Tenho um fraco por palavrões.
Não, você não vai me ouvir dizendo palavrão por aí, nem vai me ver botando palavrão no papel. Não acho legal usar palavrão em público. Mas, vamos e venhamos, há ocasiões em que só mesmo um para aliviar. Você dá com o martelo no dedo, você bate o joelho na quina e autch…
Sei que palavrão é uma expressão grosseira e indelicada, indecente, crua. Mas…
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Eu tinha acabado de comentar isso com amigos, quando me caiu nas mãos a notícia seguinte: um dicionário de palavrões foi publicado na França e obteve o maior sucesso.
Intitula-se “Pequeno dicionário de palavrões” e o autor é um professor e linguista chamado Gilles Guilleron. A obra foi lançada com uma tiragem de 10 mil exemplares e se esgotou em um mês.
O livro do prof. Gilles pode ajudar a limpar a minha barra. Ele aceita que o palavrão faz parte de uma linguagem marginal, não autorizada. Aceita que o palavrão ofende o pudor, a moral e os códigos da boa educação. Ele sabe que o palavrão não é ensinado na escola, nem é aprovado pelos pais. Mesmo assim, ah! Mesmo assim reconhece que um repertório de palavrões vem conseguindo passar de geração a geração e se manter vivíssimo. Segundo o autor, palavrões são ditos por todo mundo, independentemente da classe social ou do nível de educação. E até relata o episódio em que o Presidente Sarcozy proferiu um palavrão contra o visitante que se recusou a lhe apertar a mão em evento público.
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Mais de 80% dos palavrões estão ligados a sexo e às funções vitais, como as fezes. Palavrões e insultos de caráter sexual são os mais eficazes. Se o motorista levar uma fechada no trânsito, libera a tensão fazendo um xingamento com conotação sexual. Chamar a outra pessoa simplesmente de “desatento”, por exemplo, não tem, nem de longe, a mesma força de alívio ou de provocação.
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Uma considerável qualidade do palavrão é seu poder de síntese. Os palavrões são prodígios de condensação. Você consegue botar em uma curta expressão a descrição cabal de uma pessoa ou de um acontecimento. É a legítima saída curta e grossa.
Gilles Guilleron encara os palavrões com boa vontade. Para ele, representam um avanço. Têm o poder de aliviar o estresse sem fazer muitos estragos. São um sinal de evolução das relações sociais. Isto mesmo: Guilleron acha que o palavrão representa evolução. No tempo das cavernas, quando a linguagem era limitada – lembra ele – os homens passavam imediatamente ao tacape. Agora, em vez de dar bordoadas, usam palavras.
Tá certo, não são as palavras mais bonitas da língua, mas, ainda assim, apenas palavras. Melhor que o tacape!