Nunca acreditei na prática de fazer promessas no fim de ano. Não acredito que comprometer-se mentalmente com metas tenha a eficácia que muitos apregoam. Além disso, apesar de ser um teimoso assumido e incorrigível, honrando minhas raízes germânicas, não consigo levar adiante a execução de projetos pré-elaborados. Planejamento é uma de minhas virtudes.
No início de 2018, no entanto, contrariei esta convicção. Lembro com exatidão o dia em que peguei papel e caneta para rabiscar algumas intenções para 2018. Foi numa das intermináveis reuniões do meu antigo emprego. Eram encontros que duravam duas, três horas com pautas esparsas, sem temas definidos que sempre terminavam em ordens expressas, sem direito à réplica de subordinados.
Ao longo dos meses duas intenções foram cumpridas. Uma delas envolve o enfrentamento de minha odontofobia, o horror à dentista, fruto de experiências traumáticas de infâncias quando morava no bairro Bela Vista. Numa tarde que beirava os 40 graus fui com minha mãe, a pé, até o dentista. Não lembro quantos dentes saudáveis foram extraídos naquela consulta, mas foi episódio que marcou minha vida.
Por cerca de 30 anos fiquei sem ir ao dentista, até o dia em que minha cunhada, Vera Lúcia, disse ter encontrado o profissional perfeito para superar o trauma. Ela acertou em cheio! Era Rui Vicente Oppermann, atual reitor da UFRGS, um alemão entroncado, de mãos grandes, tremendo gozador que precisou de duas consultas para me acalmar. A limpeza dos dentes foi um pesadelo, mas superei.
Este ano me vi obrigado a fazer dois implantes. Vi e revi inúmeros vídeos do procedimento. Jamais imaginei ter coragem de ter uma broca perfurando minha gengiva e osso, igual àquelas usadas quando a gente quer pendurar um quadro na parede.
Foram apenas duas vitórias, mas com grande significado para mim
Dormi duas horas na véspera do procedimento, realizado em fins de abril, e não me arrependo. A dentista Cláudia Giacobe Presotto e sua incansável secretária, Mônica, foram um bálsamo, perfeitas, amigas e psicólogas que não me deixaram desistir. O cirurgião Ricardo Smidt foi personagem fundamental, explicando passo a passo todo o tratamento.
A segunda missão a que me impus foi mudar de emprego. Como sempre aconteceu na minha vida profissional, pedi para sair. O tratamento pouco educado dispensado aos servidores tornou-se insuportável. Foi uma decisão difícil, mas pensada, tomada numa época de crise, às vésperas da eleição.
As duas vitórias que podem parecer modestas tiveram participação decisiva de meus familiares. Eles compreenderam a importância das decisões para que eu tivesse qualidade de vida. Nem sempre é possível romper com a rotina, mudar de ares, alterar radicalmente nossa vida. Às vezes falta coragem, noutras condições financeiras para “rasgar a fantasia”.
Apesar de duas metas atingidas ainda não decidi se vou repetir o método em 2019. Não contei a vocês, mas no total eram oito medidas fixadas. Além dos implantes e da mudança de endereço profissional, consegui viajar ao menos duas vezes com minha mulher, outro projeto anotado na agenda de compromissos.
Ficaram para trás coisas como voltar às caminhadas diárias (ou frequentar uma academia), rever velhos amigos (compromisso parcialmente cumprido) e prestar trabalho voluntário em instituições filantrópicas. Como vocês podem ver, tenho muito serviço a fazer no ano que se aproxima…