Arroio do Meio – A retração na economia está fazendo os brasileiros aumentarem o ciclo de uso de seus veículos. Isto é, ao invés de negociarem o usado por um novo ou seminovo, os consumidores estão optando pela manutenção e pequenas reformas, enquanto aguardam oportunidades mais favoráveis para troca. Com isso, o período de permanência com um automóvel tende a crescer.
O que é ruim para as concessionárias e revendas tem reflexos positivos nas oficinas e lojas de autopeças. Os meses de inverno que geralmente são pouco movimentados estão surpreendendo os proprietários de empresas do setor de mecânica automotiva no município. A média de serviços em alguns estabelecimentos aumentou até 20% em comparação com o mesmo período de anos anteriores.
O principal indexador para o custo dos serviços é a hora cobrada pelas oficinas. No município, o preço varia entre R$ 40 e R$ 60. Além disso, são contabilizadas as peças substituídas ou reformadas. O valor da manutenção difere bastante entre as categorias de veículos – popular, sedan, hatch, crossover, pick-up e SUV.
Já na chapeação é relevada a complexidade do serviço, uma vez que são necessários o uso de cyborgs para correção de chassis e pinturas específicas, segundo Henrique Schmitz, da Oficina do Ivan, localizada no Centro.
Evandro Warken, sócio-proprietário da Pró-Car, situada em Bela Vista, comenta que em 2013 cerca de 80 clientes compraram veículos novos e deixaram de procurar a oficina durante, em média, 18 meses. E que no atual momento, a desvalorização do usado na troca, incentiva a manutenção. Ele também nota maior adimplência dos consumidores em comparação com outras épocas.
Manutenção preventiva x corretiva
Para não haver surpresas no custo final dos consertos, os mecânicos orientam os motoristas para que realizem a manutenção preventiva, garantindo a tranquilidade. Neste método é mais fácil de acompanhar a vida útil das peças e detectar outros desgastes. Porém, de acordo com o mecânico João Scheibler, da Elétrica Scheibler, da Barra do Forqueta, muitos proprietários adiam o check-up até que a condução dos veículos fique inviável, comprometendo outros setores e exigindo uma manutenção corretiva, que é mais cara, demorada e traz transtornos como a necessidade de chamar o guincho.
Já o mecânico Gerson Dutra, da Oficina do Gerson, do Centro, explica que os condutores também precisam prestar atenção nos pequenos detalhes, como barulhinhos ou falhas no desempenho. “No início é só um ruído que indica a necessidade da troca das pastilhas de freio, mas se esperar demais, às vezes é preciso reparar ou trocar o conjunto de discos”, exemplifica.
A importância do agendamento
Praticamente nenhuma oficina, trabalha sem hora marcada. “As pessoas precisam ser compreensivas, é como marcar uma consulta médica ou odontológica”, comenta Warken. Já Dutra, sugere aos clientes antecipação do agendamento em pelo menos duas semanas.
Nacionais x importados
A discussão entre a escolha de veículos fabricados no Brasil e importados divide opiniões. O mecânico Adriano Rauber Schmitt, da Kairos, situada no bairro Dom Pedro II, explica que o consumidor que optar por um importado deve estar consciente do valor mais elevado das peças e da possível necessidade de espera para encomendas, que aumentam a demora para a manutenção.
A regra também se estende para veículos nacionais com componentes importados. Gerson Dutra, conta que há casos de automóveis que ficam parados mais de três semanas a espera de peças. “Para evitar esse tipo de transtorno o consumidor deve optar pelos nacionais”, esclarece.
Já João Scheibler, avalia que há linhas de importados consolidadas no mercado nacional e que apesar do custo da manutenção ser mais caro, o ciclo de durabilidade dos componentes é muito superior, numa proporção de 40 mil quilômetros (nacional) para mais de 100 mil quilômetros (importado). “Na compra de qualquer seminovo ou usado, o indicado é levar o veículo até um mecânico de confiança para uma avaliação do motor e da mecânica”, ressalva.
Mercado e a qualificação
No município a remuneração dos mecânicos varia entre R$ 788 (para os aprendizes) e R$ 3,2 mil para os profissionais com mais tempo de experiência. Hoje existem cursos para mecânicos no Senai e na Univates em Lajeado, e específicos na Região Metropolitana. Os estagiários das concessionárias recebem treinamentos intensivos, o que agiliza a contratação no mercado.
Os empresários locais avaliam que após a formação técnica, um profissional leva em torno de quatro anos para dar conta dos serviços na prática. Também admitem dificuldade na contratação de mão de obra qualificada, sendo que a maioria dos profissionais é formada dentro das empresas. “Os problemas entre os carros costumam ser os mesmos, mas as soluções são diferentes. Falta o perfil daquele que quer aprender e se sujeitar a ganhar menos no início da carreira”, comenta Warken.
Atualmente o piso regional da categoria é de R$ 1.177,00, com a incidência de até 40% de insalubridade, conforme relatório pericial do grau de risco e de exposição à tóxicos feito no ambiente de trabalho. O adicional é percebido mensalmente e incluído no cálculo do fator previdenciário. Além disso, cada empresa é livre para adoção de políticas que vão desde o fornecimento de cestas-básicas, assistência em saúde e seguro de vida.
Faça orçamentos e pesquisas
Informações da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (Fecomércio) dão conta de que os brasileiros gastam mais dinheiro com a estética pessoal e com o automóvel do que com a própria saúde e a educação dos filhos. Aos consumidores que se acham injustiçados pelos preços praticados, a dica são pesquisas dos valores das peças e do tempo necessário para substituição dos itens em cada tipo de veículo. Por meio destes dados, é possível descobrir se os orçamentos passados pelas oficinas são justos.
Idade da frota nacional
No Brasil, a idade média dos veículos – considerando automóveis, caminhões e ônibus – subiu, para oito anos e oito meses, de acordo com levantamento do Sindicato dos Produtores de Autopeças (Sindipeças), feito em 2014. Os veículos com seis a 10 anos de uso são 26%. Os de 11 a 15 anos, 15%. De 15 a 20 anos, 14%. O volume de carros que deixou de ser usado chegou a 11 milhões ou 4,4% da frota.