Em rápidas férias depois de cinco anos sem folga, publico texto que se encontra em meu blog (gilbertojasper@blogspot.com.br) que também está em férias há algum tempo.
“Seu fofoqueiro!”. Estou acostumado com a qualificação que, para a maioria das pessoas, soa como ofensa. Em resposta, afirmo:
-Tens razão! Afinal, sou um fofoqueiro diplomado e remunerado! – referindo-me à situação de jornalista profissional formado na Unisinos no longínquo 1985. E que é meu ganha pão desde os 16 anos.
Em tempos de radicalização – um homem de verde-amarelo foi visto depredando um semáforo só porque estava vermelho! – a ânsia em contar “novidades” transcende o bom senso. Este comportamento é até compreensível, principalmente em decorrência da velocidade dos fatos.
A informação nova envelhece em minutos, tamanha a intensidade dos dias recentes vividos na ilha da fantasia, conhecida como Brasília.
Há séculos que a troca de notícias “informais” – injustamente denominada de “fofoca” – é um esporte nacional. Este processo de distribuição de novidades envolve simpatias e antipatias, reações típicas das relações humanas. Se o protagonista do “causo” for uma pessoa das nossas relações, é comum minimizar seus erros e exagerar nas cores quando o assunto for suas qualidades.
A vida é um eterno “telefone sem fio”, uma das brincadeiras infantis mais antigas do mundo, cada vez mais atual. Sentadas no chão, em círculo, as crianças ouvem, ao pé do ouvido, uma frase ou notícias do vizinho, e passam adiante o conteúdo. No final, o último integrante fala em voz alta o que compreendeu. Diante da frase original, proferida pelo autor, todos caem na risada, tamanho disparate entre uma e outra.
As revistas de circulação nacional fazem uma espécie de “telefone sem fio”, mas em dimensões continentais, com consequências devastadoras. A revista Veja, de maior circulação e repercussão no Brasil, solapou reputações até então inatacáveis. Cito duas: o gaúcho Ibsen Pinheiro, então presidente da Câmara Federal, e Alceni Guerra, que era ministro da Saúde. Sem falar do episódio da Escola de Base, de São Paulo.
Foram dois escândalos que soterraram biografias ilibadas que se desmancharam assim que a publicação chegou às bancas. Hoje, os que alimentaram estes e outros boatos corrosivos à moral das vítimas clamam por “punição à imprensa golpista” diante dos escândalos via Petrobras.
São visões diferentes, conforme a ótica de cada um. Homens, mulheres, jovens, aposentados, autoridades de todas as raças, credos e sexos. Todos “trocam informações” constantemente. Ampliam virtudes, suavizam defeitos, carregam nas cores, alteram detalhes e que, no frigir dos ovos, podem transformar heróis em vilões. E vice-versa.
Diplomado ou não, o fofoqueiro é um personagem que vive dentro de todos nós. Mas que é odiado quando interpretado pelos outros.