feiras privadas em municípios da região.
A chuva de 30 mm do último domingo e as expectativas para o restante do outono são otimistas.
OVAS SÃO PREDADAS NOS RIOS
A estiagem durante e depois da piracema, a presença excessiva de tilápias – espécie exótica predadora de ovas nativas – preocupa os pescadores artesanais profissionais que pescam na parte alta das bacias hidrográficas. A época, em tese, seria favorável à pesca da piava, grumatam e cascudo, mas o baixo volume de água nos rios, faz com que os cardumes fiquem nos poços mais profundos. Com pouca profundidade, os cascudos são alvos fáceis das tartarugas.
O pescador Valmir Ferreira, morador do bairro Navegantes, entende que o governo deveria ter ampliado ou ter decretado um período de defesa emergencial para garantir a sobrevivência das espécies até o nível dos rios voltar ao normal. “É ideal pescar na nossa região, quando a água atinge a escadaria da barragem. É uma faca de dois gumes. Se por um lado, o governo não quer ampliar despesas protegendo a fauna, muitos pescadores entendem que sem a seguridade social pescar é uma necessidade”, dimensiona.
Segundo Valmir, a seca também atinge a parte alta do Jacuí em direção a Rio Pardo. “De Taquari pra baixo há água e peixes suficientes, mas a Marinha está proibindo a entrada de embarcações para evitar aglomerações de pescadores, como medida de prevenção à Covid-19. Aqui na região, com pouca água, a pesca rende somente para alimentação”, comenta.
Uma saída apontada para controle das tilápias seria a repovoação de alevinos com traíras, entretanto, a medida deveria ser implantada junto com um programa de combate à pesca predatória.
VAREJO E AÇOUGUES GARANTEM POSTAS E FILÉS
Se a compra direta com piscicultores e pescadores ficou comprometida, os supermercados e açougues já estão abastecidos com uma infinidade de espécies de água doce, salgada e cativeiro, diferentes cortes (postas e filé).
De acordo com o proprietário do Supermercado Marel, Wilson Horn, o valor do quilo ficou estabilizado em comparação com a Páscoa anterior. Horn constatou que, em decorrência das incertezas na economia, as famílias estão comprando menos carne de churrasco e que já há maior oferta dos frigoríficos do que demanda de mercado interno e externo, e em breve pode haver queda de preços. A paralisação dos restaurantes e confraternizações também colaborou para a queda na procura.
Por outro lado, apesar da estiagem, Horn também detectou a deflação do tomate, abaixo de R$ 3 e inflação da batata, acima de R$ 3,75 e cebola por mais de R$ 4, em decorrência da dificuldade de colheita, devido ao solo muito duro.