Entre a redação desta crônica e a publicação se vão alguns dias de distância, mas acredito que em relação à única pauta do mundo – o novo coronavírus – o noticiário só aumenta. Esta crise mundial, que ignora fronteiras atingindo países ricos e pobres, abriu os olhos das pessoas para a fragilidade inata de todos nós.
Os valentões e covardes das redes sociais, que distribuem bordoadas e impróprios nas 24h do dia, continuarão sendo assim. Mas, certamente olharão para dentro de si para constatar que são frágeis, não estão imunes ao vírus, correm os riscos dos mortais comuns.
É através da internet e da tevê que chegam as chocantes imagens de cidades fantasmas na China e na Itália. Neste último país, as pessoas distantes e frias vão às janelas para cantar, tocar instrumentos musicais, ostentar faixas artesanais com mensagens de otimismo aos vizinhos.
Foi preciso um tremor sanitário de proporções mundiais para que muitos lembrassem do significado de “solidariedade”. Mesmo assim, as gôndolas dos supermercados foram praticamente saqueadas como se uma guerra estivesse na iminência de eclodir. Minha mulher foi comprar o básico para a casa e deparou com uma mulher que lotou o carrinho com 40 frascos de álcool gel.
A vida é um permanente exercício de fazer do limão, a
Limonada, com algum sofrimento, dor e preocupações
O vírus, que à primeira vista foi gerado e se desenvolveu em uma província chinesa, precipitou no Brasil uma realidade existente há muito tempo em países desenvolvidos: o chamado “home office”. Isso significa, em português direto, trabalhar em casa. O objetivo é evitar aglomerações, tanto no transporte coletivo quanto no ambiente profissional.
Apesar do noticiário, repleto de casos de gravidade e de milhares de mortes mundo afora, convivemos com os céticos que acreditam tratar-se de uma doença “fake”, produzida com fins econômicos. Estes ignoram que famílias sofrem com a perda de amigos, parentes e vizinhos. Outros, com justificativas esotéricas e surreais, encontram explicações para desqualificar a gravidade desta pandemia de alcance mundial.
Não sou ingênuo de acreditar que a humanidade será transformada assim que o vírus for debelado ou se encontrar um antídoto eficiente para conter a pandemia. Mas talvez algumas pessoas repensem sobre a falta de solidariedade e da necessidade de adotar hábitos saudáveis, básicos, mas esquecidos ao longo da vida. Alguns, até, ensinados nos primeiros anos de vida ou nos bancos escolares desde a tenra idade.
A vida é um permanente exercício de fazer do limão, a limonada, com algum sofrimento, dor e preocupações. Há, no entanto, de se ter serenidade para compreender os fenômenos humanos. E extrair deles os ensinamentos que fazem, da nossa existência, um eterno aprendizado e construção.