Vale do Taquari – Visto como um dos vilões em sala de aula, o celular passa a ganhar outra conotação. Proibido em escolas e por professores, o celular é apontado como um dos principais motivos de desatenção e distração dos estudantes. Entretanto, esse aparelho começa a ser usado em benefício da educação. Realizar pesquisas rápidas, traduzir línguas são algumas das facilidades da tecnologia que começa a ganhar adeptos. Educadores defendem o uso do celular e das tecnologias que o aparelho oferece, porém são unânimes em dizer que o mesmo deve ser usado com equilíbrio e nas horas livres.
O uso do celular em sala de aula surgiu como uma necessidade para o professor de História Sérgio Nunes Lopes, que precisava se comunicar com um aluno haitiano que havia se matriculado na Escola João Bela Körbes, educandário onde leciona. A comunicação entre aluno, professor e colegas era bastante restrita, uma vez que o jovem falava somente o crioulo e o francês. Foi nesse momento que a tecnologia teve papel fundamental no aprendizado.
Para melhorar a comunicação, Sérgio utilizou dois aplicativos tradutores de línguas: Google Tradutor e o Duolingo, ambos baixados gratuitamente. Assim o jovem utilizava o aparelho sempre que precisava realizar tarefas curriculares e ao comunicar-se com os colegas. Desse modo, tirava as dúvidas no aparelho e conseguia acompanhar a turma. “Foi uma experiência duplamente positiva e enriquecedora. Foi um desafio implantar uma metodologia nova de ensino e fora dos moldes tradicionais. Proporcionar aprendizado ao aluno que até então havia dificuldade de comunicação foi muito estimulante”, ressalta o professor.
Essa não é a primeira vez que o aparelho celular é utilizado nas salas de aulas da João Beda Körbes. A diretora Andréa Haupt que anteriormente ministrava a disciplina de Inglês, já usava a tecnologia para traduzir músicas do inglês para o português e para outras pesquisas inerentes a disciplina. Em uma dessas atividades os alunos tiveram como tarefa reproduzir um vídeo clipe em português de uma música em inglês. Para traduzir a letra, um aplicativo de tradução foi utilizado. O aparelho foi usado ainda para realizar as filmagens do vídeo clipe. “A tecnologia pode ser uma ferramenta importante em sala de aula. Porém deve ser utilizada com autorização dos professores e da direção da escola e em momentos pré-estabelecidos”, observa Andréa.
Coordenadora defende o uso
A coordenadora da 3ª Coordenadoria Regional de Educação, Greicy Weschenfelder, ressalta que algumas escolas de abrangência da 3º CRE já fazem o uso do aparelho celular em sala de aula. Ela defende o uso de tecnologias no ambiente escolar, uma vez que são importantes ferramentas de ensino e conhecimento. Porém, ressalta que as mesmas devem ser utilizadas de forma consciente. “O celular não pode ser usado de forma errônea e desmedida, ou seja, a todo tempo. Isso esfria as relações, vicia, desconecta de assuntos importantes e tira a concentração”, enfatiza.
Cita como exemplo os educandários Antonio de Conto e Monsenhor Scalabrini, de Encantado; Vidal de Negreiros e Nicolau Mussnich, de Estrela que utilizam a tecnologia em benefício da educação. Nessas escolas, os alunos utilizam aplicativos como Google Earth que é acessado em tempo real para pesquisar lugares. Outros aplicativos são usados para traduzir músicas em inglês, e para a tradução de vocábulos que podem ser pesquisados ao simples toque da tela. “Não temos dicionários suficientes, e alguns ainda estão desatualizados. Por isso, a importância da tecnologia em sala de aula. Em Geografia, mapas atualizados podem ser visualizados com facilidade. Sempre com o aval da direção dos educandários”, e complementa, “os estudantes atuais não aprendem da mesma forma que os do século anterior. Precisamos ir além das aulas expositivas, pois os alunos são outros. A escola de hoje precisa ser redesenhada.”
Acredita que o uso do celular em sala é pouco utilizado em razão da falta de preparo ou resistência dos professores. Fala que o aparelho deve ser utilizado como complemento das aulas e pensa que o docente pode melhorar a comunicação e o relacionamento com os alunos através da tecnologia. “Acredito que não podemos nos opor e ir contra a maré da tecnologia. Temos que tornar as aulas atrativas e em consonância com o tempo atual”, fala.
Uso é proibido
A professora e coordenadora pedagógica da 3ª CRE, Tatiane Reginatto, ressalta que o uso do celular pelos alunos em escolas públicas do Brasil é proibido. Entretanto a lei não diz respeito ao uso de forma didática, modo em que vem ocorrendo em escolas estaduais abrangidas pela 3ª CRE. Fala que o uso da tecnologia é uma importante ferramenta na educação e que está não pode ser desperdiçada. “O uso particular é proibido. Porém de forma didática não”, finaliza a educadora.