Os rituais do começo do ano indicavam técnicas para ter boa sorte. Segundo os gurus, existe relação direta entre a sorte e os trajes da virada. Há cores propícias e cores danosas. Neste ano, o azul e o branco foram os queridinhos. Se você não sabia, bem, danou-se…
O comentário mostra que o assunto vestuário é um poço sem fundo.
Eu mesma já falei aqui sobre o que as roupas dizem de quem as usa e como os trajes dos famosos são analisados. Mas pensava que o nervo do tema pegasse as gradações entre dois polos. Em uma das pontas, o afã por adquirir as novidades que a indústria oferece incansavelmente; no outro extremo, a busca por peças atemporais – aquelas de linhas retas e sem excessos, feitas com tecidos nobres e cores sóbrias. Peças que não ficam nunca fora de moda (e que jamais estão na moda, tampouco), as quais você vai usar durante anos e anos.
Pensava assim, até ficar sabendo do prospero negócio de aluguel de roupas. “Chega de guarda-roupas sem graça”, era o título da matéria de uma revista.
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A matéria falava sobre empresa que se dedica a alugar roupas. Funciona como se fosse um clube. Com o pagamento de uma quantia mensal, você se torna sócio. Depois, é só entrar no site e escolher. Recebe as peças pelo correio, acompanhadas de um envelope para a devolução. Você não precisa lavar ou fazer algum eventual conserto, isto fica a cargo da empresa. Se quiser adquirir a peça, a empresa lhe vende por valor um pouco menor do que aquele praticado no comércio – afinal, nessa altura, já se trata de roupa usada.
Qual a vantagem de alugar em vez de comprar?
A vantagem é que você passa a usar peças que jamais teria, se fosse para comprar. Acontece que, quando você adquire um traje, tem de avaliar as possibilidades de uso. Tem de pensar se o investimento compensa. Não vale a pena comprar coisas para vestir uma vez só. Deste modo, você acaba com um guarda-roupas limitado, suas escolhas são pouco criativas. É o tal guarda-roupas sem graça.
Tudo fica diferente para quem participa do clube. Como se trata de aluguel, você dá corda para a ousadia. Você experimenta novos estilos, arrisca outras cores, sente-se livre para escolher o que gosta e nem precisa pensar no custo-benefício. Simplesmente devolve e já fica de olho na próxima extravagância.
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Christine Hunsicker, a dona de um poderoso negócio de aluguel de roupas nos Estados Unidos, admite que com este sistema, na média, as pessoas acabam gastando mais do que se comprassem suas roupas. Mas ficam com uma maravilhosa sensação de liberdade. Não se sentem limitadas nas escolhas. Não precisam agir com prudência, não precisam ser práticas. Autorizam-se a ir só no impulso. Alimentam a sensação de que podem tudo.
E quem não gosta de sentir que é o mandachuva do pedaço?