O ano de 2017, prestes a se encerrar, vai ficar na memória dos agricultores familiares, como um período negativo, com a constatação de um processo de empobrecimento, em que, segundo estimativas da categoria, houve uma redução na rentabilidade das principais atividades econômicas, de algo ao redor de 27%.
Os custos de produção tiveram uma evolução positiva onde, sobremodo, os principais insumos impactaram no desequilíbrio final. Os combustíveis, a energia elétrica, sementes, fertilizantes, produtos veterinários, nenhum deles teve preços diminuídos. Contrariamente, os preços de praticamente todos os produtos agropecuários registraram quedas, resultando o mencionado saldo negativo.
2017 foi um ano de muitos debates e insatisfações para a categoria dos agricultores familiares. A crise envolvendo as várias cadeias produtivas, mas, sobretudo, o leite, transformou todos os dias em incertezas, em dúvidas, fazendo um grande número de produtores desistirem da atividade.
A produção de grãos não repetiu o bom desempenho do ano anterior. Mas o desmantelamento do antigo Ministério do Desenvolvimento Agrário, que acabou sendo extinto, pode ser colocado como um fator decisivo na ausência de políticas públicas mais centradas em favor da produção familiar. Pois não mais existindo o MDA, o setor ficou desamparado, desnorteado, não sabendo muitas vezes a quem recorrer e a quem dirigir as reivindicações ou mesmo reclamações.
E a partir desse balanço, considerado negativo, tenta-se projetar o próximo ano de 2018, que será atípico, por ser ano eleitoral. Tudo, ou quase tudo estará voltado ao debate e embate político, quando se dirá, muitas vezes, que a lei eleitoral impede procedimentos, inibirá programas, reiterando-se as tradicionais boas intenções, para não dizer promessas.
A classe trabalhadora rural entende que a situação da agricultura familiar chegou ao fundo do poço. E que é hora de virada, a partir do reconhecimento e da valorização do trabalho da agricultura familiar. A estabilidade política, a superação da crise econômica e moral e a pacificação de setores como a previdência social, são fatores que poderão contribuir para essa ansiada virada.
Trabalho voluntário
A propósito do que a maioria dos brasileiros reclama, que são os privilégios, a má distribuição de renda, beneficiando uma minoria, algumas categorias profissionais, com ganhos em forma de “auxílios”, de moradia, de combustível, viagens, empregados, motoristas, veículos, vales refeições, verbas para médicos, dentistas, escola gratuita para dependentes, cartões corporativos, dois meses de férias por ano, e outras vantagens mais, e que normalmente trabalham de terças a quintas-feiras, contrasta radicalmente com uma massa de trabalhadores que são fundamentais na organização e no desenvolvimento do país. É o trabalho heroico e normalmente anônimo dos voluntários.
O trabalho voluntário, gratuito, está presente em todas as nossas instituições, entidades, clubes sociais, círculos de pais e mestres das escolas, das entidades de caridade, organizações religiosas, enfim, tantas outras atividades e ações.
A justiça social, a igualdade, a crise econômica, passam pela discussão dos desperdícios que ocorrem de um lado e a multidão de pessoas que trabalham, sem visar ganhos, mas para o bem do grupo a que pertencem.
Há poucos dias uma pessoa de idade disse que faz parte de diretorias de entidades de sua comunidade já por mais de 50 anos, sem nunca ter tido uma remuneração, sem nunca cobrar nada. Não fosse essa disponibilidade gratuita, com certeza estaríamos vivendo um verdadeiro caos em termos de sociedades e comunidades.