Todos os veraneios da minha infância e adolescência passei em Tramandaí. Meu avô, Bruno Kirst, fundador da empresa Bebidas Fruki – que nasceu no bairro Bela Vista – tinha um casarão de madeira naquele balneário. A primeira tarefa era remover a areia que obstruía a porta de entrada e não as janelas do imóvel.
As viagens ao litoral eram verdadeiras epopeias. No Fusca, o velho Giba (meu pai) acomodava uma carga inacreditável. O tampão traseiro guardava uma infinidade de objetos. O capô dianteiro mal fechava com lençóis, roupas, panelas, bacias, calçados e brinquedos.
Certa feita um pacote de cinco quilos de erva-mate foi acomodado ao lado do tanque de gasolina, abastecido até o limite no posto do “seu” Adolfo Poletto e o líquido transbordou. No primeiro chimarrão litorâneo notava-se o forte odor de combustível, mas a teimosia do velho Giba levou ao uso de toda erva que provocava, digamos… arrotos de aroma automotivo.
Na viagem, perto de Esteio, parávamos sob uma ponte seca para devorar sanduíches de queijo e linguiça com pão caseiro e o café com leite viajava numa garrafa térmica cuja tampa era usada como copo. Usávamos a “estrada velha da praia”, de Santo Antônio da Patrulha, famosa pelos enormes sonhos que valiam por um almoço. Ao chegar à praia meu pai corrida até a fruteira ainda existente, defronte o então Supermercado Real, hoje, Nacional.
A ida ao Parque Tupi era um sonho acalentado ao longo do ano inteiro
Lá fazia um rancho com melancias, um cacho de bananas, dúzias de pêssegos, ameixas e maçãs, além dos butiás trazidos de Arroio do Meio. Eu e minha irmã ajudávamos dona Gerti a esvaziar o Fusca. Ficávamos o verão inteiro em Tramandaí, recebendo a visita de amigos arroio-meenses e parentes. Três visitas eram sagradas: das famílias de Herberto “Xinxim” e Clari Fleck, Erico “Erich” e Hedy Kuhn, e de Arnesto e Helena Dalpian. Eram visitas regadas a chimarrão, cerveja, bolos de chocolate e churrasco. A gurizada tomava uma mistura de xarope de refresco Bela Vista nos sabores groselha, limão, abacaxi e outros, misturados com água.
O Parque Tupi era o sonho de um ano inteiro. Íamos uma única noite, nos últimos dias da temporada, em dias de semana. “Aí tem menos gente e vocês podem andar por mais tempo nos brinquedos”, explicava. Passávamos o dia na praia, mas às 11h30min o velho Giba levantava acampamento e minha mãe preparava o almoço. Depois, meu pai cumpria o ritual da sesta e nós voltávamos de Dindinho para o mar.
Muita coisa mudou, mas o fascínio pelo mar se mantém. Passo apenas alguns finais de semana no litoral, mas pretendo mudar para desacelerar e recordar os bons tempos em que somente lá, na praia, se reencontrava os amigos. E onde aprendíamos a paquerar.
P.S.: Aos mais jovens: vá ao Google e descubra o que é “paquerar”.