O arquiteto dinamarquês Jan Gehl tornou-se uma celebridade na área do urbanismo. Sua cruzada em favor da qualidade de vida ganhou fama internacional. “A organização da cidade deve contribuir para as pessoas serem mais felizes” – afirma Gehl.
Jan Gehl é casado com uma psicóloga chamada Ingrid. Um belo dia, no início do casamento, Ingrid lhe perguntou por que os arquitetos se interessam tanto pelas formas e sabem tão pouco sobre as pessoas. Foi um choque. Gehl percebeu que ela estava coberta de razão. A partir daí começou a realizar estudos aproximando arquitetura, psicologia e sociologia. Os resultados foram aparecendo em livros e em assessorias para cidades ao redor do mundo.
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“Cidades para pessoas” é o título de um dos livros de Jan Gehl. À primeira vista, dizer que as cidades são para as pessoas parece uma coisa tão óbvia que chega a ser boba. Só que não.
As cidades desempenham basicamente três funções. Elas são um lugar de encontro; são um lugar de trabalho e são um lugar em que as pessoas se movimentam.
Com a chegada do automóvel a função mobilidade passou a dominar. Os carros tornaram-se reis. Circulação rápida e possibilidade de estacionamento ganharam prioridade sobre todo o resto. Chegou-se ao ponto de acreditar que a razão de existência das cidades é facilitar o movimento dos carros.
O caso da cidade de Brasília dá o que pensar. Ela parece bela quando vista do avião, mas como é viver ali? Ruas e avenidas dedicadas à circulação de carros, espaços abertos de dimensões gigantescas, edifícios muito afastados entre si, divisão da cidade em setores (setor hoteleiro, setor de igrejas, setor de hospitais, etc.) Brasília foi projetada para os automóveis. As pessoas que se arranjem.
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Para Gehl, as melhores cidades não são as mais espalhadas. Muito pelo contrário. As melhores, são as mais compactas, aquelas que pedem menos deslocamento. São as cidades que tem coisas bonitas para ver, que tem lugares para sentar, que tem áreas verdes, aquelas que convidam a caminhar ou a se deslocar de bicicleta (bicicletas proporcionam exercício saudável, não poluem, não cobram passagem e não atravancam as ruas). As melhores cidades também contam com bom transporte público. Definitivamente, a melhores cidades para as pessoas não são as melhores cidades para os automóveis.
Cidades compactas costumam ser mais seguras. Quanto mais gente utiliza a rua, menos encorajador o espaço público será para os bandidos de todo tipo.
Não bastasse isso, cidades compactas são mais baratas, tanto do ponto de vista dos moradores, que poupam o tempo e o dinheiro do transporte, como para a administração, que pode concentrar os serviços em vez de espalhá-los por diferentes locais.
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– O que tudo isto tem a ver com as nossas cidades?
Eis aí uma boa pergunta.