Ser pai é a melhor coisa do mundo, embora o Dia da Mães dê de 10 a zero em repercussão, publicidade e presentes.
A maior bênção da minha vida é o casal de filhos – de 23 e 25 anos. Eles têm personalidades bastante diferentes, mas possuem muitas características comuns. Indiferente à educação dada, aos olhos dos herdeiros, a imagem do pai passa basicamente por três fases distintas.
Na primeira, nos anos iniciais de vida dos rebentos, o pai é super-herói que tudo pode. Dá proteção, amor, ensina tudo e sabe tudo de útil para o futuro. Leva os filhos aos aniversários. Sua corcunda – ou “cacunda”, no linguajar infantil – vira o dorso de um cavalo. Também possui energia para jogar futebol 24 horas do dia. É incansável, carinhoso, sempre presente.
A chegada da adolescência deturpa todas as nossas pretensas qualidades. Somos antiquados, conservadores, castradores e viciados em dizer “não” a tudo. Achamos perigo em todos os lugares. Também odiamos todos os amigos dos filhos e somos pródigos em contrariar a vontade dos nossos sucessores. Em tudo!
A maturidade dos filhos não possui o condão de nos repor na galeria de heróis, mas melhora bastante a nossa imagem. Eles refletem e até reconhecem algumas qualidades e a experiência que acumulamos.
-Meu velho é ranzinza, mas tem algumas virtudes. Ele “cantou a pedra” várias vezes, antecipando o que ia acontecer, mas é ultrapassado em termos de redes sociais e é analfabeto na hora de trocar de celular – costumam comentar com os parceiros de baladas.
Não sou super-herói, nem vilão. Tenho muito a melhorar,
mas todo esforço vale a pena quando envolve os filhos
Aprendi a conviver com esta dicotomia pai herói x pai obsoleto. Faz parte da convivência. Fiz o mesmo com meu pai que infelizmente curti por poucos anos. Gilberto Delmar Jasper nos deixou aos 52 anos. Depois de uma infância difícil, formou-se em contabilidade, conquistou bons empregos, criou três filhos.
Até hoje repito frases e expressões que ouvi na infância. Coisas do tipo “abobado da enchente”, “vai cortar esta melena (cabelo)” e outras bem conhecidas de meus filhos. Ao contrário do velho Giba, costumo conversar e ouvir a gurizada lá de casa. Sou transigente e não tenho constrangimento em pedir desculpas. É natural.
Tenho muitos amigos distantes dos filhos. A correria do dia a dia, as onipresentes redes sociais que esvaziam os encontros familiares, inclusive o churrasco dominical não pode servir de desculpa. Um segredo da boa convivência é os amigos de nossos herdeiros, guardar seus nomes e lembrar a marca da cerveja preferida.
Não sou super-herói, nem vilão. Tenho muito a melhorar, como ser mais paciente e controlar minha ansiedade. Aos 59 anos não é fácil, mas todo esforço vale a pena quando o objetivo é a convivência com os filhos.