Há cinco meses das eleições, paira no ar uma grande incerteza em relação ao pleito próximo. Analistas políticos têm dito que em alguns aspectos a eleição de outubro se assemelha com a de 15 de novembro de 1989, pela pulverização de candidatos. Há 29 anos, (quando o Brasil voltou a eleger um presidente pelo voto direto) para suceder o então presidente José Sarney, que havia sido empossado em lugar de Tancredo Neves que não chegou a assumir porque faleceu, havia uma grande expectativa e esperança por mudanças.
Redemocratização
Nas eleições de 1989, vencidas por Collor, que se apresentou como Caçador de Marajás, pelo partido PRN – Partido de Renovação Nacional, o eleitor teve que decidir entre 22 candidatos, entre eles personalidades conhecidas, algumas das quais ainda fazem parte do cenário, como o próprio Collor e Lula que então disputaram o segundo turno. Outros conhecidos, como Paulo Maluf, Afif Domingos, Ronaldo Caiado, Fernando Gabeira, Roberto Freire… Já falecidos como Aureliano Chaves (PFL), Ulysses Guimarães (MDB,) Mário Covas (PSDB), Brizola e outros. Aqui em Arroio do Meio e demais municípios o grande vencedor das urnas foi o engenheiro Leonel de Moura Brizola, do PDT. Ele ganhou no RS com 67,6% dos votos. Embora tenha ganhado também no Rio de Janeiro onde foi governador, os votos não foram suficientes para ir ao segundo turno. Os representantes de tradicionais partidos, como Ulysses Guimarães do MDB, nem Paulo Maluf do PDS, que tinham maior base eleitoral fizeram votação expressiva. Na época líderes locais atribuíram o baixo desempenho do líder emedebista à fraca atuação da economia, inflação alta, fracasso do Plano Cruzado e ao fato do partido ter votado pela prorrogação do mandato para cinco anos e os pedessistas ao desgaste da sigla e a transferência de 30 a 40% de votos ao Brizola, porque o eleitor depositava nele maior confiança no líder gaúcho e pelo desgaste do próprio Maluf.
Já no segundo turno, como sabermos, Collor ganhou as eleições, mas aqui na região, a esquerda levou a melhor em parte porque Brizola conseguiu transferir sua votação para o candidato da Frente Brasil Popular, Luís Inácio Lula da Silva e porque os movimentos sociais de esquerda começaram a crescer.
Novas esperanças e realidade
Mesmo que o atual cenário tenha algumas semelhanças, não se pode tapar o sol com a peneira. A esperança talvez seja que depois da condenação de poderosos, a partir da deflagração da Lava-Jato que levou à cadeia empresários e políticos da alta cúpula, podemos iniciar um processo de renovação política, de fato. Mas, diante da pulverização, dificilmente o candidato vencedor terá ampla maioria de apoio, porque aquele que assumir terá que fazer reformas muito duras, que atingirão interesses de privilegiados. E para fazer as mudanças terá que ter o apoio do Congresso. Um dos principais motivos do impeachment de Collor foi a falta de apoio parlamentar e Dilma Rousseff passou pela mesma situação. Já Lula se enredou no Mensalão, comprando apoio parlamentar com dinheiro de propina. Estamos, portanto, num cenário político de incertezas, porém continuamos com esperanças. O leitor poderá dizer que o brasileiro não é muito consciente, não liga muito para a política, não analisa na hora de votar… É possível. Mas, mesmo que ele esteja alheio a análises políticas, porque por necessidade está focado na sobrevivência do dia a dia, ele olha TV, lê jornais, escuta rádio e já sabe que as redes sociais não tem um peso tão significativo. Para o eleitor, a briga radical e ideológica entre esquerda e direita não resolve os problemas crescentes que ele enfrenta diariamente em relação a emprego, educação dos filhos, segurança pública, saúde, altos impostos, baixo poder de compra, alta de preços da luz, água, gasolina, comida…
Para que haja mudanças é preciso mudar o sistema. Não será um homem sozinho que vai conseguir isto. E, os que se propõem a fazer parte do parlamento, os que fazem as leis deste país, terão coragem???