Até o final do ano todos os municípios gaúchos devem contar com, no mínimo, cinco brigadianos, segundo anunciou o secretário de Segurança Pública do Estado, Cezar Schirmer, em reunião-almoço realizada em Arroio do Meio, na sexta-feira, no Hotel Moinho da Luz. Promovido pela Associação dos Municípios do Vale do Taquari (Amvat), o evento contou com a presença do deputado Edson Brum (PMDB), prefeitos, autoridades locais e regionais, líderes de entidades e comunidade.
Segundo o secretário, já no mês de agosto todos os municípios contavam com o efetivo mínimo de três brigadianos. Reconheceu que é preciso ampliar o efetivo tanto da Brigada quando da Civil, mas disse que a questão da segurança pública não é de simples solução. “Não há milagre. Não se resolve problemas de décadas do dia para a noite. Infelizmente não é só no Rio Grande do Sul, mas no Brasil o poder público recuou. Houve um vazio de ações na área da segurança pública nos últimos 20 anos em todo o país. E vazio não existe, não existe vácuo. Quando tem espaço vazio alguém ocupa e o crime ocupou esse espaço. O crime cresceu muito nos últimos 20 anos no Brasil. O poder público foi recuando e o crime avançando”, ressaltou, dizendo que o poder público tem de mostrar que está no controle.
Apesar dos investimentos do Estado, declarou que não basta efetivo para combater a criminalidade. É preciso uma série de ações e, sobretudo, somar esforços com os municípios e a sociedade civil organizada. “Não é uma questão secundária, de fácil solução. Chegamos num ponto de gravidade do problema no qual nos somamos no enfrentamento ou perdemos a guerra”.
Schirmer expôs números que mostram o quadro de insegurança enfrentado no Estado e em todo o país e apresentou o SIM – Sistema de Segurança Integrado dos Municípios. Participam do SIM municípios, sociedade civil organizada e instituições federais e estaduais. O sistema visa a integração de ações de prevenção, de tecnologias, de operações, de informações e inteligência e no sistema penitenciário e na ressocialização.
Os números da insegurança
Em 2015, de acordo com a Organização das Nações Unidas, a ONU, o Brasil sozinho registrou um total de homicídios maior do que a soma de 150 países. Foram 55.525 homicídios nos 150 países e 55.574 no Brasil. Se somadas as mortes no trânsito, que também envolve segurança, significa que em torno de 120 mil pessoas morreram de forma violenta no Brasil, em um ano.
Entre 2011 e 2015 foram registrados 279 mil assassinatos no Brasil, sobretudo de jovens. Mais do que a guerra civil na Síria que nos últimos cinco anos vitimou 256.124 pessoas.
No Brasil 500 mil veículos são roubados ou furtados por ano e são registrados 45 mil estupros – número aquém da realidade já que as vítimas nem sempre registram a ocorrência.
O roubo de carros no Estado representa 7,7 % do total registrado em todo o Brasil, enquanto que os homicídios em solo gaúcho representam 4,4% e os estupros 3,3%. Hoje o Rio Grande do Sul é o 19º Estado em homicídios, o 21º nos estupros e o 6º em roubo/furto de carros.
Sistema carcerário
Para o secretário de Segurança, o elo frágil do sistema de segurança pública do país são os presídios. Superlotados, misturam presos de diferentes periculosidades e quando saem 69% dos presos voltam ao crime. A reincidência, segundo Schirmer, está diretamente ligada à falta de confiança da sociedade, já que dificilmente um ex-presidiário consegue um emprego. Neste sentido, elogiou o trabalho feito pelo Conselho da Comunidade junto ao presídio de Arroio do Meio, buscando a ressocialização do preso.
Prevenção
Diante da dimensão da criminalidade, Schirmer defendeu o seu combate de todas as formas, sobretudo pela prevenção. Esta engloba a repressão aos pequenos delitos, já que nenhum criminoso inicia neste caminho com um crime de grande porte. “São os maus costumes, as pequenas coisas que se não forem coibidas levam a uma conduta permissiva que vai levando ao crime”, afirmou.
Da mesma forma, salientou que é preciso resgatar certos conceitos que estão em desuso no Brasil, a exemplo da ordem decorrente do cumprimento da lei, da organização social, do respeito às pessoas. “A minha liberdade começa onde termina a tua”.
Sobre a violência doméstica, que lidera o número de chamados da Brigada Militar, observou que uma criança criada neste ambiente vai reproduzir essa violência na escola, na rua, na vida adulta. “Vivemos numa sociedade violenta, permissiva, doente. A tessitura social está rompida. Os exemplos não são edificantes como sabemos de todo o país, de alto a baixo. E esta realidade é indutora do crime e da violência. Indutora dos números que vimos”, afirmou, destacando a importância da Cipave nas escolas, levando a cultura da paz.
Para o secretário é preciso iniciar a prevenção pelas crianças e também mudar as relações pessoais. Embora seja um caminho de longo prazo, Schirmer disse que o Rio Grande do Sul tem programas para criar uma nova realidade e se tornar um modelo. “Se não mudarmos a sociedade violenta que vivemos não temos futuro. Aí não adianta aumentar efetivo, vamos ter de encher o Brasil de presídios”.
Drogas
O secretário afirmou que o Brasil já é o segundo maior consumidor de cocaína do mundo e que seu consumo não causa apenas problemas para a segurança pública, mas para a saúde, sobretudo quando é consumida por jovens ou crianças. Por isso seu tráfico precisa ser combatido. “Estamos comprometendo o futuro do Brasil e estamos achando que a droga não faz tanto mal. Faz sim, e muito mal. Não só mal para a segurança. Faz mal para o futuro do país, faz mal para a qualidade de vida, faz mal para a saúde. Compromete a nossa nação”.
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