Aos 27 anos a professora Aline Schmidt, filha de Iara e Antônio Schmidt, vive uma grande experiência de vida. Formada em Letras-Português/Inglês, até o segundo semestre de 2017 morava em Bela Vista, Arroio do Meio, e atuava como professora de Inglês na Escola João Beda Korbes, no Colégio Bom Jesus São Miguel e na Escola de Línguas Phoenix, em Lajeado. Em agosto foi atrás de sua paixão por línguas e mudou-se para a China, onde vai ficar quatro anos estudando Mandarim. Confira as impressões da professora brasileira que é aluna na China.
AT – Desde quando está na China e o que a motivou a ir para o país? Quando retorna? Por que a escolha pelo mandarim?
Aline – Estou morando em Macau desde agosto de 2017. Morei fora por um tempo há alguns anos, e desde que retornei ao Brasil, tinha a ideia de passar uma temporada fora novamente, mas sem ideia de país de destino. Vi o edital da Univates ofertando uma bolsa de estudos para uma graduação completa em licenciatura em Mandarim e sem pensar muito, me inscrevi. Acabei sendo selecionada e tive pouquíssimo tempo para dar o aceite. Foi bem difícil deixar o trabalho e meus alunos, mas resolvi me jogar nessa experiência pois sabia que seria única. Sou apaixonada por línguas, graduada em Letras-Português/Inglês, sempre tive vontade de aprender novas línguas e essa era minha meta, porém, nunca havia passado pela minha cabeça estudar Mandarim, por ser algo tão diferente. Hoje estou cursando o segundo semestre de licenciatura em língua chinesa e estou cada vez mais apaixonada pelo idioma e sua amplitude. Tenho aulas manhã e tarde de segunda a quinta-feira. Por fora, ainda faço curso de Francês, duas noites por semana.
A graduação tem duração de quatro anos, sendo três em Macau e um em Beijing, então retorno ao Brasil, de vez, só após esse período. Devo voltar no ano que vem durante o período de férias aqui, para visitar família e amigos.
AT – Qual tem sido o maior desafio na China?
Aline – Consegui me adaptar facilmente aqui, pois Macau é uma colônia portuguesa, então muita coisa ainda é escrita em português, como placas e ônibus. Apesar de o Português ser uma das línguas oficiais de Macau, apenas 5% da população fala o idioma, e poucos falam Inglês, o que as vezes acaba sendo um desafio. A língua falada em Macau é o cantonês, então também acaba sendo complicado poder usar o Mandarim que aprendo na faculdade. As pessoas até entendem Mandarim, porém não em todos os lugares. Dessa forma, julgo que o maior desafio é a comunicação, seguido da comida, que é bastante diferente, mas eu até gosto (risos).
AT – Como os chineses tratam os estrangeiros?
Aline – Aqui em Macau, ao menos, as pessoas demonstram bastante interesse em relação a estrangeiros falantes da língua portuguesa. Especialmente jovens, estudam a língua e nos contatam para haver essa troca – português/chinês – para que ambas as partes possam se beneficiar. Inclusive o IPM (Universidade na qual estudo) promove diversas atividades para integrar alunos chineses e estrangeiros. No ano passado, consegui organizar um encontro da minha turma com alunos chineses de outra universidade daqui, que estudam português, através do professor deles.
Fora isso, os chineses olham para estrangeiros com curiosidade, por sermos “diferentes”. É super comum andar na rua e algum chinês te parar pedindo para tirar uma foto contigo. No início era meio estranho, depois acostuma, ainda mais por Macau ser uma cidade turística e receber em torno de 100 mil turistas por dia, a maioria da mainland China.
AT – No que se refere à educação, quais são as principais diferenças da China em comparação com o Brasil? Antes de ser estudante de Mandarim você atuava como professora. Que percepção você tem dos professores chineses?
Aline – Sabe-se que o ensino na China é um dos mais rigorosos do mundo. A diferença está na dedicação extremada dos alunos desde crianças, na persistência, especialmente na disciplina nas escolas e na capacidade enorme que o estudante chinês desenvolveu ao longo dos anos para focar-se em seus objetivos. Estas qualidades são cobradas por seus pais, professores e sociedade em geral, desta forma, estudam muito e o estudo é muito importante para eles. É um desafio constante procurar fazer mais e melhor academicamente que os demais colegas de classe, pois só quem alcança um sucesso acadêmico consegue competir por um bom emprego no país mais populoso do mundo.
Em relação aos professores, noto uma diferença gritante, tanto em termos de respeito quanto valorização financeira. Desde cedo, os alunos são ensinados a tratar o professor de maneira educada, dirigindo-se a ele sempre de maneira respeitosa e cortês.
AT – No retorno ao Brasil pretendes seguir na profissão?
Aline – Não sei. Muita coisa pode acontecer em quatro anos. A China é um país de muitas oportunidades e estou aberta ao que vier.
AT – Como está sendo a experiência em solo chinês?
Aline – A experiência está sendo ímpar. Em nenhum momento me arrependi de ter tomado a decisão de largar tudo e vir para cá. Estou bem feliz aqui. O país é muito bem desenvolvido e tem ótima infraestrutura. Mas o que mais gosto daqui é a segurança. Posso caminhar na rua de noite ou madrugada sozinha usando o celular, pegar ônibus a qualquer hora do dia, sem medo. Não há violência, não há roubos, tudo é muito pacífico.