“Comportamento” e “faltas”.
Havia muitos outros quesitos – que a gente chamava de “matérias” – no finado Primário, hoje Ensino Fundamental, lá Escola Luterana São Paulo, onde estudei sob o comando carinhoso da dona Dorothéa Suhre.
Apesar de tantas informações do boletim, meu pai se fixava inicialmente nesses dois quesitos: “comportamento” e “faltas”. Como sofri de amigdalite ao longo de toda a infância, o velho Giba anotava os dias em que a febre passava dos 38 graus. Era pré-requisito para ficar em casa abaixo de doloridas doses de injeções de benzetacil aplicadas por minha avó, Wilma Kist. No final do mês, meu pai conferia o calendário de ausências com os números do boletim. Por estas e outras eu não era maluco de “gazear” aulas.
Lembro sempre deste detalhe da minha vida escolar ao deparar com barbaridades cometidas por crianças e adolescentes. Seria burrice comparar épocas tão distintas, mas alguns preceitos independem do tempo. Como acontece em todos os lares, meus filhos costumavam trazer colegas para passar feriadões em nossa casa quando crianças. Foram incontáveis as vezes em que os pais sequer ligavam em busca de notícias. Houve casos onde tivemos que levar a piazada para casa. Os pais não se dignaram a buscá-los.
Educar é estabelecer limite, dar bom exemplo e a chance para o perdão
A rigidez da infância da minha geração (nasci em 1960) beirava a barbárie. Nem falo dos castigos físicos, mas do conjunto de crueldades com proibições esdrúxulas, humilhações descabidas, impossibilidade de balbuciar alguma justificativa para explicar nossos atos. Passou-se de um extremo a outro. Hoje tudo é permitido e até aplaudido com entusiasmo irresponsável, confundindo-se liberdade com permissividade.
Família e democracia não rimam. Ser bonzinho – como já escrevi – é isentar-se da responsabilidade de educar, legar valores, dar exemplo. Como não dirigir depois de uma cervejinha ou vinho. Exigir dos filhos sem telhado de vidro é fundamental para estabelecer-se a necessária hierarquia dentro de casa. Daí a importância de dar exemplo no cotidiano.
Diante de amigos e amigas que estão na iminência de tornarem-se pais, nutro um misto de alegria e profundo receio pelos imensos desafios que encontrarão. Criar filhos exige dedicação, renúncia, resignação, disciplina, humildade para ouvir e coragem para defender os professores.
Educar é impor respeito, estabelecer limite e dar, sempre, oportunidade para o perdão.