O sonho em viver do esporte foi deixado de lado em razão da falta de incentivo. Nem mesmo as boas atuações em campeonatos nacionais e internacionais sensibilizaram empresários da região a patrocinar Jeremias Gasparotto que, entre as conquistas, ficou em 1º lugar no ranking Sul Americano de Skate Downhill em 2016. O esporte tem como finalidade descer ladeiras íngremes imprimindo alta velocidade.
O estudante que ganhou seu primeiro skate aos três anos e iniciou no esporte como um hobby, se aperfeiçoou na modalidade downhill aos 13 anos, quando se tornou um competidor profissional. Com 18 anos coleciona na estante de sua casa, no bairro Bela Vista, inúmeros troféus e medalhas conquistados em campeonatos estaduais, nacionais e internacionais. Entretanto, a falta de estímulo e incentivo financeiro o fez abandonar as competições. “Vou continuar praticando o esporte, mas somente como lazer”.
Conta que ao contrário do que muitos pensam, o esporte é oneroso, principalmente em nível profissional onde o esportista tem gastos com equipamentos, deslocamento, alimentação e estadia. Os equipamentos de segurança, indispensáveis à prática do esporte como macacão de couro, tênis, luva com casquilho, capacete fechado e o skate próprio para velocidade são caros e necessitam de recursos que o atleta não possui. “Para se ter uma ideia, um skate usado e em bom estado custa em média R$ 2 mil. Imagina todos os equipamentos necessários”, observa.
Jeremias lembra ainda que há outros gastos. Para manter-se em nível competitivo é necessário treinar diariamente, ter acompanhamento nutricional e físico que deve ser realizado por profissional capacitado. “Para estar no topo e entre os melhores do mundo é preciso se abdicar de muita coisa. Treinar com o pessoal que disputa campeonatos. Nos fins de semana meu pai me levava para praticar na Serra Gaúcha com atletas de lá e de Porto Alegre que são de alto rendimento. Esse pessoal dedica-se exclusivamente ao esporte. Para acompanhar esse ritmo é preciso recursos financeiros”, destaca.
Jeremias lembra que no último ano fez uma peregrinação pelas maiores empresas da região em busca de patrocínio. Em todas apresentou um projeto de captação de recursos em que levaria o nome das empresas patrocinadoras para além do Vale do Taquari propagando a imagem, divulgando produtos e auxiliando na publicidade. Contudo, a tentativa foi em vão. “Eu sempre soube que não seria fácil conseguir auxílio. O skate ainda sofre muito preconceito. A cada não que ouvia fui desmotivando, mas meus familiares e amigos sabem o quanto me esforcei para seguir no esporte. Dói muito ver o sonho desmoronar dessa forma. Só patrocinam futebol”, lamenta.
Entretanto, o sonho em ganhar a vida fazendo o que mais gosta batia latente no peito de Jeremias que jogou todas as suas fichas em sua última chance: o Bolsa Atleta. A bolsa é destinada a atletas que se classificam da 1º a 3º colocação no ranking Brasileiro ou Sul Americano. Como havia conquistado a 1º colocação no Campeonato Sul Americano na categoria Junior (até 18 anos) teria direito. A decepção maior ocorreu no início do ano quando soube do corte em 80% da bolsa que era sua última esperança. “As inscrições para essa bolsa, que era minha última esperança, ainda não abriram e não têm previsão para abrir. Fiquei a ver navios”, desabafa.