Em se tratando de futuro profissional, creio que o grande desejo dos pais a seus filhos é de que eles possam ter autonomia financeira, serem felizes com o trabalho realizado e que sejam bem aceitos socialmente entre amigos assim como no mercado de trabalho.
A grande questão é: como posso ajudar meu filho na escolha profissional em tempos de vestibular para que ele não sofra no futuro?! Conforme a psicóloga Tatiane Kunzler, o segundo semestre do ano proporciona aos alunos do Ensino Médio uma série de sensações angustiantes. A saída do terceiro ano, a despedida dos colegas e professores, o não saber sobre como será seu próximo ano, a possibilidade de mudança de cidade… Somado a isso, todas as mudanças biológicas e psicológicas, características da adolescência, podem fazer desta, uma fase de intenso sofrimento psíquico a todos.
“Neste período também abrem as inscrições dos principais vestibulares e inicia a saga de provas nas universidades federais e particulares. Geralmente é somente neste momento que a família percebe que seus filhos estão muito confusos, através de falas como: ‘não consegui decidir ainda o que fazer’, ‘não me sinto preparado’, ‘tô perdido, não faço ideia de que área ou curso seguir’, ‘preciso me inscrever no vestibular, mas não sei o que quero pra minha vida ainda’”.
Segundo ela, pais e familiares sempre influenciarão, direta ou indiretamente, a escolha de seus filhos. “Falando ou calando, sempre é anunciada qual a opinião que os pais têm sobre determinadas profissões e mais, sobre o que desejam para seus filhos”.
Para o Ministro da Educação, Mendonça Filho, “O Brasil tem apenas 8% dos alunos do Ensino Médio em programas vocacionais. A falta de orientação contribui para que haja uma desistência significativa dos jovens que ingressam no nível superior”.
Pais e familiares: fiquem atentos ao que vocês estão comunicando em casa
É esperado que ao final de um dia de trabalho os pais cheguem em casa falando sobre seu dia. A diferença está naquilo que verbalizam e demonstram: “Não aguento mais essa empresa e os colegas, ando trabalhando só por obrigação”, “Se soubesse que ia ser assim, teria escolhido outra profissão”, “Esperava ficar rico quando escolhi essa profissão, mas já vi que o mercado está ruim”.
Diferente de: “Estou morto de cansado, mas com a sensação de dever cumprido”, “Estou numa fase de muito trabalho e muito stress, mas fazer o que gosto me motiva a levantar a cada manhã”, “As coisas não andam bem na minha área, mas reconheço que este é também um reflexo da economia, continuarei batalhando por que esta é minha grande paixão”.
Para Tatiane, ter filhos adolescentes é fazer com que os pais revivam as suas próprias adolescências e passem a questionar suas próprias escolhas profissionais. E isto pode ser mais brando ou mais difícil dependendo da estrutura de cada indivíduo da família. “Se você estiver passando por este momento com seu filho(a) procure Orientação Vocacional. Nenhuma abordagem irá definir a profissão que o adolescente deve seguir, mas irá apontar os caminhos mais efetivos. Nesta hora desenvolver alguns aspectos é prioridade, como definir metas e traçar estratégias. Essas são aptidões fundamentais em qualquer profissão, além de aprender a lidar com a frustração, maior desafio desta geração”.
Que os pais desejam o melhor para seus filhos é indiscutível, mas é preciso saber a diferença entre orientação e submissão. “Orientar os filhos sobre o mercado de trabalho é ser referência e estimular o pensamento crítico. Para que isso aconteça, basta explicar ao adolescente quais as vantagens e desvantagens de cada área de interesse dele. E todas as profissões terão prós e contras. Submeter, ao contrário de orientar é impor aos filhos condições, caso não escolha o curso de desejo dos pais. É criar no imaginário dos filhos fantasias de que eles precisam realizar o desejo dos pais, caso contrário, os pais poderiam chatear-se ou decepcionar-se. É ainda criar nos filhos a insegurança de que, se eles não fizerem a escolha certa, poderão estar fadados ao fracasso para o resto de suas vidas”, alerta a psicóloga. Porém, o que significa escolha certa? Escolha certa é simplesmente aquela que está em sintonia com o propósito de vida desta pessoa. Toda escolha que não fizer sentido ao sujeito pode ser amplamente adoecedora.
Não há garantias de sucesso e nem mesmo de fracasso em nenhuma profissão. O que garantirá o sucesso será a MOTIVAÇÃO e o INTERESSE pela atividade laboral escolhida. “Algumas pessoas têm talento para várias áreas, mas não será para todas que terá vocação/paixão. Fique atento com as ilusões criadas acerca de algumas profissões no que se refere a dinheiro e glamour. Costumo dizer nas orientações a meus pacientes que para bons profissionais o mercado é muito favorável, para profissionais que ainda não identificaram sua real vocação (habilidades, interesses e oportunidades) o mercado pode ser bastante cruel”.
Mendonça Filho reiterou ainda que em 2010, 11,4% dos alunos abandonaram o curso para o qual foram admitidos. Em 2014, esse número chegou a 49%.
Tatiane frisa que orientar é poder dialogar abertamente sobre as mais diversas profissões. “Quando este diálogo não estiver sendo possível em casa, procure um profissional psicólogo para auxiliar nesta escolha através da Orientação Vocacional”.