Brasil – A cotação do milho não para de subir, o governo não tem estoque e o setor se desespera. O Ministério da Agricultura, Pesca e Agropecuária (Mapa), está tentando aprovar medidas para estimular e facilitar ainda mais as importações para amenizar o problema de abastecimento.
Para amenizar o impacto da escassez do cereal, nos últimos dias o Brasil comprou 300 toneladas da Argentina. No entanto, a programação de embarques de navios do país vizinho já está cheia, e a entrega deve ocorrer somente em dois meses. Por isso, vai precisar comprar milho dos Estados Unidos, pois para alguns destinos, como o Nordeste, é mais competitivo e viável economicamente.
Como a safra contrariou previsões e análises, especialmente em decorrência da estiagem no Centro-Oeste, e porque grande parte dos produtores brasileiros optou pela soja, somente neste ano o milho já subiu 41,57%. Em 4 de janeiro o indicador da Bovespa registrou o preço de R$ 37,31 para a saca do cereal. E em um ano o milho subiu incríveis 104,26%, passando de R$ 25,26 a saca em 18/05/2015 para R$ 52,82 em 18/05/2016.
Cadeia produtiva já é afetada
Na prática, o preço alto do milho já afeta a criação de aves e suínos na microrregião. Os produtores independentes e agroindústrias familiares são os principais prejudicados, uma vez que cooperativas e integradoras têm maior poder de barganha, também não escapam de racionamentos, que culminam na redução de lotes e abates precoces.
Já há casos de não alojamento de aves e suínos em agroindústrias de Palmas, em Arroio do Meio. Os produtores independentes são os que mais sofrem. É o caso de Marino Rohr de São Caetano, que está com dificuldade de encontrar milho e precisa honrar parcerias com criadores de leitões. “A Conab não fornece mais a cota desde fevereiro. A maioria dos produtores independentes parou de cultivar o próprio milho porque era inviável produzir a um custo mais baixo do que o praticado pela Conab. Nessa semana encontramos um fornecedor que ofertou a saca por R$ 65. As cooperativas de produtores de grãos não estão mais revendendo o estoque. O farelo também está escasso. E o pior de tudo, é que aumentamos o plantel para 700 suínos. Será um lote de terminação que vai levar mais tempo para o abate. Quem faz o ciclo completo perde em média R$ 100 por cabeça. Já há situações de abortos em recrias. Estamos aguardando a mobilização dos nossos representantes diretos. Já sinalizaram que a cotação da carne terá alta para amenizar impactos […]. Os trabalhadores brasileiros não merecem a incapacidade de gestão dos nossos governantes”, desabafa.
Inflação no mercado doméstico
Não há saída em curto prazo. Além da avicultura e suinocultura, a falta de milho vai atingir a bovinocultura de leite e de corte, além de ovinos, caprinos, e outras cadeias protéicas. Uma alternativa para garantir insumos em médio prazo é a produção de trigo e aveia durante o inverno, para a colheita ocorrer entre outubro e novembro. Mas já há agricultores que sinalizaram que vão arriscar, antecipando a safrinha de milho no segundo semestre.
O técnico agropecuário da Emater/Ascar, Elias de Marco, estima que as integradoras vão priorizar os contratos de exportação, e que vai gerar falta de produtos no mercado doméstico, gerando sucessivas altas em todos os preços de proteínas animais. A expectativa é de que o valor do milho volte a se estabilizar apenas em 2017.
De Marco suspeita que uma medida mal estudada pelo Ministério da Agricultura possa ter intensificado a alta repentina. “O governo sempre tinha um estoque regulador de mercado que para muitos críticos era coisa de comunista. Agora decidiram pelo livre comércio, e uma multinacional comprou praticamente todo o estoque sozinha”, revela.
Por isso, recomenda investimentos em silos próprios com secadores por parte dos produtores de grãos, prática já adotada em países de primeiro mundo.