A abertura do mercado chinês para a carne bovina brasileira impactou de imediato nos açougues e demais estabelecimentos que comercializam carnes. A alta de 40% na rês trouxe o efeito cascata nas carnes de ave, suína, ovina, nos peixes, ovos e outras proteínas.
Conforme analistas, o interesse da China na carne brasileira está relacionado à peste suína que irá afetar a suinocultura chinesa local em, pelo menos, um ano. A tendência é de que, mesmo após a retomada, a rigidez com a biossegurança fará com que a produção não atinja mais o patamar de produção antes do vazio sanitário. E como o Brasil já está num patamar mais organizado do ponto de vista sanitário, na produção de proteínas animais, a tendência é de que o negócio com os chineses se solidificará na próxima década.
Apesar da notícia positiva para os produtores, numa análise mais imediata – para quem tem o boi gordo no ponto para o abate –, não há reposição suficiente de terneiros no mercado interno e isso vai afetar e encarecer o custo de produção. O que é potencializado pela diminuição de campos para aumento de lavouras de soja em âmbito estadual e nacional.
O bovinocultor Elemar Kuhn, 57 anos, morador do bairro Dom Pedro II, revela que os abatedouros e frigoríficos não estão conseguindo pagar o valor indexado pelos indicadores econômicos, de até R$ 7,60 porque foge da capacidade de caixa. Ao mesmo tempo, o valor dos terneiros já está sendo cotado entre R$ 8,50 e R$ 9. “O lucro com a produção de 30 bois gordos não é o suficiente para a reposição de 30 terneiros que estão estimados em R$ 45 mil”, observa.
Kuhn acredita que o governo se equivocou ao abrir o mercado, pois o processo de retransformar lavouras em campos e potreiros e aumentar a recria para atender esse mercado, levará entre três e cinco anos. Além disso, a oscilação de preços e impressão dos indicadores prejudica a bovinocultura de corte que já é bastante sensível em decorrência do longo prazo para liquidez. “Um reajuste mais tímido de até 15% geraria menos especulação e traria mais segurança aos negócios”, afirma. E, por fim, critica a maquiagem que está sendo feita com os indexadores de inflação. “O gás, os combustíveis, a energia elétrica e a carne só aumentam, e dizem que a inflação está sob controle. Logo o salário será incompatível com o custo de vida”, contrapõe.
O Secretário Municipal da Agricultura, Eloir Lohmann, vai ainda mais longe. Revela que o preço motivou muitos bovinocultores a revenderem vacas que ainda dariam recrias, em lotes que estão sendo levados de navio para serem abatidos na China. “Os gaúchos vão acabar tendo que comprar terneiros do Uruguai e Argentina”, explica. Entratanto, Lohmann ressalva que a tendência é de que o preço da carne abaixe após o carnaval, e que os preços elevados no mercado interno só vão se sustentar por causa do 13º salário. “Não há como pagar R$ 13 o quilo da carne de segunda, a consumo vai acabar diminuindo e o preço vai cair, mas não vai mais atingir os valores tão baixos como antes da abertura do mercado para a China.
Varejo absorver inflação
De acordo com o gerente da Divisão Varejo da Dália Alimentos, Daniel Weingartner, com a abertura da exportação para novos mercados, o brasileiro sentiu um pouco a famosa “lei de mercado” demanda e oferta. Com isso a proteína animal acabou sofrendo um leilão e subindo bastante. Mas para o supermercado, que é um intermediário, e lida direto com o consumidor final, acabou ficando muito difícil administrar este aumento repentino. Em algumas situações e momentos não conseguindo repassar todo aumento.
Segundo Weingartner, o rês teve reajuste de 30%, o suíno 25%, aves 18%, peixes 0% e ovino 10%. A notícia boa é que na última semana o mercado estabilizou. Já as aves natalinas sofreram um reajuste em torno de 15%, mas como a maioria dos itens natalinos já estavam nos estoque, o aumento não refletiu tanto. O supermercado só repassou a diferença da reposição. O fato da Dália operar com frigorífico próprio, garante estoque e preços de indústria. Outro destaque são cortes especiais de suínos para confraternização e a parceria com um frigorífico fornecedor de ângus.
Preços nos supermercados e açougues da microrregião
De acordo com açougueiros e gerentes de estabelecimentos comerciais, a carne de 2ª já recuou. Preços da agulha e paleta estão abaixo de R$ 18 e do granito R$ 15. As carnes suína e de aves tiveram reajuste de R$ 2 a R$ 3 o quilo e os embutidos de R$ 1 o quilo. As aves natalinas mantiveram a mesma cotação do ano passado. Os peixes não sofreram impacto.
Rês antes e depois do reajuste
Costela
R$24 a R$29 / abaixo de R$18
Alcatra
R$39,9 a R$48 / abaixo de R$28
Picanha
R$49,9 a R$51 / abaixo de R$42
Vazio
R$33 a R$35 / abaixo de R$26
Filé Mignon
R$55 a R$58 / abaixo de R$45