No último dia 6 perdi uma amiga de 56 anos de convivência. Foram tantos exemplos que esta coluna é pequena para arrolar tudo de bom, especial, criativo, familiar, humano e gentil que ela legou. Gerti Jasper, minha mãe, partiu com 81 anos, cercada pelo carinho dos filhos, netos, genros, noras, amigas. Suas histórias de infância arrancavam riso solto dos netos, meus filhos, Henrique e Laura. Em detalhes, contava das madrugadas escuras em que ordenhava as vacas dos pais, Bruno e Wilma Kirst, no potreiro branco coberto de uma fina geada do bairro Bela Vista.
Eles também adoravam ouvir vó Gerti falar dos bailes comportados, dos namoros sob vigilância severa dos pais, das quermesses. E de quando o pai, fundador da empresa Bebidas Fruki (nascida Kirst & Cia. Ltda), jogava cartas por dias a fio. Ela levava comida, roupas limpas, panos umedecidos para o “banho”, além de cigarros.
Os almoços na casa da vó Gerti se tornaram lendários. Uma forma de alumínio era submetida a fogo brando por horas para cozinhar porções de carne suína, de galinha e gado. Vinham ornamentadas por reluzentes batatas a vapor e douradas rodelas de cebola. O aroma de comida caseira perfumava o ambiente. Mas os pratos ainda jaziam na mesa para que potes transbordantes de mousse, tortas de bombom, sorvete e bolacha, além de pudim, sagu (e creme) e coco desembarcassem. “Vocês precisam provar ao menos um pouquinho de cada sobremesa”, repetia.
Tenho maior orgulho de dizer que sou seu filho e fã
No final da tarde, cuca com nata, linguiça, salamito, queijo colonial, pão caseiro e café passado na hora davam seguimento à orgia gastronômica. Já de noite, novos quitutes enchiam olhos e estômagos. A destreza na cozinha de dona Gerti só era comparável à habilidade em fazer amigos. Ao longo do velório tive uma vaga ideia do maravilhoso ser humano que foi minha mãe.
Hospitalizada, ela só se queixava da saudade “das gurias da hidroginástica e das aulas de alongamento”. No Edifício São Francisco, onde morou, houve comoção com o falecimento da vizinha querida, prestativa, carinhosa com crianças e animais. A gata Belinha que o diga. Ela ficou acabrunhada diante da ausência da companheira de 10 anos. Andava a esmo, miando dentro de casa na busca da amiga que a tratava como neta.
Agora estrela reluzente a iluminar, inspirar e abençoar, Gerti Jasper continuará, para sempre em nossos corações e mentes. Um exemplo de mulher, esposa, mãe, amiga e ser humano. Tenho o maior orgulho de dizer que sou seu filho e fã!