Jorge Alberto Beck Mendes Ribeiro foi meu pai profissional e inesquecível amigo.
Do seu livro Causa e Consequência, as frases: “Não arme, na criança de hoje, o adulto de amanhã”; “O homem não conseguiria nada, se não adivinhasse o fim, logo depois”; “O amor e a mentira não formam casal”; “Hoje é o ontem, trazido do antes, trazendo o depois”, todas indicando causas e consequências, sendo que, na última que relacionei, implícitas, estão as expectativas de um eventual desrespeito ao desconhecimento da verdade.
Pela sensibilidade dos versos e das crônicas do Ribeiro, torna-se bem mais fácil entender o brasileiro de quase sempre, debatendo-se entre uma vida de sonho em um país que tem tudo e o dia-a-dia de ameaça e terror que vivem centenas de milhares de pessoas que praticamente nada têm.
As exceções são aquelas que merecidamente ou não, alcançaram a condição de viver o sonho, ao contrário das que vivem sonhando a vida.
No meio desse entrevero de quereres e poderes, por incrível que pareça é possível – e preciso – ao jornalista, destacar causas e consequências, quase como que lembrando, às pessoas, que delas depende seu futuro risonho ou sofrido. A começar, se me entendem, pelo voto, entre dezenas de outras causas.
Guiou bêbado, drogado, irresponsável ou despreparado? As consequências serão mais mortes no trânsito. Houve uma campanha para que isso termine. Reduziram-se as mortes. A campanha terminou? As mortes voltaram.
Quanto a esse item, há anos indico duas soluções (extinção das causas):
1) Guiou bêbado ou drogado? Perde a carteira por três anos. Flagrado pela 2ª vez? Perde para sempre.
2) Constroem-se ferrovias e volta-se a utilizar o trem, um transporte eficiente, não tão caro quanto a rodovia e comprovadamente seguro. Há quase três décadas, foi criado o metrô de superfície entre Porto Alegre e São Leopoldo, veículo que já transportou, penso, centenas de milhões de passageiros, desde que passou a operar.
Quantas mortes nesse período? Nenhuma, que eu lembre.
Se o metrô de superfície estivesse sendo utilizado entre Porto Alegre e o litoral, é certo que milhares de vidas teriam sido poupadas, digamos, nos últimos 25 anos, ao longo dos quais o metrô já comprovou sua segurança e qualidade de uso.
Ainda do Causa e Consequência do Mendes Ribeiro: “E o nome? Importa? Crianças sem nome, com nome, com fome ou sem fome, descalças ou ricas, são sempre crianças”; “As crianças têm uma capacidade infinita para perdoar. Os adultos, não!”. Nessas duas frases, Ribeiro praticamente explica a batalha que se trava a todo momento nas escolas, entre quem nem sempre traz de casa o carinho, o respeito e o amor pelos pais e mestres e as que ainda foram criadas conforme um código de obediência aos responsáveis por seu ensinamento.
O professor pode bater no aluno que lhe ofenda, física ou moralmente?
Essa é uma pergunta que só pode ser originada em um lugar onde os pais dão um tratamento inadequado aos filhos, deixando-os entregues aos desejos de resposta ou desabafo aos maus tratos recebidos.
Quem trata bem as crianças não precisará construir prisões das quais o Brasil anda carente porque antes careceu de carinho.
E, ao final desse rápido giro, como estão sendo tratados os adultos, a quem a sociedade deu uma pena a ser cumprida, por crimes cometidos?
Com antecipação de muito tempo, face à pena total recebida, permite-se-lhes que sejam encaminhados a uma vida de liberdade quase absoluta, na condicional, de onde mais de 12 mil fugiram, nos últimos 4 anos, no RS; é quase certo que para cometer novos delitos.
Para uma causa tão forte, uma consequência mais forte ainda.
Até quando o Brasil vai entender que para evitar as consequências é preciso, sem descanso, combater as causas?
Aquele avião teria morto 199 pessoas se fosse retirado dos voos, tão logo se descobriu que seus manetes estavam com defeito?