Prever o comportamento do tempo é uma atividade a ser enquadrada como profissão de risco, ou “profissão perigo”, igual àquela desempenhada por um dos heróis da minha adolescência: o loiro e cabeludo detetive MacGyver (ou Magaiver, aportuguesado). As loucuras do clima parecem superiores aos avanços tecnológicos.
Omar Cardoso – e depois Zora Yonara – foi sinônimo de presságios através do horóscopo que previa o futuro para o amor, saúde e profissão através dos astros. Isso acontecia nos meus tempos de piá, décadas de 70 e 80, quando o rádio reinava absoluto, onipresente. Esses astrólogos eram ídolos, como Cléo Kuhn é e, há anos, simboliza o mistério dos céus.
Tive o primeiro contato pessoal com o Mago do Tempo ao entrevistá-lo como repórter de Zero Hora. Ele era servidor do 8º Distrito de Meteorologia, sediado em Porto Alegre. Mais tarde fiz uma matéria especial para o nosso O Alto Taquari.
Tenho vários amigos que convivem com Cléo Kuhn. Meu filho, o jornalista Henrique Jasper, foi colega em seu estágio na Rádio Gaúcha e confirma que o pelotense é um cara alto astral. Isso pode ser notado através das ondas sonoras. Alvo de constantes gozações, inclusive por causa da voz semelhante ao personagem Barney, amigo inseparável de Fred Flintstone naquele antigo desenho animado. Mesmo aí Cléo segue impávido.
Apesar da importância, a previsão do tempo
parece ser mais lembrada quando há erros
Ele também leva “de boa” quando o dia desmente as previsões da véspera: em vez de sol, chuva torrencial. Aqui cabe um testemunho: quando fui entrevistá-lo, vi os equipamentos disponíveis em comparação com as novidades existentes nos Estados Unidos e Europa.
Ainda hoje, a distância entre as realidades é enorme. Em muitos países os produtores rurais criam cooperativas para adquirir equipamentos de ponta e potencializar a produção primária. Muitas entidades, inclusive, dispõem de avião e tecnologia para literalmente “fazer chover” em caso de estiagem ou bombardear nuvens de granizo.
Com aparelhos obsoletos, Cléo Kuhn usa a vasta experiência para produzir dezenas de boletins para emissoras de rádio de todo o Rio Grande do Sul. Faz previsões regionalizadas, arriscando até futuras temperaturas. Gente que vai casar, que fará churrasco ao ar livre no final de semana ou vai viajar, lança mão da expertise do “moderno pajé do clima” para se organizar. No verão, a demanda é intensa. Começa já na segunda-feira quando os veranistas de fim de semana montam a programação de praia.
Apesar da importância no moderno cotidiano, a previsão do tempo parece mais lembrada quando há erros. Mesmo aí, Cléo Kuhn não esquenta a grisalha e vasta cabeleira. Faz piada do mesmo jeito que enfrenta as charadas diárias “do sabiá”, personagem criado pelo apresentador Antônio Carlos Macedo, por volta das 5h30min.
Cléo Kuhn é exemplo de como “não perder a tramontana” mesmo diante de severas adversidades. Ao contrário do notório meteorologista, nós não precisamos agradar a milhões de ouvintes. Basta agradar a nossa consciência.