Fidelidade é uma característica rara. Não falo da questão conjugal ou afetiva. Falo de marcas, preferências pessoais e indicadores que impactam diretamente na personalidade do consumidor ou usuário de serviços.
Talvez pela idade avançada adoto a fidelidade como forma de reconhecer o bom atendimento de um vendedor ou quando uma marca atende às minhas exigências. Costumo chamar o gerente e faço o elogio a quem me atendeu ou acesso o link de serviço de atendimento ao cliente – o famoso SAC – e deixo a minha opinião. Da mesma forma quando falta respeito e atenção, reclamo. Tudo com educação, claro.
Minha galeria de preferidos começa com o “seu” Grimaldi. Mecânico veterano, baita especialista, sempre disponível. É daqueles que vai na casa do cliente quando a bateria estraga, faz socorro em qualquer lugar e horário e, o mais importante: mostra as peças trocadas, embora eu seja um analfabeto total no assunto. Também exibe orçamentos das aquisições e parcela em até quatro vezes. Além disso, a oficina é um brinco, limpa e organizada. Trabalha com todos os cartões de crédito e débito. Comecei cliente, agora sou um grande amigo.
Há mais de 20 anos corto o cabelo com o Giovani que durante o dia trabalha numa barbearia. Seu público é predominantemente infantil. Laura e Henrique, meus filhos, se tornaram clientes assim que nasceram. Ele vem em casa na hora e dia que a gente marca. Quando esqueço de pegar dinheiro no caixa eletrônico ele “pendura” sem reclamar. Tem uma filha pequena, Giovana, cujas fotos curtimos depois do corte, dou sugestões sobre colégio, amigos. É um tremendo parceiro de longa data.
O jornalismo me seduz pela possibilidade de conhecer gente que honra a raça humana
Rita foi minha vendedora por mais de duas décadas numa loja de marca famosa classe A de roupa masculina. Chegou a pagar minhas compras quando trabalhei com o governador Germano Rigotto e surgia uma viagem de urgência para Brasília. Sem tempo de passar na loja, ela mandava entregar as camisas, passadas e acomodadas num cabide ou dobradas para acomodar na mala. Atualmente ela trabalha em outra loja, mas não perdemos contato.
Em Arroio do Meio, terra natal de minha família e de afetos, as compras de carro têm endereço certo: Meneghini Veículos. São amigos antigos, companheiros de festança, praia e de comemorações. Elio e Enio se mantêm no mercado não apenas pela qualidade dos produtos que comercializam, mas pelas relações pessoais que cultivam e pelo respeito dispensado ao consumidor. O preço, é claro, é fator importante, mas sempre há um diferencial humano na hora da compra.
Poderia relacionar inúmeros amigos que fiz ao longo da vida, fruto de relações comerciais e de trabalho. As afinidades levam a uma relação que transcende a vinculação cliente-vendedor. Neste contexto, o jornalismo, atividade que abracei há mais de 40 anos, também me seduz por isso: pela possibilidade de conhecer gente que honra a raça humana.