Vi a gurizada voltar às aulas depois de dois meses de preguiça. É difícil não lembrar dos bons tempos da Escola Luterana São Paulo e do Colégio São Miguel que tive o privilégio de frequentar, além do Colégio Estadual Presidente Castelo Branco, o Castelinho, de Lajeado, este por apenas um ano.
A compra do material escolar era uma das tarefas mais agradáveis. As “vacas eram magras” nos idos do final dos anos 60 quanto estreei nos bancos escolares. Cada item da relação – bem menor que o rol atual – era minuciosamente pesquisado em lojas, gráficas e armazéns de Arroio do Meio e de Lajeado, antes da aquisição final.
Eu e minha irmã tínhamos pouquíssima ou nenhuma ingerência na escolha dos itens – cadernos, lápis de cor e preto, réguas, borrachas e outros que tais. O que interessava era o preço. Feita a compra, a tarefa consistia em separar os objetos.
Um dos passatempos que gerava grande expectativa era o encapamento de livros e cadernos. Dona Gerti Jasper limpava a mesa da cozinha com capricho antes de empilhar tudo cuidadosamente. Munida de tesoura e olhos de lince cortava o plástico transparente, dobrando milimetricamente os cantos. Sem rugas, dobras ou imperfeições.
É tentador imaginar como hoje muitas coisas são bem mais fáceis
Na parte interna o plástico era colado com fita durex. O esmero arrancava sorrisos de nossa parte. Era um orgulho ter pais comprometidos com a nossa educação. E isso começava no capricho da proteção do material, a partir das capas de plástico.
Etiquetas de papel recortadas com precisão continham nosso nome à respectiva matéria daquele caderno. Ao final do trabalho, a pilha era montada simetricamente, deixando um cheirinho de plástico novo no ar.
As canetas hidrocor eram raridade, mas usadas à exaustão. Recebiam uma carga de álcool “para render mais”, otimizando a sua utilização. As pontas de lápis preto e de cor eram apontadas com uma lâmina afiada, as Gilettes, manuseadas com destreza pelo velho Giba, hábito que adoto até hoje. Nunca gostei de usar apontador que quase sempre facilitava a quebra da ponta.
O uniforme, os tênis e as meias raramente eram novos. O custo não cabia no orçamento. Os calçados sofriam porque vínhamos da Bela Vista até o centro da cidade a pé, chutando pedras, pisando no barro ou comendo poeira.
Foram experiências que nos forjaram como pessoas comprometidas para valorizar cada presente, cada conquista, cada avanço na vida escolar. Comparar épocas tão diferentes é injusto, mas é tentador imaginar como hoje muitas coisas são bem mais fáceis.