Arroio do Meio – A Comunidade São Felipe e São Tiago, de Arroio Grande Central, foi a escolhida pelo bispo Dom Canísio Klaus para celebrar seu envio para Sinop, em Mato Grosso, onde será empossado como bispo diocesano, em 13 de março. Na comunidade natal rezou no domingo pela manhã a penúltima missa como bispo da Diocese de Santa Cruz do Sul. À noite, na catedral de Santa Cruz do Sul, celebrou a missa de envio, destinada a todas as paróquias da diocese. Nesta sexta-feira segue sua missão e viaja para Sinop.
Na missa, após a calorosa acolhida da comunidade, Dom Canísio disse que vai com alegria para a nova missão, pois não vai apenas em seu nome, mas também em nome daqueles que o enviam, sua família, amigos e comunidade. “Saio na alegria de servir ao Senhor. Sou enviado por aqueles que me amam”, afirmou, destacando que aquele que é enviado para evangelizar – conforme seu lema – está disponível para servir em todo lugar.
Ao relembrar sua trajetória destacou que houve duas pessoas que o marcaram pelo espírito missionário e, de certa forma, o inspiram a seguir este caminho. Quando era coroinha, o padre Isidoro Schneider comentava da alegria que era servir ao povo de Mato Grosso. Em determinada ocasião trouxe junto consigo um jovem índio e então, ao ver o trabalho do padre e da alegria que ele sentia ao realizá-lo, decidiu que também queria ser padre. Mais adiante, quando era seminarista em Santa Cruz do Sul, foi um dos escolhidos para ir ao Mato Grosso para substituir dois padres que estavam em retiro espiritual. Coincidentemente foi substituir ao padre Isidoro.
O outro inspirador foi o frei Lotário Neumann, pelo espírito alegre, comunicativo e missionário. “No sermão da minha primeira missa o frei Lotário disse: siga em frente, sempre de cabeça erguida, olhando para o alto. Vens para servir com alegria”, lembrou Dom Canísio dizendo que muitas pessoas o animam nesta caminhada e que sempre teve muito apoio da família. “É minha família, a comunidade, a paróquia e a Diocese que me enviam. Em todas as paróquias que eu for, vou dizer que fui enviado por uma comunidade, um povo e isso vai me dar força para superar as dificuldades”.
Ao comentar sua transferência precoce, afirmou que sai da Diocese com alegria, sem frustração. Não totalmente realizado porque ainda tinha projetos a executar. Agradeceu o apoio dos padres, das comunidades e das lideranças que o encorajaram nestes cinco anos e meio à frente da Diocese. “Saio daqui mais formado. Aprendi muito. Louvo a Deus pela experiência de trabalhar na minha própria Diocese. Nem todos têm esse privilégio. Não saio triste”, reiterou, observando que quem abre a mão para enviar, está de mãos abertas também para receber e, assim, pediu que o Espírito Santo ilumine a escolha do novo bispo diocesano.
Santa Cruz do Sul e o Mato Grosso
O religioso declarou que a Diocese de Santa Cruz do Sul tem uma ligação muito forte com o estado do Mato Grosso, especialmente com a diocese de Sinop, que foi desmembrada da de Diamantino. Os primeiros dois bispos da Diocese de Sinop – Dom Henrique Froehlich e Dom Gentil Delazari – eram da Diocese de Santa Cruz do Sul e agora, o terceiro, tem a mesma procedência.
Ao mencionar que será o terceiro bispo de Sinop, Dom Canísio lembrou que, coincidentemente, foi o terceiro bispo de Diamantino e o terceiro bispo da Diocese de Santa Cruz do Sul.
Também falou da grandiosidade geográfica da Diocese de Sinop, que tem o tamanho do Estado do Paraná. São 191 mil quilômetros quadrados de extensão, o que torna o trabalho desafiador, em função da distância das paróquias.
Centenário da Paróquia
Ao falar sobre a paróquia de Arroio do Meio, o bispo declarou que a celebração do centenário era um momento que estava sendo aguardado por ele, pois tinha a expectativa de participar enquanto bispo diocesano. Contudo, não descartou a possibilidade de se fazer presente. Vai depender do trabalho a ser executado em sua nova diocese.
Para ele, Arroio do Meio vive um momento histórico, pois no ano do centenário da paróquia, abençoada com a formação de tantos religiosos, envia um filho da terra para uma nova missão. “Arroio do Meio sempre apostou na unidade de força e das igrejas, trabalhamos muito e crescemos. Está no caminho da bênção, da esperança”, observou.
Por fim, convidou a todos que quiserem se fazer presentes na posse, no dia 13 de março, ou então para visitá-lo em Sinop. “Assim como em Diamantino, Sinop está de portas abertas para me visitarem”.
Homenagens
Na missa, estiveram presentes as organizações que fazem parte da vida comunitária do Vale do Arroio Grande e que também propiciaram bases para a formação de Dom Canísio. Sua família, a escola, a diretoria da comunidade, o coral, o grupo do Sport Clube União, o Apostolado da Oração, entre outros, estiveram presentes homenageando o filho ilustre da comunidade. Até seu time do coração, o Grêmio, foi lembrado.
Em nome da comunidade, Eluise Hammes, enalteceu o trabalho de Dom Canísio à frente da Diocese e reforçou o apoio desta em sua nova missão religiosa. Como lembrança, foi lhe entregue uma camiseta da Comunidade São Felipe e São Tiago
O padre Alfonso Antoni, que celebrou a missa juntamente com o bispo e o padre José Neumann, disse que não se trata de uma celebração comunitária, mas de um momento de celebração paroquial. Assim como a comunidade, a Paróquia, também o envia.
Representando a Administração, o vice-prefeito Áurio Scherer, disse que Arroio do Meio se orgulha do seu filho e sempre estará de braços abertos para bem recebê-lo.
Comunidades se renovaram e se reorganizaram
Ao final da celebração, antes de participar da roda de chimarrão e do almoço festivo preparado pela comunidade, Dom Canísio falou com a reportagem do AT.
AT – Qual a avaliação que o senhor faz do tempo que esteve na Diocese de Santa Cruz do Sul?
Dom Canísio – No sentido pastoral foi muito positivo, pois conseguimos enfrentar muitos desafios. Sobretudo no campo da formação, porque a Diocese sempre teve isso como uma das prioridades, trabalhar a formação das lideranças. Os nossos seminários, tanto de Santa Cruz, Arroio do Meio e a nossa Casa de Retiro Loyola, também estão abertos para a formação de leigos. Por isso tivemos também vários cursos neste ano. Fizemos curso na formação da pastoral teológica para mais de 500 lideranças leigas, fora os catequistas e tantos outros que se prepararam na liturgia. Tivemos também uma escola de educação política no Seminário de Santa Cruz onde participaram muitas pessoas, não só da nossa diocese, mas também das dioceses de Cachoeira e Santa Maria. Além disso, trabalhamos muito a questão do nosso plano diocesano que são as quatro prioridades: o cuidado com a vida, a parte social, a parte de respeito com dignidade à vida, que ganhou um reforço muito grande com a Encíclica do Papa Laudato Si – Louvado Seja – sobre a ecologia e mesmo agora com a campanha da fraternidade.
Então, num geral pode-se dizer que nossas comunidades se renovaram, se fortaleceram com esse espírito de renovação e de reorganização. Também no campo administrativo procuramos sanar um pouco as nossas dificuldades, tanto nas comunidades, nas paróquias e na diocese. Nesse conjunto a Diocese conseguiu uma vida mais saudável economicamente também.
AT – Como foi trabalhar mais próximo da família e dos amigos?
Dom Canísio – Trabalhar na própria diocese é, por si, um desafio maior, porque a gente é mais conhecido, conhecem também um pouco o estilo da gente, o perfil, mas eu sempre fui muito bem acolhido. Fui bem aceito em todas as comunidades da Diocese. Não só na minha terra natal, que é Arroio do Meio, mas também nas outras cidades com as lideranças. Ontem (sábado) foi feita uma reunião com todas as diretorias da Diocese onde houve uma avaliação muito positiva. Destacaram muito o jeito de como a gente trabalhou, acolhendo na humildade, mas na responsabilidade, conduzindo essa igreja diocesana para um caminho novo, de renovação.
AT – O senhor já trabalhou no Mato Grosso. Quais são suas expectativas em relação ao trabalho na Diocese de Sinop?
Dom Canísio – As expectativas são muito grandes. Em primeiro lugar eu quero conhecer para poder, então, melhor agir. Conheço em parte duas paróquias onde trabalhei, numa região onde fui missionário como padre. Ainda não trabalhei em Sinop como bispo, só como padre. Foi lá na paróquia de Guarantã do Norte, que fui nomeado bispo. Então, eu tenho conhecimento de uma parte da Diocese e não toda a região, toda a Diocese. Lá é uma Diocese muito grande, muito ampla, tem muitos desafios. Tem 34 paróquias, três grandes aldeias indígenas, mais de 30 etnias indígenas. Então tem um trabalho desafiador, mas que Dom Gentil já vem trabalhando, Dom Henrique, os bispos anteriores. Agora é chegar, conhecer e somar.
AT – Nossa sociedade vive uma crise de valores sem precedentes. O que a igreja está fazendo e o que ela pode fazer para reverter este quadro?
Dom Canísio – Creio que todos estão acompanhando a iluminação do nosso Papa Francisco que nos inspira otimismo e esperança e nos chama também para uma saída, para uma abertura, o acolher. Esse Ano da Misericórdia justamente é colocado também para que cada um reconheça sua fraqueza, seu erro e volte no caminho do bem, no caminho da santidade. Enquanto aos valores, todo mundo sabe que é uma sociedade, um mundo, que não se orienta e não se deixa conduzir por valores também do Evangelho que são os valores fundamentais, não só da fé, mas dos bons costumes, da moral, do equilíbrio, da natureza. Então a gente tem uma esperança muito grande que, depois de um certo desvio, há também a força do espírito que nos faz voltar para o caminho certo, para o rumo certo. Tanto na família como na sociedade, vivemos realmente uma crise muito grande de valores e não é só na igreja, mas na política, na vida social, na vida global, no respeito para com a natureza, nossa casa comum.
AT – O Brasil vive hoje uma grave crise política. Qual é o papel da igreja diante deste cenário?
Dom Canísio – Como igreja nós sempre temos a missão de orientar e conscientizar, levar à consciência as pessoas para retomarem também aos valores dignos da justiça e da paz. O campo de ação da igreja não vai atuar dentro da política, mas orientar nosso povo para que se deixem conduzir por orientações sadias, que elevam o nosso espírito para um respeito, uma dignidade dos valores da pessoa humana. Lamentamos a situação que vivemos hoje, mas pela nossa pregação, procuramos sempre orientar pelos documentos que a igreja lança. A própria Campanha da Fraternidade é o momento de colocar a mão na consciência, sobretudo também aqueles que têm a missão de conduzir, governar e administrar o nosso país. Para que cada vez mais olhem o governo, a política com a arte de bem administrar o bem comum.
AT – O que o senhor tem a dizer para a comunidade arroio-meense que neste momento envia um de seus filhos para missão religiosa em outro estado?
Dom Canísio – Que continuem sempre com este espírito aberto de abrir as mãos também para oferecer o que tem de bom em sua terra, um filho que é bispo. Que possam assim também enviá-lo e acompanhá-lo com oração, com força e apoio e, da mesma forma, penso em retribuir com carinho quando retornar, seja em férias ou em missão.