Setembro, mês de superdose de patriotismo e bairrismo. Vai passar eu sei, assim como espero que passe essa onda de pessimismo, delações, prisão para tão poucos. E o povo que pede a volta dos lobos, dos tubarões ao poder e esquece que foram bufões de farda que permitiram esse momento trágico. Vai passar, até o dia 30 estarei um ano mais velho, dono de minhas lições e ainda esperançoso de que veremos um país livre da corrupção, da ignorância, da falta de educação e amor próprio. O meu ideal – e cada um deve ter o seu – é uma tarde a beira mar, céu azul, águas cristalinas e gente a circular sem medo, gente irradiando paz e felicidade. Sei lá, uma tarde bossa-nova, com acordes ricos e com bares lotados, onde nada é excesso.
Mas a realidade é que estamos longe desta minha fantasia. Eu em Porto Alegre e o meu Lago Guaíba, longe de tanta pureza, meus amigos do Vale do Taquari em situação um pouco mais confortável, mas todos, igual a este que agora digita ainda distantes dos cenários perfeitos de uma boa fantasia. Tenho amigos que pensam que o ideal é estar em casa, lendo um bom livro, ouvindo música – samba, sertanejo ou rock – cada um com a sua fantasia.
Tenho pensado em projetos futuros que foram engolidos no presente e digeridos no passado. Um curso de extensão, uma aplicação bacana na Bolsa de Valores. O casamento? Sim tem gente que ainda acredita que a culpa de seus relacionamentos é o cotidiano complicado, o sogro, a sogra, a presença dos filhos que te fazem dividir amor, atenção e ao final, devolvem uma conta abusiva no cartão de crédito. Todos sabemos que não é só isso. Temos trocas surpreendentes no cotidiano, mas não são as conquistas positivas, que me interessam aqui. Estou escrevendo para descarregar a raiva de viver em um país que não permite um minuto de relaxamento pleno.
Na semana passada uma colega me argumentou que embora com 28 anos já estava divorciada. Que o amor sucumbira ao amadurecimento. Percebera que a vida lhe oferecera a melhor oportunidade na hora errada. “Comecei com um marido perfeito pra quem curte jogos digitais, lutas na televisão e uma cabeça vazia guiada pelo corpo”, disse. Gente, 28 anos! Ótima idade para uma pós, um curso, um concurso, pensar em um projeto para o futuro, um casamento, quem sabe? Mas ela estava encerrando uma relação!
A primavera está aí, espero que ilumine essa menina amadurecida à força, para decisões menos afobadas e uma preocupação com coisas que possam ser perenes, bons momentos. Quem sabe, a nova estação permita a essa jovem um amor efetivo e menos afobado na paixão, para que tudo possa dar certo.
A mesma pressa temos nas coisas da Nação. Os políticos, os cidadãos de todos os ramos. Casados tão cedo com responsabilidades amargas, que acabaram por desistir de buscar caminhos justos, em troca de caminhos aparentemente fáceis. Alguns estão nas cadeias, outros no comando. Eu temo pelas famílias que teremos brevemente, se nada mudar entre essa gente que casa cedo, ou os que cedo colocam filhos no mundo e os soltam para a educação das ruas.
O Brasil de cada um de nós tem pressa e nossas fantasias precisam de chão fértil, de cultura e educação, para que tudo não se resuma a tristeza que ocupa a mídia e desilusão que nos deixa prontos para qualquer coisa e não será de qualquer coisa que comporemos a nova e definitiva trilha do bem.
Por enquanto, que sigamos com nossas fantasias eu com meu ideal bossa-nova e vocês com os seus. Quem sabe tanto se fale em moralização que funcione. Eu estou ainda meio perdido, como quem dormiu no meio de um filme e acordou em outro. O final feliz da comédia romântica foi trocado por um roteiro de terror. E é tão assustador que deixar a poltrona passa ser um ato de coragem.